O FAROL recebeu a visita, em nossa redação, da nova secretária da Mulher, Mônica Cabral, que assumiu o cargo interinamente no lugar da vice-prefeita, Tatiana Duarte (PSC). Nesta conversa, ela fala também sobre política, especialmente, após a polêmica envolvendo a exoneração de Tatiana do comando da pasta. Vale a pena conferir!

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ENTREVISTA – MÔNICA CABRAL

FAROL: Mônica Cabral, obrigada pela presença na redação do FAROL. Para começar, como está a sua situação na Secretaria da Mulher de Serra Talhada, ainda como secretária interina? O prefeito já sinalizou que você irá tomar posse como Secretária da Mulher (SEMU)?

Mônica Cabral: Bom dia Farol, bom dia faroleiros e faroleiras, é um prazer estar aqui nesse momento, assim como em qualquer outro momento utilizando desse espaço para colocar um pouco da política da mulher no nosso município. Não houve ainda um espaço hábil para essa conversa com o prefeito. A secretaria ainda está finalizando a programação do Mês da Mulher, e chegou a Páscoa, estivemos em Recife, mas todo um trabalho ainda de finalizar as atividades.

A agenda permanece, e referente à discussão de estar ou não estar interina, ainda não houve essa conversa, mas independente de estar, de qual o papel exercer, a agenda continua, a política e a equipe continuam nos trabalhos pré-planejados no início do ano, e também mensalmente, onde fazemos esse planejamento.

FAROL: Quais serão as prioridades e expectativas à frente da SEMU?

M.C.: A prioridade será o diálogo mais próximo com os gestores. Desde o município, até gestores a nível estadual também, nesse debate que estava um pouco adormecido, se respeitando o processo de hierarquia, então retomar o fortalecimento dessa articulação, dentro do estado. Outra prioridade, vai estar sendo rediscutido, dentro da Conferência Municipal, um ato público. Um debate democrático entre as mulheres e os órgãos do município para reavaliar e reconduzir o plano de políticas públicas para as mulheres em Serra Talhada.

Então, essas são um pouco das nossas prioridades, e retomar a discussão da criação da Delegacia Especial da Mulher, que também estava adormecida, a partir da realidade atual de Serra Talhada, no aumento de ocorrências. O Centro de Referência que está à disposição para fazer o mapeamento e dar subsídios de provocação, para somar as provocações do Legislativo e com o Executivo em nível de Estado para firmar uma Delegacia da Mulher.

Firmar outras parcerias também, essa semana estamos indo para o Recife, em uma agenda com a ActionAid, que é uma organização não-governamental, para pontuar ações com mulheres seguras dentro do nosso município. E outras ações também que a ActionAid pode realizar no município, mas especialmente com crianças e adolescentes. Nós trabalhamos com a mulher, mas também temos que ter esse olhar para esse outro público que também é o nosso foco nas nossas ações.

Essa é uma das prioridades dessa semana, firmar cada vez mais parcerias, como também fomos contempladas esse ano, em um resultado muito positivo no mês da mulher, que foi o FEM Mulher. Então, vamos estar com a secretaria do Estado mapeando, discutindo quais são os caminhos, qual é a melhor forma da gente apresentar projeto, quais são as diretrizes em nível de estado, para que possamos ser contempladas também com o FEM Mulher, nesse 2015.

FAROL: A secretaria já tem planos para a utilização do FEM Mulher em Serra Talhada? Qual será o principal investimento feito com esse recurso?

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M.C.: A partir de uma conversa com a própria secretária da Mulher, Silvia Cordeiro, na atividade Pernambuco para Todos, em Afogados. A gente já a provocou com algumas indagações, e ela nos colocou que o FEM Mulher deve ser direcionado para infraestrutura. Então, a partir do que temos na secretaria, podemos estar discutindo o Centro de Referência em Atendimento a Mulher (CRAM), ele tem toda uma infraestrutura adequada, de orientação a nível nacional, e seria um pouco dessa pauta nossa.

Já temos um projeto do Centro, já foi apresentado duas vezes em nível nacional, e esse seria agora o elemento com o FEM. Apresentar novamente o projeto, com salas, com auditório, com espaço de biblioteca para crianças. Esse é um projeto piloto e vai, com certeza, contemplado pelo FEM Mulher, a partir da aprovação do nosso governador.

FAROL: Nestas últimas semanas, Tatiana Duarte vem repercutindo na mídia algumas declarações polêmicas e uma delas foi com relação às conquistas e resultados da SEMU terem sido frutos do trabalho realizado durante gestão dela na secretaria. Você concorda?

M.C.: É fruto de uma gestão da equipe, não só da gestão da secretária. Quando apresentamos o questionário que nos subsidiou a sermos premiadas, tinham ações da Saúde, ações da secretaria de Desenvolvimento Social. Esses foram subsídios construídos dentro da gestão, e não só das secretarias, mas também dos movimentos sociais que sempre foram prioridade e muito pautados muito pelo nosso prefeito Luciano Duque. Sempre foi muito de discutir o plano, seja de mulher, seja de saúde, de desenvolvimento social a partir do olhar dos movimentos sociais.

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Então, é resultado dessa construção, dessa orientação do prefeito, a partir da experiência de algumas atrizes que já vêm dentro da secretaria, de se trabalhar com movimentos sociais e ter um acesso livre a esses movimentos. É resultado desse conjunto, temos representantes lá, temos movimentos sociais que tem acesso livre, a gente tem esse diálogo. Foi resultado dessa construção, enfatizando a orientação do nosso prefeito. Precisamos trabalhar qualquer política, dentro da gestão, a inter-setorialização. O resultado dessa inter-setorialização dos secretários analisar que é preciso fazer a inserção das mulheres nos seus programas. Desenvolvimento social é um exemplo, o projeto Pronatec , mais de 400 mulheres inseridas no projeto Pronatec.

Então, esse olhar diferenciado que vem dentro da gestão da cidade e os outros secretários são parceiros que têm acesso livre dentro do debate da secretaria, na política para a mulher. É um trabalho de gestão, é um trabalho de equipe. Uma equipe que está 24 horas discutindo, rediscutindo, planejando, tirando dúvidas com os atores que possam nos ajudar nesse processo, É um trabalho de gestão, um trabalho coletivo.

FAROL: Ainda sobre as declarações de Tatiana Duarte, ela falou com relação à voz, que a sua voz não teria o mesmo alcance e visibilidade dentro da secretaria da Mulher, por ela ser uma figura política, acredita que agora a nova gestão perde um pouco em autonomia. Concorda?

M.C.: Eu acho que ela não foi tão positiva com essa fala dela, porque eu e a secretaria sempre tivemos acesso livre em todas as secretarias, e em todas as discussões. O gestor nunca fez nenhuma intervenção dentro dessa pasta, e todas as vezes que foram planejadas o plano municipal, todas as ações que vão além do que se foi planejado; tem ações muito positivas dentro da secretaria, que vem a partir da provocação externa.

Essa discussão é muito aberta, eu particularmente sempre tive com todos os secretários discutindo, precisamos debater, precisamos abrir mais esse debate com a saúde, então, a secretaria sempre teve. Eu não tenho, não vejo por esse olhar. A secretaria hoje, somos mais de 15 mulheres, isso é resultado da intervenção do gestor, desse olhar diferenciado dessa necessidade.

A secretaria sempre teve esse debate, essa discussão. Os outros secretários sempre foram muito abertos a somar dentro da política, até porque trabalhar política para mulher também respinga nas outras políticas. Cada secretaria em sua maioria são mulheres, seja o público alvo direta ou indiretamente. E também, o quadro funcional é de mulheres. Não há essa discussão, essa intervenção, sempre foi muito aberto. Foi sempre propositivo e positivo na discussão.

Por exemplo o CRAM, fomos provocadas pela secretaria da Mulher do Estado, Serra Talhada deseja receber um centro de referência? Não houve uma consulta com o gestor, porque somos ousadas, vimos que era necessário e colocamos isso para ele, vamos receber o Centro de Referência e precisamos dar esses caminhos. E isso aconteceu, como temos aí hoje, há mais de oito meses e foi inaugurado dia 30 (de março). Isso é resultado desse olhar, da certeza que é possível fazer essa mudança a partir da discussão das mulheres.

FAROL: Secretaria da Mulher, no momento de criação, estaria prometida ao PT, exatamente para Mônica Cabral? Mas acabou sendo concedida à vice-prefeita, Tatiana Duarte por questões políticas? Tudo volta ao seu lugar agora?

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M.C.: De fato, no início houve essa discussão. De fato foi essa a discussão e nós como parte da gestão com um olhar diferenciado para a necessidade de consolidar a política, se teve uma conversa, sim. Eu e ela, tivemos essa conversa e nós percebemos que a soma era mais positiva. Meu histórico é discutir a política para a mulher, independente do caminho que ele vai. Meu foco é a política para a mulher, então estive conversando sobre essa realidade e somamos, vamos somar o desejo, um plano que foi construído desde 2012.

Ela chegou na campanha e o plano já estava construído e então vamos somar, não queremos divisórias em prol de um objetivo, fortalecer a mulher, empoderar a mulher, inserir essa mulher no mercado de trabalho, coibir a violência contra a mulher. Isso aconteceu e foi até o momento, que aí se desfez essa ação em conjunto, a secretaria e a companheira, mas a política permanece. Ela já está em fase de consolidação e independente de quem possa estar dando prosseguimento, a agenda permanece.

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FAROL: Com relação ao prêmio Prefeitura Amiga da Mulher, que a prefeitura recebeu na semana passada. Por que não foi mencionado o nome da ex-secretária Tatiana Duarte no evento?

M.C. Foi um momento tão simbólico que não houve nem fala, não houve direcionamento dessa fala para o prefeito, nosso gestor, nem para a secretária. Foi um momento simbólico, era a prefeitura que estava em destaque, eram as ações da secretaria que estavam em destaque. E em nenhum momento teve essa ressalva de A ou de B. Ele estava lá como representante do Executivo, então não foi aberta essa fala. Não foi chamada.

De fato, no cerimonial, não houve, não houve essa ênfase. Apenas o prefeito que teve esse momento da fala na planária, mas em nenhum mais. Estávamos lá representando toda uma sociedade, todas as mulheres. Ele estava lá representando, também porque tem que se respeitar a questão da hierarquia e Serra Talhada estava muito bem representada. Fomos quase 20 mulheres, do Conselho da Mulher, da sociedade civil, algumas secretarias parceiras nossas, a própria equipe da secretaria da Mulher esteve nesse momento.

Independente de falar ou não, o prêmio era para as mulheres, o reconhecimento de um bom trabalho e de um caminho que estamos percorrendo, muito positivo. No momento que colocam que a vice-prefeita não esteve presente, não foi a convite do município, de fato houve uma articulação de toda a secretaria. Apresentaram o nome dela na lista do cerimonial, mas ainda no ato da entrega do buquê de rosas, ela foi citada, ela foi chamada como vice-prefeita e por algum motivo, não nos foi justificada a sua ausência.

O convite foi abrangido para todos os organismos, para todas as secretarias, para toda a equipe e ela tinha esse papel também. Representante que permanece representante do governo, representando as mulheres. Não houve esse exclusão de forma alguma.

FAROL: Administrativamente o que muda na relação entre Mônica Cabral e Tatiana Duarte?

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M.C.: Permanece uma relação saudável, somos militantes, somos mulheres, como foi várias vezes colocado dentro da equipe, somos mulheres, novas mulheres. Tanto eu, quanto ela, somos mulheres diferentes depois de estar na gestão. Ela, com certeza, está na gestão a partir do reconhecimento do papel da política para as mulheres. E nós a medida do possível vamos, na medida do possível estaremos caminhando, em uma relação de respeito, precisamos respeitar o caminho de cada uma.

E o caminho será esse, de respeito, de somar. Cada uma tomou um rumo diferente, precisamos respeitar esses caminhos e eu até então estou nessa incumbência de dar continuidade. Porque já estava na secretaria e vamos provocar e manter essa agenda e outras agendas que virão no decorrer das atividades da secretaria e outros prêmios, que com certeza, espero ganharmos.

FAROL: O jogo político dentro da secretaria da Mulher interferiu no desenvolvimento das políticas públicas para as mulheres de Serra Talhada?

M.C.: Quando trabalhamos o empoderamento das mulheres, trabalhamos que precisamos ocupar os espaços, então, a gente sente um pouco que algo mudou, que algo retroagiu. Se percebe que algumas das companheiras deram um passo para trás por almejo de outros companheiros de alcançar algum processo que já estava a caminho. O empoderamento é discutido, mas vamos continuar muito firmes na nossa bandeira.

Eu sinto que houve esse retrocesso, mas precisamos também respeitar a escolha. Tantas outras mulheres tiveram escolhas diferenciadas e temos que respeitar, quando se fala em empoderamento, nesse fato a gente sente. Então, infelizmente a voz do homem ainda fala um pouco mais alto e a medida do fortalecimento de cada mulher a gente precisa respeitar. Então, eu acho que de fato.

FAROL: Gostaríamos de levantar uma questão que repercutiu no FAROL e está relacionada ao empoderamento das mulheres para disputa política em Serra Talhada.

Nas eleições temos poucas candidatas, assim como no legislativo e no executivo. Você não tem interesse disputar algum cargo eletivo em 2016?

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M.C.: Está dentro do nosso plano plurianual trabalhar essas mulheres, fortalecer essas mulheres para ocupar os espaços, seja ele qual for, seja associação, seja legislativo, quem sabe o executivo. Está no nosso plano, no plano plurianual nacional. Precisamos potencializar essas mulheres. Se estarei, é tudo muito novo. Abracei essa causa de dar continuidade e fortalecer as mulheres e essas mulheres vêm sendo fortalecidas, tem várias que vêm sendo fortalecidas junto com as ações da secretaria e já desponta.

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Se eu colocar para você são algumas mulheres, cinco ou seis mulheres a gente pode levantar aqui que já desponta, que já disputaram no outro pleito e não foi sucedido, mas o nosso papel é esse, de fortalecer essas mulheres. Então, de estar ou não, isso é futuro, precisamos focar agora no presente nos futuros seis meses. Esse ano também é ano de Conferência Nacional e precisamos focar nessas políticas, na execução dessas intervenções que a sociedade, que as mulheres nos colocam. Nosso papel lá, como secretaria é fazer as intervenções, é executar as intervenções que a sociedade nos impõe.

FAROL: Que avaliação você faz do Mês da Mulher promovido pela Secretaria?

M.C.: Em resumo, foi muito positivo, ousado. A gente usa muito essa fala na secretaria, fomos ousadas, trabalhamos hoje fazendo um levantamento de quase 20 atividades em um mês, abrangendo mais de 500 mulheres, em uma média de 30 a 40 mulheres em cada atividade. E desde as mulheres rurais às mulheres urbanas, os jovens, as escolas, então, foi muito positivo. Ele também deu subsídio para esse prêmio, quando se trabalha uma agenda de provocação da própria gestão, dessa enorme agenda e estreitar também essa relação.

O 8 de Março foi com os movimentos sociais, Olga Benário, Cecor, os sindicatos, Fetape. Então não só as atividades, mas estreitar essas parcerias com essas instituições e com essas mulheres, que em boa parte estão na cabeça também. Isso é um elemento também de fortalecer a instituição, nos respaldar que estamos em um caminho positivo como política de gestão, como também fortalecer os movimentos sociais. Então, é uma troca e há esse aprendizado, dentro da gestão, a equipe da gestão tem esse aprendizado, os movimentos tem esse aprendizado também dentro da gestão. Eu acho que foi muito positivo.

Alcançamos algumas mulheres que nós ainda não tínhamos conseguido , provocamos muitas das questões, com a saúde, as parcerias com as secretarias foram muito positivas, todas as secretarias, direta ou indiretamente estavam em envolvidas nessa nossa programação e fomos provocadas por muitas mulheres para discutir outros temas. A qualificação, estar mais próxima às mulheres rurais, trabalhar a questão do semiárido, trabalhar também a questão da educação. A inclusão dessas mulheres no meio rural, geração de renda.

Tudo isso foi provocado e boa parte já contempla o nosso plano, algumas questões ainda precisamos renovar, provocar e executar com mais eficiência. Mas foi muito positivo, acho que foi governo e sociedade civil, não foi discutido sozinho de gabinete. Foram esses dois atores e várias reuniões, e muitas discussões, a gente colocava que não tinha condições e os movimentos sociais diziam, vamos fazer, a gente entra com uma ação.

A articulação com o Folhas Outonais foi ótimo. Na Cagep não era possível, o Folhas Outonais se disponibiliza a fazer. Então, foi ótimo. Eu senti isso positivo, eu senti essa interação. Em uma conversa olho no olho, isso é muito saudável.

FAROL: Que mensagem você deixa para para as mulheres de Serra Talhada, agora, nesta nova condição de secretária?

 M.C.: O nosso folder trata muito do que nós mulheres, seja ela na gestão ou sociedade civil, o nosso papel como mulher com uma tripla jornada, com inúmeras tarefas. Eu gostaria de colocar que eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou, ensinou a amar a vida e não desistir da luta.

Então, como todas as guerreiras serratalhadenses, toda a equipe da secretaria da mulher, toda a equipe de governo e os movimentos sociais que vem só somar a nossa gestão, a efetivar a política para a mulher, que foi uma provocação dos movimentos sociais.

Essa luta vai continuar, que a secretaria e toda equipe vai permanecer à disposição e principalmente vamos continuar fazendo a mudança para uma sociedade mais justa e igualitária para a cidade do coração da gente.

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