Fotos: Farol de Notícias / Manu Silva

Publicado às 05h desta terça-feira (28)

Nesta segunda-feira (27) a área de alimentação do Mercado Público de Serra Talhada reabriu sob as ordens do decreto estadual que liberou restaurantes e lanchonetes para delivery. Em visita aos boxes de comida do mercado foi possível ver na baixa adesão à reabertura e nos depoimentos das cozinheiras que estão insatisfeitas com os protocolos de segurança.

A reportagem do Farol esteve no local e conversou com algumas das comerciantes do mercado. A serra-talhadense Inalda Helena de Barros, 52 anos, moradora do Bom Jesus, tem mais de 20 anos de pratos servidos no mercado público e discordou da metodologia adotada que não favorece a classe de cozinheiras populares.

“Esse período de pandemia foi muito crítico, porque a gente teve que ficar em casa e a gente não tem outra renda, tudo que tem a gente tira daqui. E agora estamos retornando, mas de qualquer maneira está difícil, porque as portas estão fechadas. Não estão liberando acesso a todo mundo e também não está podendo servir aqui na banca, tem que ser quentinha e a maioria das pessoas não querem levar, querem comer no local. Como é que a pessoa vai pegar uma quentinha e comer no meio da rua, ou comer dentro do carro? Propomos para o prefeito que se ele liberasse para as pessoas comerem no local a gente vai se responsabilizar pela higienização. Gostaria que o prefeito ou alguma autoridade local estudasse essa possibilidade. Hoje mesmo só consegui vender um lanchinho de R$ 5”.

Selma de Sá Souza Santos, 44 anos, tem o seu quiosque de alimentação no mercado há 17 anos. Empreendedora dentro do negócio, Selma trabalha junto de sua filha e mais duas funcionárias, mas que após a pandemia não sabe como manter todos os empregos. Segundo ela, as vendas não deverão ser boas para as cozinheiras e mesmo em uma segunda-feira o movimento estava bastante fraco.

“Trabalha eu, minha filha e mais duas moças. Elas não estão vindo porque é o primeiro dia do retorno e estamos vendo como vai ser. Aqui abrange mais pessoas de outras cidades vizinhas e do sítio. Até vem procurar a gente, mas não querem levar a marmita. Eles já tem o costume de vir comer aqui. Eu acho que poderia ir organizando para ir sentando uma ou duas pessoas no banco, depois mais duas e por aí vai. Tivemos orientação de como higienizar tudo, manter o álcool 70 ou o álcool em gel. E é isso, de todos os tempos desses 17 anos o mais difícil é esse aqui. Ainda consegui vender hoje, mas muito menos da metade do que vendia numa segunda-feira. Nem se compara. Não tenho esperança nesse formato de retirada, se vender é muito pouco”, argumentou.

Ainda de acordo com Maria de Jesus Santos, 39 anos, trabalha há um ano no mercado e passou o período de isolamento social fazendo faxinas para ganhar a vida junto com o auxílio emergencial. Para ela, está difícil trabalhar. Enquanto conversávamos outra dona de box chama os clientes na porta isolada com grades oferecendo as marmitas a preços módicos.

“Está sendo péssimo, porque não tem o movimento que a gente esperava. Antigamente tinha movimento, agora é um pinga pinga aqui e lá. Já conseguimos vender algumas marmitas, muito pouco, mas já. Não é como era quando estava aberto mesmo. Enquanto estava fechado eu consegui receber o auxílio e fiz umas faxinas, mas também não era como quando a gente tinha um serviço. Eu acho que não vai dar certo assim, não. Os clientes não aceitam isso,  eles querem sentar, almoçar, conversar um pouco. E podia ter também para eles sentarem, só ficar distante um pouco. Sentava, vamos dizer, duas ou três pessoas longe uma da outra. Depois mais duas ou três vinham. Tem gente que não aceita levar marmita para comer na rua.

Na oportunidade, encontramos com o Secretário de Desenvolvimento Econômico do município, Marcos Oliveira, que fazia uma visita pelos boxes do Mercado Público e conversava com as cozinheiras para saber como estava o primeiro dia de trabalho. Ao Farol, o gestor ratificou que o retorno obedece as diretrizes do decreto estadual para retomada das atividades econômicas nós municípios pernambucanos. E que as cozinheiras receberam orientações para atender seus clientes com segurança.

“Aqui no Mercado Público se concentram as melhores cozinheiras do município, e o público as procura porque a comida é boa e popular, comidinha caseira. Compreendemos que elas não podiam ficar mais sem trabalhar, mas temos que reabrir gradativamente obedecendo o decreto do estado. Tomamos algumas medidas de segurança para garantir que o trabalho não interfira do plano de contenção do novo coronavírus em Serra Talhada. Colocamos grades na maioria das portas, apenas duas estão abertas e com a presença de vigilantes do próprio mercado para não estimular aglomerações, orientamos elas com o uso da máscara, álcool em gel e a higienização do ambiente com mais frequência. Infelizmente, todo o nosso comércio está retomando gradativamente. Mas também estamos criando estratégias para incentivar a compra no delivery aqui no mercado, ações publicitárias com carro de som, nas rádios e o próprio Farol nos ajudando a divulgar a retomada dos vocês de alimentação do mercado”, finalizou.