Publicado às 04h05 desta sexta-feira (19)

Em dois anos de relacionamento a serra-talhadense Roberta Barros, 27 anos, (foto) aguentou o comportamento violento e as constantes agressões do, agora, seu ex-namorado (identificado apenas como Júnior) com a esperança que ele mudasse de postura.

Mas na madrugada desse domingo (14) tudo mudou. Roberta foi espancada com duas sessões de socos e mordidas no bairro Ipsep e no Bom Jesus, que terminou viralizando nas redes sociais. O fato acabou expondo a vítima e gerando uma onda de comentários que distorceram a sua versão do ocorrido.

A jovem aceitou conversar com a reportagem do Farol de Notícias na tarde dessa quinta-feira (18) na condição de esclarecer comentários caluniosos sobre a situação de violência que sofreu. As imagens compartilhadas nas redes sociais são muito fortes. Mostram Roberta chorando, com várias marcas de sangue pelos braços e rosto.

“Tudo começou na casa de uns conhecidos. Fomos assistir uma live e no final ele [ex-namorado] já tinha bebido desde cedo e na hora de ir embora ele disse que queria dormir na casa desse pessoal. Ele não estava bêbado ao ponto de não conseguir ir para casa, estava normal. Não tinha necessidade de dormirmos lá porque estávamos de carro com amigos, não era ele quem iria dirigir. Falei: ‘eu não quero dormir aqui”. Ele começou a se alterar e a xingar achando ruim porque eu não estava aceitando, fomos para o carro e lá ele deu um soco na minha cara. Foi o primeiro soco, eu sangrei na hora, cortou minha testa perto da sobrancelha. E também mordeu meu ombro, que tá roxo e muito feio. Essa mordida foi em cima de outra cicatriz antiga de mordida que ele já havia me dado. Fomos para casa, o amigo dele e a esposa me colocaram dentro de casa deles para tomar um banho porque estava muito suja de sangue”, detalhou Roberta, completando:

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“Eu não queria entrar na casa dos pais dele, chamei uma moto para ir embora, mas ele não me deixou. Tentei sair, quando abri a porta ele me deu outro soco no mesmo lugar que tinha sangrado, saiu muito sangue. Os pais dele ficaram assustados e desesperados, ele me agarrando como se quisesse domar um animal, como se eu fosse um animal. Me mordeu novamente, e eu gritando de dor porque ele não queria soltar, mordia e segurava, ele me torturou. Depois ele se acalmou, mas eu não tive como sair da casa dos pais dele. Tive que ficar lá o domingo todo, do sábado (13) para o domingo (14), mais ou menos umas 3 horas da madrugada. Só consegui sair na segunda (15) porque eu menti dizendo que vinha para a casa da minha mãe e mais tarde voltava, como era o meu costume. Deixei minhas coisas lá, porque não tive como trazer, ele ia desconfiar que eu estava indo embora. Depois desse dia eu não voltei mais e ele só atrás de mim, não deixava eu ir embora. Me prendia”.

DIFAMAÇÕES NA INTERNET

Roberta comentou que não teve coragem de fazer a denúncia na Delegacia de Polícia, mas foi feito um B.O. anônimo e a vítima foi procurada pelas entidades responsáveis. A Patrulha Maria da Penha a encaminhou para a DP, nesta quarta-feira (17), onde prestou queixa e em seguida foi ao Hospital Regional Professor Agamenon Magalhães (Hospam) para o exame do corpo de delito. Ainda de acordo com ela, a polícia foi atenciosa e garantiu sua segurança através da medida protetiva, que deve ser expedida nos próximos dias.

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“Eu não merecia apanhar, eu não merecia. Se eu cometesse uma traição que me deixasse, mas não desse um murro na minha cara, me espancasse ou me agredisse. Muita gente está colocando nas redes sociais que o motivo foi traição, mas eu quero deixar claro que o motivo não foi traição como estão colocando nas redes sociais, me expondo, denegrindo minha imagem e não é verdade quem conhece Júnior e quem convivia com a gente sabe que ele era agressivo. O jeito agressivo dele é desde o início do relacionamento, eu dava oportunidade porque achava que ele ia mudar”, esclarece Roberta, fazendo um alerta:

“Toda mulher que passa por um relacionamento com agressor acredita que vai mudar, se ilude. Todo mundo falava que eu gostava de apanhar e eu estava assim porque eu queria, nada disso. Ele chegava a dizer que eu merecia apanhar, só que eu não merecia. Chegaram a dizer que meus parentes foram me tirar da casa dele e eu não quis, isso é mentira. Eu nunca envolvi minha família em nada, nem meus pais. Se minha família tivesse ido mesmo atrás de mim eu não estaria com ele há mais tempo. Eu espero que tudo isso sirva de exemplo para muitas mulheres, porque o agressor não muda. Eu gostaria que outras mulheres que estão nessa situação também consigam sair”.

INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO

A rede de proteção a vítimas de violência contra a mulher em Serra Talhada reuniu Centro de Referência de Atendimento a Mulher, Polícia Militar e Civil. Segundo o delegado regional, Olegário Filho, o pedido de medida protetiva vai imediatamente para o judiciário e sai antes da conclusão do inquérito. Se deferidas pelo juiz, o agressor fica impedido de manter qualquer tipo de aproximação ou contato com a vítima. Como não houve flagrante, o suspeito não será preso à princípio.

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Ao Farol, a coordenadora do CEAM, Rose Silva, revelou que a jovem já havia prestado queixa contra o namorado no dia 23 de dezembro de 2019. Segundo ela, o compartilhamento desenfreado das imagens de Roberta nas redes sociais tem causado um efeito negativo sobre o caso, ao invés da reflexão da importância do ato de coragem que ela tomou ao denunciar a violência.

“Desde ontem que estamos tentando fazer com que esse vídeo pare de circular. Entenda, quanto mais exposição dela, mais risco ela pode correr e, infelizmente, tem pessoas que não compartilham para ajudar. Foi um caso que chocou até a equipe pela crueldade, pela situação que ela estava, uma jovem linda, e que precisa da ajuda de todos nós. Nenhuma mulher de Serra Talhada está só”.

FAROL ADVERTE

Em caso de violência doméstica, agressão física, sexual, psicológica, moral ou patrimonial ou cárcere privado em Serra Talhada ligue para os seguintes telefones: Denúncia 180 | Polícia 190 | CEAM (87) 9 9610-5152 (Telefone e WhatsApp).