Um grupo de crianças e adolescentes foi abordado de forma violenta por policiais militares enquanto brincavam com armas de plástico no bairro São Cristovão em Serra Talhada. É o que alega a família de um dos garotos apreendidos, de apenas oito anos. Ele foi conduzido à delegacia ao lado de outros colegas que também se divertiam na Rua Manoel Tomé de Souza por volta das 11h30, no feriado da última quarta-feira (1º).

A mãe da criança de oito anos, Cristina Valões, procurou o FAROL para denunciar que seu filho está traumatizado com a abordagem policial. Segundo ela, desde que ocorreu o fato, o menino vem tendo crises de choro em casa e na escola. “No colégio, os coleguinhas estão zombando dele afirmando que ele foi preso, que é bandido. Mas ele é só uma criança”, disse, soluçando e lamentando o procedimento de revista. “Eles (polícia) pegaram meu menino pela cintura e pelos braços enquanto ele chorava desesperado”, relatou.

O fato mais intrigante para Cristina Valões é que o seu garoto, junto com outro colega de 14 anos, acabou sendo conduzido até a delegacia, onde foi aberto um boletim de ocorrência contra os pais, que assinaram termo de compromisso de comparecer à Justiça com as crianças para se explicar sobre o caso. A mãe disse que será preciso pagar acompanhamento psicológico para o menor. Ela não quis comentar se vai processar os policiais que efetuaram a abordagem.

Em depoimento, um dos garotos disse que havia comprado os revólveres de plástico na Feira Livre de Serra Talhada de um comerciante conhecido por “Lela”, que havia importado as armas de brinquedo de Caruaru. Quatro delas foram vendidas ao grupo de amigos. Cada uma no valor de R$ 15.

O OUTRO LADO

O FAROL entrou em contato com o comandante do 14º Batalhão de Polícia Militar (14º BPM), coronel Wanderley Carvalho para comentar o caso. Ele concordou que, segundo o relato da mãe do garoto de oito anos, pode ter ocorrido excesso por parte da polícia. E que o caso será apurado. Mas ressaltou que, devido as circunstâncias em que os policiais acolheram a denúncia, a abordagem foi uma medida de cautela necessária. Ele ressaltou que, em boa parte dos casos em que o batalhão é acionado, é por envolvimento de adolescentes em ações consideradas delituosas.

“Nós recebemos uma denúncia anônima de que, naquela rua, alguns adolescentes estavam empunhando armas e apontando para as casas. Diante desse relato a polícia foi acionada preparada até para um caso hipotético de tiroteio. Foi averiguado que os garotos estavam com simulacros de arma idênticos a pistolas. Não digo em relação ao menor de oito anos, que de fato é uma criança, mas no caso do adolescente de 14, foi preciso a condução à delegacia até para não gerar maiores problemas”.