Neste feriado de 21 de abril, o pré-candidato a prefeito de Serra Talhada, Sebastião Oliveira, fez uma imensa propaganda do seu Festival da Juventude, que acontecerá na próxima semana em Serra Talhada, com atrações como Cláudia Leite, Margareth Menezes e a dupla Fábio e Nando.

‘Sebá’ garantiu que alocou R$ 360 mil de emendas no orçamento para a festa. Empolgado, o deputado anunciou ainda que será realizado durante o festival até um “reality show”, imaginem, no cume da Serra Talhada (ele não soube detalhar com que propósito…). O contraponto ao Festival da Juventude do deputado Sebá veio do produtor cultural e coordenador da Juventude  da Prefeitura de Serra Talhada, Karl Marx, que disse que o “Festi-Sebá” possui programação descartável.

Leia a íntegra da opinião:

Esse Festival da Juventude, sem dúvidas, não acrescenta em nada para o município. Trata-se de um evento meramente comercial e, como tal, deveria ser financiado pela iniciativa privada e não pelo governo. Admira-nos um festival dito ser “da juventude” não apresentar em sua grade de programação nenhuma atividade voltada para ações que, de fato, deveriam ser para Juventude. Não há nenhuma proposta de formação, nenhuma capacitação, nenhuma atividade cultural, palestras, debates… Nada disso… Qual o real propósito desse festival então?

Um Festival da Juventude deveria ser realizado agregando organizações e movimentos de juventude de toda região (ou até mesmo do estado), proporcionando troca de experiências das diferentes formas de organização política e social, com manifestações culturais, debates sobre a conjuntura local e as lutas da juventude. Dentro da programação deveria haver um fórum de discussão, elaboração de documentos com reivindicações, entre outras atividades. E shows também. Por que não? Cadê as discussões sobre o primeiro emprego, sobre o papel das universidades e faculdades recém criadas em nosso município, sobre a violência, discussões sobre juventude e gênero… Nada disso esse festival traz…

E o que mais nos deixa perplexos, é que tudo isso é bancado com RECURSOS PÚBLICOS. Acho inclusive contraditório, o mesmo Governo que com uma mão incentiva e fomenta a cultura popular do Estado através dos Editais e da realização dos Festivais Pernambuco Nação Cultural, com a outra mão, financia e banca esse tipo de evento, com uma programação descartável e que denigre completamente os movimentos de cultura da região.

Nada contra a realização de shows no Festival da Juventude ou contra os artistas que participarão do evento. No entanto, eu venho do movimento de cultura popular do estado. Nasci e me criei dentro do circuito cultural. Por isso, não consigo entender como o Estado contrata com DINHEIRO PÚBLICO bandas e grupos musicais que não possuem nenhuma relação com nossa cultura e história. Esse tipo de atitude faz com que os grupos de cultura popular vão perdendo espaços preciosos.

Dinheiro público é para ser direcionado com produtos e serviços de qualidade, com construção cidadã. E qual a construção cidadã desse Festival da Juventude? Infelizmente essa é uma realidade que se proliferou em todos os espaços. Não é um “privilégio” apenas do Festival da Juventude. É lamentável quando lemos as programações dos eventos em tudo quanto é cidade – nas festas de padroeira, festas cívicas, ciclo junino, natalino, carnaval, entre outras – e nos deparamos com uma verdadeira falta de respeito com a cultura e com os artistas que cantam e exprimem nossas tradições.

Não faz muito tempo vaiaram Sivuca numa festa junina paga com dinheiro público na Paraíba porque ele, já velhinho, tocava sanfona em vez de teclado e não tinha moças seminuas dançando em seu palco. Vaias também recebeu Geraldo Azevedo porque ele cantava Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, também na Paraíba, enquanto o público, esperando a dupla sertaneja, gritava “Zezé, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver”.

E pra quem acha que isso é intolerância, eu digo que intolerância é excluir da programação do rádio (que é uma concessão pública) durante o ano inteiro, artistas como Assisão, Anchieta Dalí, Zabé da Loca, Escurinho, Azulão, Rui Grude, Pinto do Acordeom, Mestre Salustiano, Arlindo dos Oito Baixos, entre outros que ficam esquecidos e são massacrados pela indústria “pornográfica” (fonográfica).

O Festival da Juventude de Serra Talhada, ao que parece financiado pela Secretaria de Turismo e a EMPETUR (órgãos que deveriam fomentar o turismo no estado e não bancar esse tipo de evento que de turístico não tem nada) é apenas mais um capítulo dessa triste história. E para finalizar, aplico aqui uma máxima utilizada pelo meu pai na defesa de mais ações de fomento e incentivo a cultura regional: QUEM ACHA SER LOUCURA INVESTIR EM CULTURA, É POR QUE NÃO SABE O PREÇO DA IGNORÂNCIA.

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