FAROL recebeu em nossa redação, na manhã desta segunda-feira (20), o diretor do espetáculo ao ar livre ‘O Massacre de Angico – A morte de Lampião’, José Pimentel, e a atriz e cantora Roberta Aureliano, que interpreta a cangaceira Maria Bonita. Numa conversa descontraída com o editor Giovanni Sá, a dupla deu detalhes dos preparativos e novidades que a peça vai apresentar ao público este ano. Pimentel comenta ainda assuntos considerados polêmicos sobre os atos de Lampião e a comparação de que a peça tenta montar a ressurreição do cangaceiro como na Paixão de Cristo. O ‘Massacre’ acontece de 22 a 26 de julho na Estação do Forró em Serra Talhada. Vale a pena conferir!

ENTREVISTA – JOSÉ PIMENTEL 

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FAROL: Pimentel, bom dia. Seja bem-vindo a redação do FAROL DE NOTÍCIAS. Inicialmente queria agradecer sua presença e falar sobre o espetáculo Massacre de Angico que vai começar nesta quarta-feira (22), em Serra Talhada. Você dirige há quatro anos e qual é a novidade para 2015 nesse espetáculo?

José Pimentel: O povo sempre quer novidade, né? Na Paixão de Cristo, qual a novidade? E eu digo: ‘Rapaz, esse ano eu vou matar Judas na cruz e Cristo vai ser enforcado’. A novidade maior é que o espetáculo no quarto ano, os atores estão fazendo isso, repetindo tudo isso, vai melhorando a qualidade do espetáculo. Isso já é, para mim, uma grande novidade. As pessoas que viram o espetáculo nesses outros anos vão ver um espetáculo diferente, porque o talento dos atores, junto com a experiência que você vai acumulando tende a mostrar um espetáculo novo. A gente melhora a partir da visão do vídeo que é feito todo ano, a gente tem uma noção dos defeitos e das qualidades do espetáculo. As qualidades a gente vai aprimorando e vai tirando os defeitos.

Então, a cada ano, o espetáculo é melhor. A grande novidade, para quem já viu o espetáculo nesses três anos, é que vai ver um espetáculo novo. Novo não na tessitura desse espetáculo, vai ver um espetáculo novo na melhoria de interpretação dos atores. O talento é o mesmo, mas a partir de cada ano você cria um gesto novo, uma nova postura, uma nova maneira. Não dá voz por que ela está gravada e será dublada, mas na interpretação ela melhora. A iluminação esse ano está melhor, as pessoas vão ver efeitos novos de iluminação, o som foi melhorado, então, essas são as grandes novidades. E tem o final do espetáculo, das máscaras, foi também um pouco modificado, até para melhor assimilação pelo público. As pessoas que trabalham nesse momento vão ser melhor vistas. Então, são as novidades.

FAROL: Mas no ano passado foi muito comentado a história da ressurreição de Lampião, que foi uma novidade. Então, caiu na boca do povo essa ressurreição. Foi por isso que eu comecei perguntando a você se iria ter alguma coisa diferente do ano passado.

José Pimentel: Não é nem ressurreição aquilo, muita gente imaginou que fosse, não tem nada de ressurreição. É um efeito teatral, quase que uma prestação de contas de Lampião. Lampião para uns é heroi, para outros é bandido. Eu fico no meio, para mim não é nem herói nem bandido, é uma figura que não pode ser esquecida, faz parte da história de Serra Talhada, da história do Brasil. Daqui há 200 anos ainda vão falar de Lampião. Eu acho que ninguém nunca conseguiu tantos filmes, tantos livros, tantos estudos como esse cangaceiro Lampião. Então, não custava nada a gente fazer uma coisa diferente naquele momento. Como eu faço a Paixão de Cristo, acharam que eu estava ressuscitando Lampião. Não é exatamente isso. O autor aí é Anildomá, ele é apaixonado por Lampião e queria mostrar a paixão no espetáculo e eu segui o pensamento dele, eu não ia transformar Lampião em um bandido naquela hora. Eu tinha que cumprir o que está lá no texto.

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A subida no elevador do Lampião lembrou a história da Paixão de Cristo, não tem nada a ver, não. É um efeito bonito, porque não fazer. Se eu pudesse fazer ele subir de verdade eu fazia. Eu estou aqui para fazer teatro, para criar efeitos, não para ficar pensando: ‘Ah! Isso vai agradar a um ou a outro’. Eu faço para agradar o povo, o povo gostou de ver aquilo ali. Vou melhorar! Ano que vem o elevador vai ser mais alto, vai subir mais, esse ano ele já sobe mais um pouquinho.

Pronto! É uma novidade, esse ano ele sobe mais um pouco. Se não tiver cuidado ele vai direto lá. Essa é a novidade, mas a novidade maior mesmo é que você vai ter nova iluminação, você vai ter um som melhorado, você vai ter uma melhor interpretação de atores e atrizes do espetáculo, e de figurantes também.  A gente pensa que só tem ator e atriz, mas tem figurante também, mas para mim figurantes são também atores e atrizes. Isso vai melhorar muito, a própria experiência da gente de tá fazendo o espetáculo há três anos, já vai para o quarto ano, isso é uma grande novidade.

FAROL: Aqui na cidade e na região, se critica o fato do município estar insistindo nessa história do resgate da cultura do cangaço, da figura de Lampião, até como viés turístico. Anildomá sofre, por exemplo, um monte de pancada que aqui e acolá, alguns críticos acham que a cidade teria outros meios, fazem até a famosa apologia da violência. Como é que você vê essas pessoas que pensam dessa forma? Você acha que elas estão na contramão desse pensamento?

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José Pimentel: Não! Luiz Gonzaga há muitos anos fez uma música onde ele diz que os Lampiões estão por aí. Eu acho que piores que Lampião, para assaltar bancos, assaltar pessoas, roubar cargas de caminhão. Os ‘engravatados’ e ‘empalitozados’ estão roubando ai a torto e a direita, que no Brasil eu não sei onde é que eles vão conseguir, vão tirar tudo do Brasil. Brasil é um país rico, porque estão roubando há tanto tempo e ainda não conseguiram acabar com o Brasil. Essa era ‘internética’ criou um bando de imbecis. Não criou, existir eles já existem, apenas eles afloraram.  O que tem de imbecil usando a internet e dando opinião, porque todo mundo agora entende de teatro, entende de música, entende de finanças, de economia e não entende nada. É um bando de imbecis.

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Humberto Ecco escreveu na revista Veja, nas páginas amarelas, tem uma entrevista. Eu não me lembro quando, mas tem algumas semanas e ele disse que milhões de imbecis agora se apresentam. Você entra no Facebook, eu detesto aquilo, detesto celular, porque agora a gente não conversa mais com ninguém. Eu sento contigo e tu está lá mostrando porcaria que sai, infestam tudo de porcaria. São uns imbecis que agora dão opinião em tudo, eu não ligo para aquilo, opinião de internet para mim não interessa. Interessa a opinião do povo, quando o povo vai ver o espetáculo e aplaude e gosta do espetáculo e volta para ver isso para mim é o que vale. O que vale para mim é está com um grupo de atores que acreditam naquilo e a gente está fazendo o espetáculo.

Por que esses que criticam tanto não cria alguma coisa, pega algum detalhe da história de Serra Talhada e mostra? Anildomá mostrou, está aí e é um sucesso e eles vão ficar se corroendo de inveja e isso também é natural, hoje em dia todo mundo que aparecer, quer aquele instante para aparecer na internet na televisão. Não consegue, e vão se corroer de inveja, de pruridos até anais e eu não estou ligando para isso, não. Eu quero fazer teatro, eu não gosto de política, política com P minúsculo, que é o que a gente faz no Brasil. A ciência política é outra história, outra coisa. Essa politicagem, eu não curto isso não, eu sou um artista, sou um ator, um diretor. Quero fazer teatro, quero fazer cinema, quero fazer coisas para deleitar e informar o povo de maneira correta, não porque eu agora meu momento de fama. Eu não quero isso mais não. Quando eu tenho esse pedacinho eu vou curtindo esse pedacinho.

FAROL: Zé, voltando ao espetáculo. Você acha que o Massacre de Angico está consolidado, ele tem vida longa, está qual a Paixão de Cristo em Recife, a de Nova Jerusalém? não tem risco desse espetáculo parar?

José Pimentel: É isso que está doendo nessas pessoas, nesses imbecis. O espetáculo está consolidado para mim. No primeiro ano, eu disse: ‘A gente está criando o maior e melhor espetáculo do Sertão nordestino’. Eu não conhecia os outros sertões, não tinha conhecimento, agora eu já disse, depois de três anos fazendo o espetáculo e desse quarto ano que vai ser um sucesso, eu posso dizer tranquilamente que Serra Talhada agora tem um evento turístico que tem tudo para se tornar um espetáculo como o de Nova Jerusalém, como a Paixão de Cristo de Recife, porque está sendo feito por pessoas que entendem, por grandes atores e atrizes, por uma produção eficientíssima que é de Anildomá e Cleonice.

Vai ficar! E isso é o que está doendo, porque a inveja bate ‘eles estão fazendo esse troço’. Vai vir muita gente para ver, os hotéis a cada dia enche mais, as pessoas já têm uma divulgação do espetáculo em Recife e em outras cidades de Pernambuco. Daqui a pouco isso sai, já deve ter saído das fronteiras do estado, daqui a pouco você cria um fluxo turístico. Por conta que você não pode apagar a imagem de Lampião, você não pode tirar de Serra Talhada a imagem de Lampião, como você também não pode tirar o Cristo da história da humanidade. Então, quem fizer uma Paixão de Cristo é sucesso, quem fizer alguma coisa sobre Lampião também vai ter sucesso. Anildomá fez de forma eficiente, como se deve produzir teatro e está aí o resultado. Morram de inveja!

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FAROL: Para finalizar, você virou garoto propaganda. Eu estava assistindo televisão e de repente você entra no meu quarto me chamando para assistir o espetáculo. Você virou garoto propaganda. Eu queria aproveitar essa última pergunta para você fazer um chamamento para os leitores do FAROL para assistirem o espetáculo, a partir de quarta-feira.

José Pimentel: É rapaz, de repente eu virei. Eu nem gosto daquilo, eu estava com umas olheiras, mas não tem jeito, olheira eu tenho mesmo. O que eu posso fazer? Eu não me maquiei para fazer aquilo. Foi uma forma que Anildomá descobriu de fazer uma chamada do espetáculo. Eu aproveito para chamar todas as pessoas de Serra Talhada e até onde chega o FAROL de vocês, venham ver o espetáculo. Se falaram mal pode acreditar que foi inveja, o espetáculo é bonito, é grandioso, tem excelentes interpretações de atores e atrizes e até de figurantes. Efeitos luminosos, efeitos de som, tudo foi feito para agradar o povo, agradar no bom sentido. E rever essa história de Lampião, tira essas bobagens da cabeça. Lampião é uma figura lendária, é uma figura que é de Serra Talhada e vai ficar, não adianta. Vocês não vão apagar a história de Lampião nunca.

Venham ver mais uma história sobre Lampião. A última noite de Lampião, não é só isso que vocês vão ver, não. Vão ver uma cena no Palácio do Catete, de Getúlio Vargas, onde ele determina que Lampião tem que ser dizimado. Vão ver uma história que se conta sobre Lampião, a história do sal. Que é para mostrar o outro lado de Lampião, o lado justiceiro, o lado bom. Quando ele acaba essa história do sal ele diz que não deveriam fazer isso com ela, ela preparou um jantar para a gente, a comida estava sem sal, mas não custava nada.  Ele agradece e ainda dá um dinheiro a mulher e depois comenta com os cangaceiros. É um lado bom de Lampião, ele tem um lado bom, um lado ruim. Ele deve ter tido, todos nós temos. A gente não é perfeito e nem eu queria, se eu fosse perfeito eu era muito chato. Eu quero ser essa coisa, essa mistura de perfeição, de pecado, de coisas boas. Então, venham ver o espetáculo, de 22 a 26 de julho em Serra Talhada.

AVISO AOS LEITORES:

Por questões de edição, essa entrevista será dividida em duas partes onde, na segunda delas, iremos publicar apenas a nossa conversa com a talentosa atriz Roberta Aureliano.