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Por Paulo César Gomes – Fotos: Farol de Notícias/Alejandro García

O processo de globalização tem gerado inúmeras transformações na sociedade, principalmente nos modos de produção, que a cada dia se tornam mais sofisticados. No entanto, a maior parte desses produtos industrializados é feito de forma a inibir o conserto, já que são já feito para serem descartáveis.

Toda essa logística está acabando com uma série de profissões que eram comuns há décadas passadas. Porém, alguns guerreiros e guerreiras resistem a esse fenômeno mundial e diariamente colocam a cara na rua para garantir o pão de cada dia.

E é para resgatar esses profissionais e suas histórias, que eu e o intrépido repórter fotográfico do Farol, Alejandro García, reeditamos uma parceira de sucesso, para levar a todos os faroleiros a série PROFISSÕES PERDIDAS. O nosso primeiro personagem é o sapateiro ambulante João Alvino Pajéu.

ENGRAXATE: A PRIMEIRA PROFISSÃO DE MUITOS MENINOS QUE VIVERAM AS DÉCADAS DE 60 A 80

Em décadas passadas onde não existia a internet, as redes sociais e o vídeo game, os adolescentes eram desde cedo obrigados pelos pais a trabalharem. Mesmo estudando, a maioria acabava arrumando “um bico” para ajudar no orçamento da família. Um das atividades mais adotadas pelos garotos era o de ser engraxate. Para exercer a profissão era necessária a confecção de uma caixa de madeira, duas latas de graxa para sapato – preto e marrom – e uma escova de sapato.

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E assim a molecada saía pelas ruas anunciando seus serviços e a procura de clientes. A geração da caixa de engraxate – da qual fiz parte com muito orgulho – hoje ocupa espaços importantes na sociedade, pois aprenderam desde cedo o valor do trabalho digno.

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JOÃO ALVINO PAJEÚ: 50 NOS DE PROFISSÃO COM MUITO ORGULHO

A profissão de sapateiro e engraxate existe desde o fim da Idade Média. Em Serra Talhada, um dos baluartes é Seu João, um senhor que exerce o ofício há mais de 50 anos. Segundo ele, a jornada é puxada, “trabalho de segunda a sábado. Saio de casa às 6h da manhã. Só retorno depois às 13 horas”, explica o velho sapateiro que aprendeu o ofício com o irmão.

Foi com o dinheiro ganho reformando e engraxando sapatos que Seu João criou dois filhos. Mesmo com sol ou com chuva, o sapateiro não deixa de ir trabalhar no mesmo local há mais de meio século. No ponto – que fica em uma das calçadas da Rua Augustinho Nunes de Magalhães – encontramos uma velha cadeira de engraxate e outras ferramentas que o nobre profissional usa na labuta diária. “Só falto quando adoeço, e ainda assim, mando o meu filho vir no meu lugar para atender a clientela”, afirma o velho sapateiro.

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A FIDELIZAÇÃO DOS CLIENTES É UMA DAS MARCAS DE JOÃO SAPATEIRO

O trabalho do sapateiro é reconhecido por vários nomes da sociedade local, mesmo em tempos de crise e de grande avanço tecnológico, muitos são os clientes, tantos homens como mulheres, que procuram Seu João para consertar os seus calçados. “Sou cliente de João há mais de 40 anos, e só ele em quem conserta os meus sapatos com perfeição”, declara o popular Doga de João Damião.

Entre os casos mais curiosos que Seu João nos contou, está o de um par de botas que foi deixado por um cidadão desconhecido em 2010, até o hoje ele não veio buscar a encomenda. Como bom profissional que é, João guarda as botinas com cuidado, na esperança de que o dono venha reaver o objeto e lhe pague o serviço.

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Mesmo diante da desvalorização da profissão e da falta de reconhecimento, João Sapateiro é otimista, “novos sapateiros irão surgir e a profissão não irá se acabar”. E assim esperamos, que as autoridades garantam o mínimo de condições, já que a profissão não é reconhecida, contribuindo e muito para a vida de todos os Joões, Antonios, Pedros, Franciscos, Josés… enfim, a todos os sapateiros que com muito orgulho carregam esse país literalmente na sola do sapato!

Um forte abraço a todos e até a próxima reportagem da série Profissões Perdidas!

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Cliente deixou par de botas em 2010, mas João Sapateiro ainda espera para fechar o pedido