Por Ivoncleiton da Silva Lino, bacharelando em Direito pela Faculdade de Integração do Sertão (FIS)  [email protected]

Mais uma vez a democracia representativa chega a seu ápice. Facultando-nos a escolha daqueles que se mostrarem mais capazes, dignos – virtuosos – na condução e defesa do bem coletivo. Aproxima-se a linha de chegada e com ela a caçada incessante pelo apoio dos legítimos detentores do poder político constitucionalizado – o povo. No entanto, dúvidas pairam sobre nosso pensar. O bem COLETIVO está, de fato, sendo representado? O que significa essa corrida EFÊMERA, porém intensa, às vésperas de cada pleito? Certamente cada um tem uma explicação peculiar para essas indagações. Figuras debruçaram-se sobre o tema. Entretanto, nenhuma delas foi, até aqui, suficiente o bastante para conscientizar-nos de tudo que, verdadeiramente, está por trás dessa prática usual – aqui não está a exceção. Mas, sobre os ombros de tais pessoas não se encontra o ônus da esterilidade da conscientização e, sim, sobre todo aquele que se furta em abrir os olhos à realidade que o cerca.

Continua sendo comum, infelizmente, a prática politiqueira da “popularização” da figura do político nos meses que antecedem às eleições. Promessas e mais promessas que, se de fato implantadas, transporiam a estrutura social de uma realidade lamentável à outra utópica – ou seja, passar-se-ía subitamente de um extremo a outro, o que, flagrantemente, de forma alguma tem ocorrido ou é possível ocorrer – têm incidência com frequência nesses períodos, chegando ao ponto de duvidar de nossa capacidade de discernir entre o possível e o impossível; entre o dizer, querer e/ou fazer. Dispondo da participação irrestrita de poucos futuros privilegiados, dar-se início a uma verdadeira batalha pelo poder, pela galinha dos ovos de ouro. Para, seguidamente, imperar o descompromisso com o coletivo em detrimento do favorecimento das alianças, dos acordos pré-pleito com a minoria interesseira.

“Continua sendo comum, infelizmente, a prática politiqueira da “popularização” da figura do político nos meses que antecedem às eleições. Promessas e mais promessas que, se de fato implantadas, transporiam a estrutura social de uma realidade lamentável à outra utópica”

Com Maquiavel, o primeiro a pôr o dedo nessa ferida, quebrou-se um paradigma no modelo de político. Para cujo pensador, a política era o lugar para profissionais e não para amadores. Ou seja, do mesmo modo que nas demais carreiras necessita-se de pessoas imbuídas do conhecimento de causa, o mais especializado possível, na política não deveria ser diferente, dizia ele. Pensado assim, afirmava ser necessário haver uma preocupação constante do político com os eleitores e não somente às vésperas da eleição – como ocorre usualmente. Buscar em todos os momentos manter assegurado seu respeito e dedicação com as necessidades coletivas, seria, pois, desse modo, indiretamente, a maneira de manter assegurada a aceitação geral em todos os momentos dos responsáveis na sua manutenção no poder. Destarte, preconizava um modelo de político que valorizasse a todos, o COLETIVO, o bem comum; uma vez que é esta a missão para a qual cada indivíduo abre mão da autoadministração para entregá-la a um terceiro.

Deixando de lado todo esse ensinamento, o político pós Maquiavel visa somente interesses que, em sua maioria, estão dissociados do coletivo, primando, infelizmente, por cumprir com o desejo egoístico dos que têm condição de auxiliá-lo no convencimento alienante do eleitorado periférico, de pouca instrução. Aquilo que deveria ser uma transferência de responsabilidade baseada no voto consciente, pois se trata de um aval representativo, não passa de mero negócio de cunho econômico. Dado existir, entre político e eleitor, sobretudo entre aqueles que a pouco se fez menção, uma relação de compra e venda, de induzimento a se votar em tal ou qual político ou, em último caso, abster-se desse sagrado direito. Dessa prática tem origem o descompromisso de grande parte dos governantes para com o interesse coletivo. Ora, uma vez que o voto não foi voluntário, houve uma retribuição pecuniária para tanto, não há, infelizmente, por parte daquele, quaisquer tipos de responsabilidade com seu público votante. Tornando dificultoso, porém não impossível, o atendimento prontificado e eficiente das necessidades sociais imprescindíveis, como saúde, educação, segurança, etc.

“Com Maquiavel, o primeiro a pôr o dedo nessa ferida, quebrou-se um paradigma no modelo de político. Para cujo pensador, a política era o lugar para profissionais e não para amadores. Ou seja, do mesmo modo que nas demais carreiras necessita-se de pessoas imbuídas do conhecimento de causa, o mais especializado possível, na política não deveria ser diferente”

Com isso, a exigência, cobrança que deve ser peculiar diante daqueles que nos governam perde seu foco. Passa a inexistir, moralmente falando, legitimidade a tais ações. Restando, apenas, por parte do político governante, beneficiar os que diretamente estiveram ao seu lado na linha de tiro da batalha, buscando através de empregos e dos mais diversos modos de apadrinhamento retribuir-lhes “os favores”, a fidelidade a sua pessoa. Por tudo isso, tem imperado na administração pública o descaso social, a serviência precária. E, por conseguinte, feito regra a temporalidade passageira na busca do voto e do diálogo corporal com o público votante. Ou seja, por tratar-se de um “contrato” a relação entre eleitor e candidato não suscita perenidade, porque uma vez “assinado” o contrato não há mais que permanecer negociando com a parte contrária – o cidadão.

Assim, esse descaso se contrapõe evidentemente com o pensamento de Maquiavel e faz da política uma profissão sem profissionais, repleto de indivíduos com as mais diversas formações, menos a que lhes é imprescindível, qual seja: a de representante responsável dos clamores sociais. Desse modo, outra saída não há senão votar pelas qualidades apresentadas pelo candidato e que importem melhorias à sociedade; e não por ceder a pedido infundado e interesseiro daqueles que o seguem cegamente com vistas a favores futuros ou trocá-lo por ninharias. Porque agindo assim obter-se-á de todos o justo reconhecimento por tal atitude, pois se resolveria dois problemas de uma só vez, a saber: a busca por mais repeito ao bem coletivo e maior valoração do eleitor consciente e não negociável.

“…esse descaso se contrapõe evidentemente com o pensamento de Maquiavel e faz da política uma profissão sem profissionais, repleto de indivíduos com as mais diversas formações, menos a que lhes é imprescindível, qual seja: a de representante responsável dos clamores sociais”