Por Gutemberg Mangueira

A educação brasileira vem amargando uma decadência que nos  preocupa muito em função do descaso dos nossos governantes. Tomando como base apenas os números para  classificá-la como boa ou ruim, eles maquiam a realidade caótica que a desgasta a cada dia que passa.

É mais ou menos assim: 4,2 de IDEB, 97% das crianças de 7 a 14 anos na escola, (56% desses não sabem, sequer, interpretar um texto simples),  bônus para  os professores e dirigentes de escolas que, na verdade, é para animá-los a prestar um desserviço à sociedade: aprovar alunos que não têm condição de ir para a série seguinte, ajudando os governos a esconderem da sociedade o que realmente está acontecendo com a nossa educação, kit escolar para  os alunos, construção e reforma de escolas,etc.  Só tem uma coisa que não conseguem esconder: o irrisório salário que nos pagam.

Acho que daqui a uns 20 anos, não vai mais existir essa profissão. Perguntem aos jovens (os que estudam de verdade) se eles querem ser professor.  Fazem o sinal da cruz. Preferem engenharia, advocacia, medicina, ser policial ou qualquer outra que tenha o mínimo de valorização. Se os políticos continuarem nessa sacanagem, tratando o educador como um idiota fácil de ser ludibriado, um lixo, a extinção não vai demorar muito para acontecer. Governantes e outras autoridades do poder público ligadas à educação precisam deixar de lado, também, a demagogia, que dá nojo, que nos irrita, nos faz sentir palhaços. Sejam fiéis ao que dizem e não ao que pensam. Como podemos formar cidadãos, se a nossa própria cidadania já é comprometida?

O pior nisso tudo, é que alguns dos nossos colegas de trabalho, que não conseguiram fazer o “dever de casa” quando estavam na sala de aula, são cooptados para assumirem cargos de dirigentes, supervisores e coordenadores na educação e passam a ser sujeitos assujeitados desse sistema educacional falido e dos ideais nefastos de políticos que só lembram do professor quando estão num palanque.

Acordem militantes do aleivoso proselitismo e da medíocre tecnocracia educacional brasileira. O mundo não é de vocês! Afinal ainda são professores e lembrem que quando estavam do lado de cá, a voz da opressão ecoava nos seus ouvidos também, a mesma que, hoje, vem orientando suas atitudes com relação aos professores. Por que agora acham simples resolver os problemas de evasão, reprovação, e da falta de interesse do aluno em aprender? Todos sabem que os senhores viviam reclamando de baixos salários e das péssimas condições de produção de ensino.

Tudo melhorou de uma hora pra outra? O discurso governista agora é axiomático? Virou dogma?  É melhor avocarem uma postura menos déspota e reconhecer que isso tudo decorre de situações políticas e socioeconômicas que deságuam no profuso paternalismo da escola pública e que efetivamente são complexas e que é culpa de todos, inclusive de vocês que na sala de aula, fizeram suas lambanças, foram profissionais de atuações repreensíveis.

Ainda há outro grupo de “tecnocratas” que nunca entrou numa sala de aula e quando assume um cargo na educação fica igual a Severino do Zorra Total, dizendo que, desde de criancinha, sabia  o que os professores deveriam fazer para melhorar o  desempenho escolar dos nossos alunos. Só que vira e mexe um desses revela sem querer, a sua incompetência e passa vergonha. Pessoal, vamos ler um pouquinho mais, pesquisar e mostrar soluções factíveis pra não ficar no ridículo do “enrolation”.

O mundo é complexo e entrelaçado de incertezas que nos obrigam a empreender uma luta incessante pela sobrevivência social que infelizmente, em função desse comportamento pífio de gente que não tem nada a ver com educação, e de outros fatores, não se aprende na escola pública, porque tudo nela se conquista sem esforço, sem uma avaliação rigorosa do conhecimento e da habilidade para vida. Um percentual significativo desses alunos quando chega lá fora nas concorrências públicas (emprego e ingresso em universidade) não consegue êxito e sabe por quê? Porque não tem mais a molezinha da escola, o famoso passar a mão na cabeça e deixar tudo rolar.

 Esse cenário nebuloso da educação brasileira-crise programada, segundo Darcy Ribeiro – precisa ser mudado. Mas isso só acontecerá se um dia descerem para o “inferno” as cobras criadas da educação e se erguerem aqueles que vivem a utopia da construção de uma escola que não funcione como um aparelho ideológico do Estado, mas que sirva ao povo, como dizia o filósofo francês Louis Althusser.