Por Magada Wacemberg Pereira Lima de Carvalho

“O Brasil é um país rico em leis, emendas, súmulas, estatutos, procedimentos normativos onde cada esfera (Município, Estado e Federação) tem suas responsabilidades explicitadas. São leis que fariam de nosso país, se postas em prática, o lugar mais “perfeito” do continente. No entanto, quando nos referimos às garantias do cidadão brasileiro, segundo a legislação vigente, estas ficam, em alguns casos, no plano da abstração.

É sabido que quando há a morte de um cidadão (por violência), o Estado assume a responsabilidade sobre o corpo sem vida, a fim de que sejam tomadas as medidas legais. Entretanto, o que temos testemunhado e vivido em nosso Estado é o descumprimento do que é direito humano garantido por esse mesmo conjunto de leis quando se trata do procedimento relativo à recolhida do corpo para análise pericial pelo Instituto de Medicina Legal e a sua entrega posterior à família.

É do conhecimento da população serra-talhadense a tragédia ocorrida na última terça-feira (23/04) onde a vida de Paulo Marcos (Paulinho) foi brutalmente ceifada. O crime que aconteceu por volta das 07h30min da manhã, teve a solicitação da presença do IML, assim que tomado conhecimento por parte da Delegacia de Policial, no entanto o “único” carro disponível em Serra Talhada para atender a região do Sertão do Pajeú e parte do Sertão do São Francisco havia sido enviado para atendimento na cidade de Jatobá/PE, sendo, dessa forma, feita a solicitação do veículo “rabecão” que fica sob a responsabilidade do Corpo de Bombeiros de Salgueiro, o qual chegou apenas às 17h, ou seja, 9 horas depois do acontecimento, e que deveria seguir ainda para o IML de Caruaru.

Tal episódio evidencia a falta de estrutura do Governo, uma vez que disponibiliza poucos veículos para atender toda a região do interior de Pernambuco, bem como o descaso para com aqueles que passam por semelhante situação. Pelo costume e pela ordem cronológica de decomposição da matéria, as famílias velam seus entes durante as 24 horas após a morte e isso nos foi negado, uma vez que tivemos que amargar a espera de aproximadamente 35 horas para que o corpo de nosso querido Paulinho estivesse à disposição da família, o que aconteceu somente às 18h da quarta-feira (24/04), obrigando que seu sepultamento acontecesse na noite dessa quarta-feira sem que parte dos familiares e amigos pudessem se despedir.

Diante do fato, entendemos que nós, cidadãos serra-talhadenses, estamos tendo nosso direito burlado pelo Estado, quando este passa a dispor do corpo sem vida, na tomada dos procedimentos legais e não o entrega à família em tempo hábil. A família, Alves de Lima, não foi a primeira a sofrer com o descaso do Estado e certamente não seremos a última, caso, nós serra-talhadenses não façamos algo.

Devemos acabar com esse discurso ideologicamente marcado de que Serra Talhada não tem isso ou não tem aquilo porque o político A não trás ou porque o político B não está nem aí. Quem deve estar “aí” para o que acontece com nossa população somos nós. Somos quase de 80 mil habitantes só em Serra Talhada e não temos forças para um movimento? Devemos sempre nos subjulgar aos “nossos representantes políticos” que quando fazem não mais do que sua obrigação, já que são “representantes do povo”, gritam aos quatro ventos que são os pais da obra A ou da obra B e que Serra Talhada só é o que é hoje por causa deles? Serra Talhada é o que é hoje por nós, seus filhos, que estamos cotidianamente lutando e tentando fazer de nossa cidade um lugar melhor.

Já ouvi tantas vezes que nossa cidade deveria ter um shopping, um aeroporto, uma delegacia da mulher, uma Gerência Regional de Educação, mas deveria ter também um Instituto de Medicina Legal? Não somos um Polo Médico? Por que nós como a principal cidade do Pajeú, como é propagado, temos sempre que ficar na dependência de Salgueiro, Arcoverde, Caruaru, Afogados da Ingazeira? Questiono não só como uma sobrinha que perdeu seu tio tragicamente, mas também como uma serra-talhadense que vê a dor de outras famílias.

Hoje é a minha família Alves de Lima que sofre com esses procedimentos burocráticos, mas amanhã poderá ser a família Sousa, Silva, Inácio, Pereira, Gomes, Carvalho… se não nos mobilizarmos enquanto população e reivindicarmos o que nos é de direito. Agradecemos todas as manifestações de solidariedade neste momento de dor. Atenciosamente, Magda Wacemberg Pereira Lima Carvalho.”