Publicado às 06h02 desta quarta-feira (5)

A filha de um paciente com Covid-19 que faleceu no Hospital Eduardo Campos (HEC), em Serra Talhada, no dia 27 de março, procurou o Farol para fazer um apelo por mais humanização e empatia por parte da equipe de acolhimento do hospital. Ela conta que perdeu o pai sem ter tido uma última oportunidade de conversar com ele, via chamada de vídeo, antes de ser intubado. Segundo Kátia Cilene Ribeiro da Silva, 43 anos, essa mesma situação de negar a oportunidade de conversar com os pacientes vem acontecendo agora com outro paciente da família que está internado no HEC.

Kátia Cilene, que é técnica em Enfermagem, conta que buscou o Farol de Notícias para fazer um pedido de socorro aos profissionais do HEC, um apelo, dessa vez não mais em favor do pai (que acabou falecendo sem sequer se despedir), mais por outro membro da família que está internado lá, com Covid, e por tantos outros pacientes e familiares que passaram pela mesma situação. ”É um apelo, é um pedido de socorro! Para mim, nesse momento não serve mais porque já perdi meu pai, mas servirá para outras pessoas”, alertou Kátia, detalhando:

“Meu pai foi internado num dia de sábado a noite, eu levei para a urgência do Hospam 20h, quando foi 1h da manhã ele teve que ser transferido, porque estava com baixa saturação e lá teriam mais recursos para ele. Quando meu pai estava no Hospam, eu entrei com ele, fiquei na observação acalmando ele, porque estava nervoso diante o clima de hospital. Quando o médico chegou e disse que ele precisava ir para a UTI ele já começou se preocupar. Aí 1h da manhã ele foi transferido para a UTI do HEC”.

INÍCIO DA ANGÚSTIA

Ao dar entrada no HEC, a angústia para a família começou. “Não tivemos mais contato nenhum com ele. A gente ligou para a assistente social no domingo querendo entrar em contato com ele, a gente sabia que não era o dia de chamada de vídeo, mas a gente precisava de alguma forma falar com ele, ou em vídeo ou ligação, porque sabíamos que ele tinha coisas para dizer e que precisava falar com a gente. Disseram que não era dia de chamada de vídeo e eu disse que entendia, mas toda regra existe uma exceção, foi um apelo muito grande para ela deixar eu gravar um áudio, porque o vídeo não ia permitir por conta da burocracia”, contou Kátia, lamentando:

”Quando foi 17h, na segunda-feira, o médico ligou para a gente e disse que ele tinha sido intubado na noite do domingo, então a gente entrou em desespero. Ele faleceu dia 27 de março, passou 7 dias intubado e a gente ficou naquela aflição, porque aquela assistente social não fez isso por a gente e principalmente por ele. Ele só tinha pressão alta, as outras comorbidades já adquiriu lá por conta da doença. Era hipertenso, mas a pressão era controlada. porque ele tomava a medicação certinha.”

APELO POR OUTRAS FAMÍLIAS

Por também ser da área da saúde, Kátia acredita que seja importante viabilizar o contato do paciente com a família enquanto ele está consciente e acredita que isso pode ajudar a acalmá-lo dar esperanças. “Eles já chegam no hospital muita debilitados emocionalmente”, disse ela, reforçando:

”É uma apelo que eu faço ao hospital, porque a gente está com outro paciente lá, é o esposo de uma prima minha, ele é vendedor. A família está muito aflita, disseram que ele está passando pela mesma coisa que meu pai passou, a saúde dele se agravou e precisou ser entubado sem falar com a família. Ele é jovem, tem 40 e poucos anos, a família está muito aflita. É só um apelo, a gente é muito grato por tudo que foi feito, por toda a atenção, não faltou medicação, tem todos os recursos, não faltou nada para o meu pai, a única coisa que faltou foi essa questão da humanização, de entender o lado do paciente porque quando chega lá já está muito debilitado emocionalmente. A questão da humanização é um apelo muito grande que a gente faz, isso é muito doloroso”.

O OUTRO LADO

A reportagem do Farol entrou em contato com o Hospital Eduardo Campos para comentar o caso. Por meio de nota, o HEC emitiu o seguinte pronunciamento:

”O Hospital tem uma rotina de contato com a família, para que eles estejam cientes do quadro clínico do paciente e informações sobre procedimentos a serem realizados. As vídeo chamadas são realizadas com os pacientes que estão clinicamente estáveis, infelizmente, quando há uma piora na saúde do paciente, a prioridade é a estabilização e, consequentemente, essas vídeo chamadas são suspensas temporariamente. Porém, os familiares seguem recebendo as informações através da nossa equipe de acolhimento. A gente entende a angústia da família em não manter esse contato direto com o paciente, mesmo que através dos meios eletrônicos, mas contamos com uma equipe que vem trabalhando diariamente, desde a implantação do serviço, a humanização do serviço. Caso os familiares tenham qualquer tipo de dúvida, é importante repassar para a equipe do HEC.”