Reverendo Amilton Gomes de Paula

Do CNN

Após duas semanas de recesso parlamentar, a CPI da Pandemia retoma os trabalhos nesta terça-feira (3) com o depoimento do reverendo Amilton Gomes de Paula, que teria agido como intermediário entre o Ministério da Saúde e empresas revendedoras de vacinas contra a Covid-19. O depoimento do líder religioso estava previsto para o dia 14 de julho, mas foi adiado por questões de saúde do reverendo. Nesta terça-feira, ele comparece à CPI amparado por um habeas corpus concedido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux – Amilton de Paula terá direito ao silêncio parcial, ou seja, poderá não responder perguntas que o incriminem.

Além da oitiva do líder religioso, a CPI deverá analisar cerca de 130 requerimentos que estão na pauta entre eles, o afastamento de Mayra Pinheiro do Ministério da Saúde. A 38º reunião da comissão deve revelar novas articulações do governo e pressão pela demissão de servidores.  Segundo a analista de política da CNN Basília Rodrigues um dos focos da oposição nesta semana é aprovar a convocação do ministro da Defesa, Walter Braga Netto. Com o pretexto de ouvi-lo sobre sua atuação na Casa Civil, no início da pandemia, o ministro é aguardado mesmo para falar de eleições 2022 e os riscos para o pleito, caso o voto impresso não passe na Comissão Especial da Câmara. Senadores, no entanto, devem argumentar que um convite, no lugar de convocação do ministro, seria o mais adequado.

Com a retomada dos trabalhos e o senador Ciro Nogueira (PP-PI) na Casa Civil, o bloco oficializou o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) como novo titular e a indicação de Flávio Bolsonaro para a vaga de suplente. Isso faz com que Heize e Flávio representem o mesmo bloco parlamentar que o relator Renan Calheiros (MDB-AL). As mudanças não impactam a divisão de poder dentro da comissão.

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Acompanhe o resumo da CPI da Pandemia:

  • CPI vota requerimentos antes do início de depoimento de reverendo

A pauta deliberativa da 38º sessão da CPI da Pandemia traz 133 requerimentos, que devem ser votados antes do depoimento do reverendo Amilton. Inicialmente, eram 135 – dois foram retirados de pauta no início da sessão. Por volta das 10 horas desta terça, os senadores pediam a palavra pela ordem para tratar de assuntos relacionados aos requerimentos.

Dos requerimentos em pauta, 41 são de convocação para comparecimento à CPI, 66 são de pedidos de informação, 25 são de quebras de sigilos, um de recomendação, um de pedido de afastamento e o último se trata de um convite para comparecimento à CPI.

Entre os principais requerimentos estão:

 O que pede o afastamento de Mayra Pinheiro do cargo público de Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde;
 O que convoca o ministro da defesa, Walter Braga Netto;
 O que reconvoca Élcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde;
– A convocação de Adolfo Sachsida, Secretário de Política Econômica do Ministério da Economia;
– A convocação de Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente da República;
– O pedido de transferência dos sigilos telefônico, fiscal, bancário e telemático do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros.

O depoente Amilton de Paula está à frente da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah). O órgão atua como uma espécie de ONG e o reverendo é apontado como a pessoa que abriu as portas da Saúde à Davati, empresa que tinha como representante o cabo da Polícia Militar Luiz Paulo Dominguetti, que prometia 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.

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Dominghetti relatou à CPI da Pandemia ter recebido pedido de propina para que o negócio fosse efetivado. O diretor do departamento de Imunização do Ministério da Saúde, Lauricio Monteiro Cruz, afirmou à CNN que a proposta de venda de 400 milhões de doses de vacina pela Davati Medical Supply chegou à pasta em fevereiro pelas mãos do reverendo.

A reunião ocorreu no dia 22 de fevereiro, às 16h, no Ministério da Saúde, mostram documentos aos quais a CNN teve acesso. Segundo Cruz, o líder religioso foi ao encontro levando Dominghetti e Hardaleson Araújo de Oliveira, um oficial da Força Aérea.

Segundo Lauricio, o reverendo Amilton disse que se tratava de “uma ação humanitária” e que poderia ajudar o Brasil a ter acesso a vacinas a “um preço acessível”. Neste mesmo encontro, contou Lauricio, Amilton de Paula fez a oferta de 400 milhões de doses de Astrazeneca, citando uma proposta de “US$ 3 e pouquinho” por dose.

Documentos aos quais a CNN teve acesso mostram que o reverendo encaminhou ao Ministério da Saúde uma proposta para venda de vacinas contra a Covid US$ 1 por dose acima da oferta feita inicialmente pela suposta fornecedora dos imunizantes

A Senah surgiu em 1999 como Senar (Secretaria Nacional de Assuntos Religiosos), segundo o site da entidade. Amilton de Paula se apresenta como reitor da Faculdade Batista do Brasil, membro da Convenção Batista Nacional do Brasil, além de “doutor em ciências da educação”, “membro da Sociedade de Filosofia Medieval”, entre outras referências.

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Dominghetti citou o reverendo durante seu depoimento à CPI da Pandemia. Foi ele quem revelou o suposto pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina, que teria sido feito por Roberto Dias, ex-diretor de logística do Ministério da Saúde. O pedido de propina teria acontecido durante um jantar em restaurante de Brasília – Dias, que chegou a ser preso durante seu depoimento, nega.

Representante oficial da Davati Medical Supply no Brasil, Cristiano Carvalho afirmou durante depoimento à CPI que o líder religioso tinha “ofício” para representar a Davati Medical Supply perante o Ministério da Saúde.

Carvalho também revelou que se encontrou com Amilton de Paula em 12 de março. “Eu estive com reverendo Amilton, Dominguetti, estivemos com coronel Boechat, Pires e Elcio Franco. E com o Coronel Elcio Bruno também”, disse à época.

“Estive no Ministério da Saúde pela primeira vez em 12 de março e antes disso eu nunca tinha fornecido nada pra o Ministério da Saúde. Fui receoso, mas a insistência e os traços de veracidade que chegavam a mim era indiscutível que existia uma demanda [pela compra da vacina]”, disse Carvalho.