Reunião realizada em Serra Talhada em 1947 em apoio a Barbosa Lima Sobrinho

Publicado às 05h30 deste domingo (18)

Diante da construção de narrativas que buscam empurrar a sociedade brasileira pra uma espécie de “caverna mito-sem-lógica” ou uma “idade das trevas”, onde é alardeado que a terra é plana, que a importância da ciência é ignorada, agora a onda é atacar as urnas eletrônicas. Vale registrar que desde que o voto eletrônico foi criado no país não existe nenhuma denuncia de fraude, então tudo que se especular sobre o assunto é na verdade uma grande “fake news”.

Como base em uma perspectiva histórica, o “Viagem ao Passado” deste domingo resgata detalhes de uma das campanhas eleitorais mais controversas do estado de Pernambuco, a eleição de 1947. Essa disputa foi marcada por várias denúncias de fraude. Uma das cidades que apareciam nas listas das supostas irregularidades foi justamente Serra Talhada.

Na imagem destacamos uma matéria do jornal Diário de Pernambuco, do dia 18 de fevereiro de 1947, onde são apontadas irregularidades nas eleições daquele ano. Em várias outras eleições o nome da cidade aparece com citações sobre problemas com urnas. As denúncias apresentadas nos jornais apontavam para a existência de assinaturas falsificadas, votos acima da quantidades de presentes à seção eleitoral no dia do pleito, até “a presença de mortos” na lista dos votantes. Todos os relatos só comprovam a vulnerabilidade do voto escrito.   

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A longa disputa jurídica de 1947 

A eleição para governador de Pernambuco ocorreu em 19 de janeiro 1947. Disputaram a eleição: Barbosa Lima Sobrinho (PSD), Neto Campelo (UDN), Pelópidas da Silveira (PCB/PSB*) e Eurico de Sousa Leão (PR).

O pleito em Serra Talhada foi bastante disputado. Acima podemos ver o encontro promovido por apoiadores de Barbosa Lima Sobrinho, em 1946. A reunião contou com a presença de lideranças políticas e militares de diversas regiões do estado, além de personalidades que residiam na cidade. O anfitrião do encontro foi o Coronel Cornélio Soares, mas quem também marcou presença na reunião foi ex-prefeito do Recife, deputado federal e governador estado, Miguel Arraes. Barbosa Lima também era apoiado por Agamenon e pelo deputado estadual Methódio de Godoy.

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Na época o município era um dos maiores expoentes da política pernambucana, isso porque Agamenon Magalhães, então deputado federal, era uma das importantes lideranças do Brasil, e com forte influência nos chamados “currais eleitorais” que viviam espalhados pelo interior de Pernambuco.

Neto Campelo, candidato da chamada “a coligação” era apoiado pelo fazendeiro e empresário Enock Ignácio de Oliveira. Apesar da falta de estrutura e de um grupo forte, Neto Campelo chegou a realizar um comício na Praça Sérgio Magalhães, em janeiro de 1947, conforme registro do jornal Diário de Pernambuco.

O jornalista e deputado federal Barbosa Lima Sobrinho (PSD), foi eleito com 91.985 votos, uma diferença de apenas 575 votos em relação a Neto Campelo (UDN), que obteve 91.410 votos. Ele só assumiu o mandato em fevereiro de 1948, após mais de um ano do pleito, ficando até 1951. O resultado dessa campanha para governador é considerada como a mais acirrada e polêmica da história de Pernambuco.

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A demora se deu porque o resultado da eleição foi judicializado em função das suspeitas de fraude. Segundos os jornais da época, Diário de Pernambuco e Jornal Pequeno, as principais denúncias de fraudes envolviam as cidades do interior, principalmente as urnas de Serra Talhada.

A homologação dos resultados dessas urnas, pelo TSE, foi decisiva para garantir a vitória do candidato de Agamenon Magalhães, que acabou aumentando a sua a frente em 888 votos, uma diferença de menos de 0,5% entre Sobrinho e Campelo.

Comício de Neto Campelo em Serra Talhada