Do Diario de Pernambuco 

Com a popularidade em queda, ameaçado por pedidos de impeachment e vendo o governo enfraquecido pelas investigações da CPI da Covid, o presidente Jair Bolsonaro recorre cada vez mais a “velha política” — tão criticada por ele durante a campanha ao Planalto. O mandatário abrirá outras frentes no Executivo para domínio do Centrão, de olho no apoio do Congresso para manter a governabilidade. Anunciou, ontem, que reformulará a Esplanada dos Ministérios e deve ampliar a quantidade de pastas. Na próxima semana, possivelmente vai formalizar a recriação do Ministério do Trabalho, atualmente sob o guarda-chuva do Ministério da Economia, além de fazer alterações na composição da Casa Civil e da Secretaria-Geral da Presidência.

Um dos mais próximos aliados de Bolsonaro no Congresso, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) já recebeu o convite para fazer parte do governo. O presidente nacional do PP — principal partido do Centrão — deve assumir a Casa Civil. Luiz Eduardo Ramos, atual ministro da pasta, será remanejado para a Secretaria-Geral, de onde o ministro Onyx Lorenzoni sairá para chefiar o “novo” ministério.
Uma das dúvidas pendentes é sobre qual será o nome da pasta. Há chances de o ministério ser batizado de Emprego e Previdência, visto que o governo estuda retirar da Economia não apenas as atribuições relativas a trabalho. Dessa forma, o chefe da Secretaria da Previdência, Bruno Bianco, seria realocado para algum cargo executivo no governo.
“Estamos trabalhando uma pequena mudança ministerial, que deve ocorrer na segunda-feira, para ser mais preciso, e para a gente continuar aqui administrando o Brasil”, disse Bolsonaro à rádio Jovem Pan. “Temos uma enorme responsabilidade. Sabia que o trabalho não ia ser fácil, mas realmente é muito difícil. Não recomendo essa cadeira para os meus amigos.”
Um parlamentar do PP disse à reportagem que Ciro Nogueira foi convidado para a Casa Civil na última sexta-feira. O senador está em viagem, mas vai antecipar o retorno a Brasília para a próxima segunda-feira. Ele até já comunicou ao presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), a intenção de aceitar o convite.
A reorganização a ser promovida por Bolsonaro fará com que o Centrão assuma o comando das duas pastas palacianas que mais dialogam com o Parlamento. Em março deste ano, o presidente já tinha escolhido a deputada federal licenciada Flávia Arruda (PL-DF) para liderar a Secretaria de Governo, que controla a articulação com o Congresso. A Casa Civil, por sua vez, é considerada o ministério mais importante e o “coração” do Executivo, pois por ela passam todas as decisões e pautas relacionadas ao Planalto.
Agora, com Ciro Nogueira na pasta, Bolsonaro dará mais liberdade para o Centrão indicar quais devem ser as prioridades do governo, em especial, no que diz respeito ao Orçamento. O fato de o senador ser considerado uma pessoa conciliadora e que mantém um bom relacionamento com os demais parlamentares agrada aos partidos de centro que estão na base aliada do chefe do Executivo.
Sobrevivência
Ao abrir mais espaço para o Centrão, Bolsonaro busca manter a governabilidade até as eleições do ano que vem. Ao possibilitar que parlamentares indiquem recursos para obras e investimentos em seus redutos eleitorais, Ciro Nogueira tentará ampliar o grupo de sustentação do presidente no Parlamento.
Como ele será o primeiro senador a assumir um ministério nesta gestão, quer diminuir a resistência que existe no Senado contra o mandatário. A Casa legislativa foi a principal responsável pela desidratação da imagem de Bolsonaro nos últimos meses, muito por conta da CPI da Covid, que investiga, entre outros temas, casos de corrupção dentro do Executivo em meio à pandemia.
Em outra frente, diante dos constantes pedidos da oposição para que a Câmara comece a analisar pedidos de impeachment contra Bolsonaro, Nogueira trabalhará para mitigar qualquer risco de as solicitações prosperarem. Em conversas com aliados, o senador afirmou querer ser uma “ponte” entre o Planalto e o Congresso. Além disso, ele tem, no comando da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
A chegada de o senador ao governo ainda deve colocar um fim na busca de Bolsonaro por um partido para disputar as eleições do ano que vem. Depois da frustração com o Patriota, ele pode fechar com o PP e voltar à legenda, em que esteve filiado entre 2004 e 2015. Por mais que alguns integrantes do partido resistam à ideia, a participação do presidente da sigla no governo pode amenizar o cenário e viabilizar o retorno do chefe do Executivo. (Colaborou Sarah Teófilo)
Promessas ignoradas
Na campanha de 2018, o então candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, havia prometido não ceder a pressões políticas por cargos nem lotear a equipe. Eleito com um discurso de enxugamento da máquina pública, o mandatário também anunciava uma Esplanada com apenas 15 ministérios. Com a pasta do Trabalho, ele terá 24, nove a mais do que o prometido. Trabalho e Emprego será o segundo ministério recriado por Bolsonaro para acomodar a base aliada. No ano passado, o presidente havia relançado o Ministério das Comunicações para nomear o deputado Fábio Faria (PSD-RN), que está de malas prontas para o Progressistas.
Os casos de Onyx e Ramos
Desde o início do governo, Onyx Lorenzoni já mudou três vezes de ministério: foi chefe da Casa Civil, comandou a pasta de Cidadania e está à frente da Secretaria-Geral da Presidência. Dirigentes do Centrão avaliam que o ministro só trabalha para construir a candidatura ao governo do Rio Grande do Sul, em 2022, e não ajuda na articulação.
Além disso, a percepção desses aliados é de que a forma como ele atacou o deputado Luis Miranda (DEM-DF) — que acusou o governo de acobertar um esquema de corrupção na compra da vacina Covaxin — provocou efeito bumerangue e acabou agravando a situação de Bolsonaro na crise.
Lorenzoni tem muitos desafetos no Centrão e não são poucos os que dizem que ele tem exposto o governo a situações vexatórias. Em março, por exemplo, disse que lockdown não funciona para frear a Covid-19 porque insetos podem transportar o vírus.
Por sua vez, o general Luiz Eduardo Ramos vem sendo apontado por governistas como o ministro que deu informações erradas a Bolsonaro sobre a votação do fundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões, na semana passada, fazendo com que o mandatário acusasse o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), de “atropelar o regimento” na votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e o chamasse de “insignificante”. Depois das críticas, Marcelo Ramos, que, publicamente, mantinha posição neutra em relação ao Palácio do Planalto, se declarou na oposição e agora está analisando os mais de 100 pedidos de impeachment contra o chefe do Planalto.
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