por Simão Mairins, jornalista do Cartaz de Cinema e Portal Administradores.

Responde também pelo blog Ócio Hiperativo

Excelentíssimo senhor governador de Pernambuco, Eduardo Henrique Accioly Campos, estou em auto-exílio na Paraíba, mas nunca me desmembrei das raízes que me prendem às terras áridas do nosso chão. E um desses laços é o título de eleitor que, em outubros alternados, me faz viajar 600 km para votar, bem como acompanhar diariamente o que os meus eleitos andam fazendo. Agora chegou a hora de cobrar.

Não sou daqueles que esquecem em quem votou. Em sua primeira campanha para governador, confesso até que não consegui superar a desconfiança que tinha do seu jeitão aglutinador (que colocou as turmas de Severino Cavalcanti e Inocêncio Oliveira sob suas asas) e, no primeiro turno, votei em branco. No segundo, entretanto, deixei essa picuinha de lado e me rendi ao convincente programa, ao sentimental apelo à memória do seu avô, Miguel Arraes, e à falta de outra opção.

Na segunda campanha, votei sem pensar duas vezes. E, embora eu seja avesso a esses ufanismos de dizer que alguém é o melhor do mundo em alguma coisa, coloco sua administração alguns níveis acima da mediocridade com a qual a maior parte do Brasil se acostumou. Apesar de todos os problemas estruturais e vícios que ainda persistem, Pernambuco é um lugar melhor, sim.

Dar à nossa terra um certo ar de potência, entretanto, não dá ao senhor o direito de autorizar ou, em outra hipótese, fazer vista grossa para a forma criminosa com que estudantes e alguns trabalhadores vêm sendo tratados por, entre outras coisas, cobrarem uma promessa de campanha sua (aquela de reduzir os impostos para baratear a passagem de ônibus e metrô, lembra? O Youtube não esqueceu).

Veja o vídeo em: http://www.youtube.com/watch?v=ay0_1bSjrt0

Polícia prende estudante em protesto: http://www.youtube.com/watch?v=GMDv88hecmM

O nosso sistema de transporte – para ficarmos no assunto em questão – é burro e viciado, sem alternativas e sem perspectivas nas quais possamos confiar no sentido de vermos uma melhora real em um prazo aceitável. Na capital e sua região metropolitana, bem como nas grandes cidades do interior, onde os trabalhadores precisam de transporte público para colocar a mão na massa e fazer a economia funcionar, os ônibus são praticamente a única opção, compondo um esquema monopolista em que os empresários do setor ditam as regras das quais o povo é obrigado a viver refém.

Manifestantes são mesmo desbocados, têm coragem de deitar no meio da Conde da Boa Vista para parar o trânsito e não têm muito medo de bala, não. Eu sei que um ou outro esquentado deve ter feito besteira, como sempre faz. Mas quando a massa se move é assim. A turma toda pode ir com flores, mas na hora em que o cacetete dança e o arsenal pega fogo, os paus e pedras surgem do nada e quem tem coragem de arremessar arremesa.

Mas pode ter certeza, governador, que a arruaça maior do nosso estado é silenciosa e, para ela, nenhum efetivo nunca foi deslocado. Ela é feita, por exemplo, lá naquele recanto da rua da Aurora onde dificilmente o sol brilha e, na surdina, nossos deputados costumam efetivar a indecência do crime legal. Nos escritórios das empreiteiras que superfaturam obras que nunca terminam. E, claro, nas salas de reuniões onde – anualmente – o “poder público” e os tubarões dos transportes decidem com quantas cifras vão chicotear o povo.

As camisetas vermelhas estão sujas, as bandeiras pegaram fogo, a garganta ficou engasgada, as pernas andam meio bambas, as costas doem, algumas lágrimas caíram e todos tiveram que recuar. Mas há cada vez mais corações revoltados, até os mais duros. E nenhuma barricada fica de pé quando o amor se apaixona por uma causa. Vá para o lado do povo, governador, enquanto há tempo.

Foto: André Nery/Facebook.com/FolhaPE