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Na tarde desta segunda-feira (26), o menor V.B.O, de 16 anos, procurou a redação do Farol do Notícias para rebater a versão dos jovens Adriano Muniz e Ednei Sintra (leia), ambos de 18 anos, suspeitos de envolvimento no assalto a uma loja de eletrônicos em Serra Talhada, na semana passada (relembre). O garoto chegou acompanhado de um responsável, trazendo a sua avó de 66 anos, que testemunhou toda a conversa com a nossa reportagem. Durante a entrevista, V.B.O reconhece que não é inocente e assume uma parcela da culpa, mas divide a responsabilidade com os outros dois parceiros. Confira!

ENTREVISTA – V. B. O., 16 ANOS

Com apoio de Manu Silva

FAROL: V.B.O, o que te motivou a buscar à imprensa? Qual é a sua versão da história em que dois de seus colegas alegam que foram praticamente forçados por você a praticarem um crime?

V.B.O.: Primeiramente, eu quero dizer ao senhor, aos leitores e a todas as pessoas que eu não estou aqui para me fazer de coitado nem de inocente, porque inocente eu não sou. Eu fui lá e cometi a ação, certo. Mas agora é o seguinte, conspiração comigo não tem vez. E aconteceu o seguinte: todo mundo planejou, foi ideia de um e a gente foi seguindo o plano. Ninguém foi forçado a fazer nada. Fora isso eu tenho mais provas, mas eu posso afirmar com toda certeza para o senhor e aos leitores que eu não fui sozinho não, e eu não fui o cabeça disso tudo. Foi feito um plano antes de tudo, posso até ter dado a ideia de um plano, mas não foi seguido.

FAROL: Os seus colegas falaram que existia uma arma, que você estava com essa arma e em determinado momento você chegou a ameaçá-los caso eles não participassem da operação. Aconteceu isso? Eu queria que você fosse bem detalhista desde o momento do planejamento até o momento que vocês entraram na loja e saíram.

V.B.O.: Foi o seguinte, um deles chegou para mim e falou: ‘olha rapaz, a gente está precisando de um celular. Vamos fazer um assalto em uma loja?’. E eu fiquei meio assim, fiquei olhando e ele comentou com o outro e ele falou: ‘Você tem moral?’ E eu falei: ‘Tenho, mas a parada tem que ser certa’. Aí beleza, eles falaram o seguinte: ‘vamos lá, vamos ver, a gente faz o plano, vai lá dentro, escolhe as coisas e já bota na mente e amanhã a gente volta’. Beleza. A gente foi lá, eles passaram, a gente viu a loja, viu os produtos e logo depois a gente saiu.

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Quando a gente saiu, ele comentou assim: – ‘vai ser amanhã mesmo?’ e eu falei: ‘Eh, eu não sei não, cara’. E ele falou assim: ‘vai ser amanhã mesmo?’. E eu disse ‘vamos então, já que você está pedindo’. Aí beleza, a gente planejou de Adriano entrar, daí eu e Ednei o fazemos de refém, fazê-lo botar as coisas na bolsa e daí sai correndo e ele ficar para ser como vítima. E foi realmente isso que a gente fez. Chegamos eu e Ednei, Adriano estava lá, ele passou o fax e falou assim: ‘está limpo, pode vir’. A gente foi lá, eu rendi ele, realmente eu estava com uma arma na cintura.

FAROL: Qual era a arma?

V.B.O.: Era uma Winchester 22, dois canos. Chegou lá, eu rendi o Adriano e falei para ele botar as coisas na bolsa. Ele foi botou junto com o Ednei e o rapaz lá começou a chorar. E eu falei assim: ‘Já deu, mano’. E a gente foi, veio correndo para cá e a gente se dividiu. O combinado era a gente se encontrar no lava-jato do rodeio, só que chegando lá, eu cheguei primeiro e logo depois veio o Adriano e o Ednei sumiu. A gente ficou preocupado, ficou em casa esperando ele e nada dele aparecer. A gente tentava contatar os contatos dele e ninguém sabia nada dele. Logo em seguida um primo dele ligou e falou assim: ‘Oh, o Ednei está em casa, mas ele está tomando banho para ir aí’. E eu beleza.

Ele chegou lá em casa, a gente fez a divisão dos lucros tudo certinho. Eu fiquei com um celular e um tablet e ambos ficaram com dois celulares e um tablet. Eu fui o único que fiquei com um celular. Então, a gente foi fazendo isso, embora eu ache engraçado porque na hora todo mundo está feliz, né? Que consegui e está feliz. O Adriano falou assim: ‘rapaz, eu estou me sentindo muito bem’. E chega agora fazer uma pilantragem dessas, isso não acontece não. Mentira tem perna curta e cagoete perde a língua.

A gente chegou lá em casa, não vou mentir para o senhor não, a bolsa estava cheia. A gente foi dividindo e deu no que deu. Eu acho engraçado porque esses caras são homens para fazer e são moleques para chegar a culpa tudo em cima de mim só porque eu sou menor. Isso aí, ninguém na terra é justo, na Bíblia mesmo fala. Mas eu acho injustiça mesmo jogar tudo nas minhas costas, porque eu sou menor. Eu não estou aqui, como eu já disse, para me fazer de coitado. Eu realmente fui lá, assaltei, rendi, estava com a arma, fiz tudo. Mas uma coisa que eu em momento algum fiz foi ameaçar eles de morte. Até porque todo mundo ali, foi todo mundo planejando no mesmo dia, no mesmo momento, na mesma hora. E eu não tenho só minha avó de prova não, tenho mais gente. Isso é uma coisa que não faz sentido nenhum.

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FAROL: Você é recém chegado em Serra Talhada, vem de Vitória do Espirito Santo e sua avó tem uma certa base familiar na cidade. Onde vocês conseguiram a arma? Quem articulou a chegada dessa arma até sua mão? E o que motivou você? O simples desejo de ter um objeto de consumo da moda, foi isso?

V.B.O.: Exatamente, ilusão. A arma foi o seguinte. Consegui com uma pessoa, a qual não vou revelar. E assim, na hora a gente foi lá e eu falei assim: ‘espera aí no ponto de moto-táxi que eu vou lá pegar a arma e já volto’. E eles disseram: ‘tranquilo, a gente vai esperar’. A gente chegou e foi todo mundo lá, a motivação não foi nenhuma. Foi assim, a mesma coisa que eu, ninguém precisa disso. Nem a pessoa mais pobre do mundo tem motivo para roubar para ter alguma coisa. Tudo na vida se consegue com dignidade, mas assim, no momento a gente foi mesmo pela ilusão, né? A vida é uma ilusão, você só respira porque você se ilude que está respirando. Se você parar de pensar que está respirando você morre. O senhor entende?

FAROL: Você está colocando que foi uma coisa arquitetada entre todos. Você se sente traído pelos seus companheiros que procuraram a imprensa? Não existem inocentes nessa história?

V.B.O : Não existe inocência nenhuma nessa história, até porque se existissem inocentes eu acho que ninguém tinha sido preso, primeiramente. Eu realmente me sinto traído, porque eu me lembro disso direitinho. A gente estava todo mundo algemado em um bando e viraram para mim e falaram: ‘a gente vai continuar amigo?’. E eu: ‘vamos, pô. Isso aí não vai tirar eu de vocês, nem vocês de mim, não’. Tanto que no final quando a gente saiu, o Ednei saiu, depois saiu o Adriano e eu corri lá e dei um abraço neles e falei assim: ‘Se vocês estiverem precisando de qualquer coisa pode me falar’.

FAROL: Mas você conversou com eles depois da entrevista que eles deram ao Farol acusando você?

V.B.O.: Não, e te garanto que não vou ter. Até porque para ficar sabendo da entrevista fiquei sabendo pelos outros.

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FAROL: Quando você leu a entrevista no Farol de Notícias qual foi a sua reação?

V.B.O.: Eu fiquei indignado, senhor. Foi logo em seguida que eu liguei para o senhor. Se o senhor lembrar bem eu estava até meio nervoso, porque isso é uma coisa que deixa a gente indignado. O pessoal fala que está do seu lado, você vira as coisas e joga tudo nas suas costas e ainda bota a culpa em você. É coisa assim que não tem cabimento não. A vida é louca, mas todo mundo sabe viver. Todo mundo vive de um jeito para ser feliz, mas acho que não tinha nenhuma necessidade de jogar tudo em cima de mim.

Chegassem para mim e dissessem: ‘Vamos lá na rádio esclarecer como aconteceu, como foi, porque foi’. Eu até viria aqui, a gente conversava e talvez, como eu disse, eles estão criando intrigas com eles mesmos. Eles estão contradizendo as palavras que eles deram para o escrivão, para o delegado e para o capitão. Aí é com eles, quem fica com a consequência. Eu posso estar tendo as consequências, mas eu fiz e em momento algum eu neguei o que eu fiz. Eu realmente fui lá e assaltei a loja.

É aquilo, você é homem para fazer, você é homem para assumir. Você não pode ser moleque para fazer outras coisas. Eu acho que esses meninos a gente não pode nem falar que é homem. A gente tem que chamar de moleque ou até de coisa pior mesmo. Porque piranhagem assim não se faz nem com o pior inimigo, entendeu.

FAROL: Para finalizar, o que você espera que aconteça daqui para frente?

V.B.O.: Ah, primeiramente, eu sei que só Deus tem o poder de perdoar, mas eu vim aqui pedir desculpas do fundo do meu coração a toda a sociedade de Serra Talhada e também peço desculpas aos proprietários da loja. Qualquer coisa que eu puder fazer para ajudar, em qualquer situação, em qualquer lugar para contribuir com a cidade eu vou estar disposto a fazer. É só ir na minha casa e me chamar que eu vou estar disposto a fazer qualquer coisa.