Foto: Farol de Notícias/Max Rodrigues

Publicado às 10h25 desta terça-feira (11)

A enfermeira serra-talhadense Jozyeda Pereira, a ‘Jô’ do SindSaúde’, que trabalha no Hospital Regional Agamenon Magalhães (Hospam), abriu o coração durante entrevista nessa secunda-feira (10), durante o programa Falando Francamente, na TV Farol. Ela foi positivada com o Covid-19, viveu um processo de ‘reclusão familiar’, e após se recuperar teve que retornar à luta diária. Quando passou a sentir os primeiros sintomas, Jô teve receio de passar a doença para seus dois filhos e irmãos, e acabou revelando que sintomas psicológicos ainda persistem.

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“Tantas coisas passam na cabeça da gente quando a gente adoece, principalmente dessa doença, porque a gente já gripou, teve sarampo, teve tantas outras doenças e a gente não ficou com o psicológico da gente está com essa doença, porque a gente vê que deveria ter uma vacina, não estamos protegidos, fomos vacinados esse ano, isso poderia ter acontecido há um ano, a gente sabe que o presidente [Jair Bolsonaro] não facilitou as coisas, infelizmente muitas pessoas morreram, colegas, meus familiares, e isso deixa a gente com aquele medo de ir embora, sabendo que você fez tudo pra não pegar, não tem jeito, a gente usou todos os EPIs, tivemos todos os cuidados, mas, dentro de uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) por mais cuidado que você tenha, os dados não me deixam mentir, que muitos profissionais adoeceram e morreram, outros estão debilitados, porque essa doença deixa a gente debilitada”, disparou a enfermeira.

DISCRIMINAÇÃO

Ainda durante a entrevista, Jozyeda Pereira acabou revelando um outro viés da covid-19: a discriminação, inclusive, da própria categoria, e de parte da classe médica. Mesmo assim, ela tem boas lembranças do apoio e ajuda familiar que recebeu.

“É triste passar por essa doença, porque quando você está doente as pessoas te discriminam. Eu trabalhei em novembro, quando foi dezembro eu tirei minhas férias, quando foi no terceiro dia eu cai gripada e dessa gripe eu evolui para o covid. O que aconteceu é que a gente não tem aquele respaldo, infelizmente, de todos os colegas de trabalho, até a própria classe médica não quer acreditar que a gente tá doente, então isso não foi bom para mim, eu me senti muito triste, eu tive um melhor acompanhamento, um melhor atendimento no Pronto Socorro São José, eles me acolheram, está sendo um trabalho incrível esse do pronto socorro, tanto com a medicação, lá eu fiz o teste e passei 20 dias sentindo, por pouco eu não fui internada”, pontuou.

Segundo Jô Pereira, também não foi nada fácil retomar a normalidade do cotidiano. “Foi muito difícil e muito difícil também foi voltar a trabalhar, fica aquele cansaço, o cabelo caiu demais, aquela dor no corpo eterna, de todos os sintomas eu só não senti a falta de olfato e de paladar, mas o resto eu senti”.

CATEGORIA CONTAMINADA

Ainda durante a entrevista, Jozyeda relatou que o vírus da covid-19 já fez baixa em boa parte da categoria, que sem alternativas, precisa voltar ao leitos de hospitais e enfermarias.

“Eu acredito que boa parte da categoria já pegou, muitos passaram por sintomas leves, outros com sintomas um pouco mais pesados. Tive uma colega que sofreu muito, quase foi entubada, graças a Deus ela escapou, está bem, a gente fica com aquele medo de pegar de novo, porque a gente  não está livre de pegar de novo. Você teve o covid, você tem que se resguardar, mesmo porque existe uma nova cepa muito mais agressiva do que a primeira, a gente está trabalhando hoje (com a capacidade), diminuímos o ritmo, porque estava muito acelerado, a gente estava muito ansioso, hoje o pessoal já está mais calmo, já tem mais um conhecimento do que é o covid e também a questão dos EPIs, hoje não tem mais tantos EPIs como a gente tinha, a gente tem que trabalhar se adequando ao sistema que é falho, um sistema que não atende perfeitamente ao usuário, às vezes falta medicação, às vezes falta até leito mesmo que era o que não deveria faltar”, lamentou.