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Fotos: Farol de Notícias / Manu Silva

Os jovens Adriano Muniz e Ednei Sintra, ambos de 18 anos, procuraram o FAROL, nesta sexta-feira (23), para explicar a versão deles sobre o assalto a uma loja de eletrônicos (relembre) que ocorreu esta semana em Serra Talhada. Segundo eles, tudo não passou de um mal entendido onde eles acabaram sendo envolvidos num crime que nunca quiseram fazer parte. Confiram!

ENTREVISTA ADRIANO MUNIZ E EDNEI SINTRA

(Com apoio de Manu Silva)

FAROL: Qual o objetivo dessa visita de vocês a redação do FAROL? O que vocês têm a explicar à sociedade sobre o caso que ocorreu essa semana?

ADRIANO: Viemos aqui para explicitar o ocorrido e esclarecer, porque nós estamos sendo julgados pelos fatos e não pararam para realmente entender o que aconteceu. Embora a gente esteja com receio disso ter consequências para a gente.

FAROL: Na versão de vocês, o que de fato aconteceu no dia do assalto à loja. A polícia chegou a divulgar a foto de vocês para a imprensa, o que de fato ocorreu?

EDNEI: A gente conheceu ele (o de menor de idade), mas não temos intimidade com ele. É o rapazinho de menor. A gente conheceu ele na Concha (Acústica), andava lá com ele. Por acaso a gente conheceu a casa dele, eu fui lá uns dois dias, conversei com ele, conheci os pais dele. Na rua, a gente quando desceu com ele paramos em um ponto de moto-táxi e ele disse: ‘espera aí que eu vou aqui pegar o resto do dinheiro’.

E beleza, ficamos esperando. Ele deixou o boné e um cigarro que ele estava na orelha com a gente. Depois de uns cinco ou seis minutos voltou e falou: ‘vamos lá comprar’. Quando íamos entrando na loja, ele já foi pegando as armas e disse: ‘isso é um assalto’. A gente ficou gelado, o rapaz começou a chorar e eu fiquei parado.

Ele ameaçou, mandou colocar e eu fiquei parado. Quando ele falou: ‘bora, coloca as coisas nessa bolsa’ e eu coloquei na bolsa. A gente estava com uma bolsa porque íamos para a biblioteca, a bolsa era dele (Adriano), ele estuda lá e vai direto e eu ia com ele. Quando a gente encontrou ele (o menor) ia à loja comprar o celular e depois voltava. Chegando lá deu nisso tudo aí.

FAROL: Como tudo aconteceu? E depois como vocês saíram de lá?

EDINEI: Quando a gente foi descendo perto da Imaculada, estávamos perto de uma loja de bolsas e ele (o menor) mexendo aqui (na cintura) e eu perguntei o que era aquilo, ele me deu um tapa. Eu perguntei se ele estava armado e ele disse que não, e eu achei que não porque o cabo fica para fora. E eu fui com muito medo, porque fiquei achando que ele estava armado. Achei que fosse uma faca, mas quando chegou lá (na loja). Eu não ia nem entrar na loja, quando eu botei o pé, eu pensei em voltar e imaginei ele perguntando: ‘ei, você vai para onde’ e dar um tiro em mim. Por isso que a gente não saiu correndo e antes de colocar as coisas dentro da bolsa eu fiquei parado. Ele ameaçou e o dono colocou a mão na cabeça e eu fiquei parado. Ele falou: ‘Bora, coloca as coisas ai dentro’ e eu fiquei nervoso. Ouvi um cara falando sobre o assalto e eu sai correndo.

ADRIANO: Eu saí normal, saí caminhando. Fiquei lá com o pessoal um tempo, mas depois fiquei pensando que o pessoal ia acabar achando que era teatro. Eu fui o primeiro a chegar lá, eu que realmente falei que era para a minha namorada e eu queria realmente um celular, estava necessitando. Eu dou aula de reforço sempre que tenho oportunidade. Então, eu saí, peguei um moto-táxi. A gente foi lá na casa dele (do menor), eu não entendia mais nada. Chegando lá eu fiquei apavorado, ele estava com uma arma de fogo embaixo do travesseiro e estávamos com medo dele chegar a qualquer hora e atirar na gente. E eu estava com muito medo e pena, porque os avós dele são pessoas de bem, trabalhadores e ele fazer isso.

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FAROL: No caso, foi o menor que pegou vocês de surpresa e envolveu vocês no crime… Ele quem arquitetou tudo sem vocês saberem de nada?

ADRIANO: Exato, nesse caso ele pediu para que eu fosse primeiro na loja. Eu também tinha o interesse de comprar um celular, estava querendo comprar um celular para uma menina. Falei até que era minha namorada, mas na verdade eu queria namorar ela e queria comprar um celular para ela. Então, ele chegou com o Ednei, obrigou o Ednei a ir com ele, chegou na loja e anunciou o assalto. O rapaz se desesperou e eu também me desesperei, fiquei com medo. Ele colocou a arma na minha cintura, aí o Ednei fugiu apavorado e eu fiquei um pouco apavorado.

Mas aí eu pensei que as pessoas iam desconfiar que eu também fazia parte e no outro dia eu fiquei sabendo que as câmeras tinham pego e acharam que era formação de quadrilha. Ele pediu que ele colocasse esses produtos na nossa casa e escondesse esses produtos na nossa casa. Os tablets e os celulares, tanto na minha quanto na de Ednei, ele ameaçou a gente. À tarde ele ameaçou a gente. Fomos ameaçados de morte por ele caso a gente não colocasse, não escondesse esses produtos seríamos ameaçados de morte. Mas esses produtos não eram nossos, ele queria revender e prometeu dar um lucro para a gente por tudo isso. Eu fiquei apavorado com tudo isso.

Eu estava em casa, estava com uma roupa para dormir e tomar banho. Fui surpreendido pelo polícia, também não reagi. Entreguei os produtos e agradeço também a compreensão da polícia que depois entendeu e ficou com pena da gente. Eu sou estudante, sou vestibulando, sou de família humilde, mas sou trabalhador. Estou me preparando para o Enem, agora nos dias 24 e 25 eu vou fazer o Enem. Fazia faculdade na UFPE em Recife, nunca precisei pegar nada de ninguém. A gente foi surpreendido e está sendo julgado por toda a cidade. O meu antigo colégio, o Erempac, estudei lá durante três anos e estou muito triste, não tenho mais nem lágrimas para definir isso.

Todos me julgando, os professores me julgando, os meus amigos. Eu não estudo mais lá, terminei ano passado e está todo mundo desse jeito, porque eu sei a minha versão da história, eu sei o que eu falei, mas a sociedade não entende isso. Eles não param para perguntar porque isso aconteceu. Eu vou fazer vestibular para Medicina, pretendo fazer medicina, mas depois desse descontrole e tudo tenho quase certeza que não vou ser mais aprovado, mas vou tentar mais uma vez, se Deus quiser.

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FAROL: Vocês mantiveram comunicação com o colega de vocês, o menor?

ADRIANO: Não, eu não tenho mais comunicação com ele.

EDNEI: Ele me ligou ontem (quinta) e eu perguntei o que ele queria e ele me disse: ‘oh, o que estiver precisando fale comigo…’ e eu falei a ele que não queria mais nada da parte dele. E de todo jeito parece que a gente vai descer para o presídio. É muito ruim aquilo. A gente passou nove horas trancados em uma cela na delegacia, só de cueca, com comidas nojentas.

ADRIANO: Além de tudo isso ainda tem a humilhação que a gente passou e tudo, até que eles pudessem compreender o nosso lado, a gente foi preso, ficou durante nove horas, a questão do medo. Ficamos na delegacia, a gente recebeu muito o apoio de alguns policiais, temos muito a agradecer a alguns policiais. Principalmente o agente Adriano, que nos ajudou bastante e foi muito compreensivo. Ele me conhecia e viu que eu não tinham jeito de bandido, não sei atirar, nunca tinha pego em uma arma, nunca peguei em uma arma. Achei até que era de brinquedo, porque a arma parecia ser de brinquedo. Isso tudo ocorreu na minha vida e foi muito de repente, foi uma tristeza para os meus pais. Além de tudo a gente teve que disponibilizar dinheiro que a gente não tinha condições. Foi uma situação triste realmente.

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FAROL: Vocês não acham que foram omissos com o caso? Digo, assim que levaram os objetos para casa, não eram para ter procurado a polícia?  Chegaram a pensar nisso?

ADRIANO: A gente realmente pensou em denunciar esses produtos, mas ele (o menor) estava com uma arma de fogo em casa, a gente tinha medo. Ele sabe onde encontrar a gente e estávamos com medo dele matar a gente. Muito medo. Eu ainda estou com medo de estar falando isso aqui e ele chegar e matar a gente. Realmente a gente está assustado.

EDINEI: Eu falei com um amigo meu e ele me disse: ‘por que você não pegou isso aí e jogou?’. E eu falei para ele que se eu jogasse, a polícia ia aparecer em casa e ia bater em mim bastante e me prender na hora. E quando eles (policiais) chegaram eu entreguei e disse que estava tudo aqui, não escondi nada.

FAROL: Vocês achavam que a polícia não ia descobrir?

ADRIANO: Eu estava com muito medo realmente, quando eu estava lá (na delegacia) eu achei realmente que a gente ia ser preso, mas foi garantido para a gente que não seríamos presos, tanto por ser réu primário e tudo. E a gente não tinha como comprovar, as câmeras pegaram a gente, estávamos realmente lá. Isso é um fato e eu fiquei muito triste, o dono da loja ficou achando que era teatro da minha parte, por ter perguntado. Eu estava com tanta vergonha, estava morrendo de vergonha. Até o meu traje, porque eu estava com uma bermuda e uma camiseta e estava com um traje que dava até a entender que era de bandido. Foi uma vergonha para minha família, meu pai é um homem de bem, minha mãe também. A gente não tem nenhum antecedente criminal na família.

FAROL: Vocês se arrependem…

ADRIANO: Muito arrependido, eu realmente fiquei com medo de perder minha vida, mas eu deveria ter procurado a polícia e pedido segurança a eles para me tirarem da cidade, me colocarem no batalhão, em algum canto. Não deveria ter guardado esses produtos em casa, porque eu sabia que mais cedo ou mais tarde ele ia lá cobrar os produtos e eu teria que devolver. Ou de fato, a polícia ia chegar e fazer isso. Eu estava me sentindo mal. Nesse mesmo dia ocorreu que eu e Ednei fomos fazer currículos e imprimir. Eu imprimi o boleto do Enem e estava me preparando. Ia fazer uma redação a tarde e nem tive tempo de fazer redação ainda e fui surpreendido com isso.

A vizinhança, o meu pai não sai de casa, a minha mãe está na maior tristeza do mundo, o meu irmão que mora em São Paulo está triste. Toda a família triste achando que a gente realmente fez isso. A gente conta a nossa versão, mas as pessoas ainda ficam achando: ‘por que você ficou guardando esses produtos em casa? Porque você não denunciou?’. Essa é a questão? Eu ainda tentei explicar para os policiais, mas eles agiram de forma correta e logicamente teriam que averiguar, pegou a gente com os produtos e tinha que levar a gente para a delegacia. Fizeram o papel deles e eu agradeço por isso. Eu aprendi a lição.

EDNEI: Eu estou muito arrependido, porque isso aí eu nunca precisei disso na minha vida. Eu sou pobre não tenho nada, mas eu não preciso nem de celular porque comprei o meu esses dias e a questão da cadeia, eu estou muito nervoso de descer para lá. Eu tenho depressão e tenho asma, não consigo ficar em um lugar assim que fico sem ar, igual aqui, já estou sem ar.

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FAROL: E agora, onde está o colega de vocês, o de menor? 

ADRIANO: Ele está em casa.

EDNEI: Eu não quero nem conversa com ele.

ADRIANO: De fato a minha família não quer nem que eu saia de casa, está com medo que aconteça alguma coisa comigo. Meu pai ficou desesperado ontem quando fui na casa do Ednei, ele não queria que eu saísse. Eu não posso sair de casa. Hoje saí para resolver os problemas, tirei minha carteira de trabalho e fui falar com o Dr. Gilson Pereira. Agradeço muito a ele, ele tem ajudado muito e agora é só ter fé em Deus e cabeça erguida. É difícil porque as pessoas olham torno para você na rua, as pessoas não entendem isso e eu espero que através desse meio de comunicação as pessoas vejam a gente de outra forma, que fomos vítima disso e infelizmente estávamos no local errado, na hora errada e com a pessoa errada.

EDNEI: A vó dele e o vô chegou a falar para mim que do jeito que eu fui lá duas vezes, conhecia ele, fui eu que tinha colocado ele no meio. O pessoal da delegacia estava achando porque eu sou o mais pobre e por isso coloquei tudo na cabeça deles. Ficaram achando que eu era o cabeça e na verdade o bandidão é ele (o de 16 anos). Não precisa nem eu falar, porque o pessoal da delegacia sabe quem é, já está conhecendo também por outras coisas que ele vem fazendo, mas a gente não sabe.

ADRIANO: Até mesmo por mensagens suspeitas no celular dele, as pessoas sabem que ele é envolvido com drogas, que ele é envolvido com o pessoal marginal daqui de Serra Talhada. E a gente está nessa situação, com vergonha de sair na rua, a gente não pode arrumar um emprego. Corre o risco de não conseguir, porque a sociedade acha que a gente é marginal, de fato. A gente vê necessidade de ter que sair da cidade e tudo, eu tinha uma vida aqui, minha família é daqui e eu realmente fiquei desesperado com isso. Até agora a ficha caiu, mas eu realmente me arrependo muito de ter guardado esses produtos em casa. Eu sabia, mas estava tão transtornado que nem imaginei que a polícia ia chegar. Achei que ele ia pegar essas mercadorias e sumir. Ele não é daqui também, mas foi recomendado pela própria polícia que ele saísse e parasse com isso. Eu espero que ele se arrependa, porque ele é um rapaz jovem, um rapaz de boa aparência. É uma ótima pessoa.

EDNEI: Ele não tem precisão de fazer isso, a avó dele tem uma loja de calçados, a família tem dinheiro. Ele não precisava disso.

ADRIANO: Eu acredito que deveria ser feito exames nele, acredito que ele tenha problemas psicológicos para um jovem como ele.

FAROLQue lição vocês tiram disso?

ADRIANO e EDNEI: Estamos arrependidos porque somos pessoas do bem, nunca nos envolvemos nesse tipo de coisa e queremos dizer à sociedade que não nos julguem, porque acabamos envolvidos numa situação onde nós mesmos não sabíamos que íamos entrar, foi tudo muito rápido.