Fotos: Farol de Notícias/Max Rodrigues

Publicado às 04h42 desta terça-feira (11)

Um dos primeiros comércios de Serra Talhada com mais de 70 anos de tradição e resistência, localizado na Praça Sérgio Magalhães, iniciou como alfaiataria e se tornou uma loja de tecidos que foi referência na cidade. Neste mês de agosto, a Casa Penha fechará as portas com certa tristeza da família, porém lisonjeada por ter conseguido manter um legado por três gerações.

A equipe de reportagem do Farol de Notícias conversou com Marta Cristina Sá, 55 anos, uma das proprietárias e responsável por manter a loja após a morte do pai, Modesto Sá, e seu avô, Luiz Gomes de Sá, que dedicou 35 anos da sua vida ao comércio da família. Ela confirmou o fechamento da tradicional Casa Penha e fez uma retrospectiva da história da loja que teve início por volta da década de 1940.

”Essa loja tem mais de 70 anos, era do meu avô Luiz Gomes de Sá. Antigamente era uma alfaiataria porque meu avô era alfaiate. Ele começou a vender tecidos até que se transformou na loja. Meu avô faleceu com 93 anos e ainda vinha para a loja trabalhar. Ele foi o primeiro alfaiate da cidade, o primeiro juiz de paz, foi o primeiro maestro da banda sinfônica, foi um dos primeiros comerciantes daqui. Quando eu tinha 15 anos, pai me chamou pra ajudar porque já estava com a vista muito curta, ele faleceu de câncer há mais de 20 anos e eu fiquei tomando conta da loja, meu irmão, Márcio, também me ajudava, mas ele não tem paciência para o comércio”, explicou Cristina.

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Alfaiataria em agosto de 1946

Marta Cristina, emocionada, relembra da época do avô e do pai, de algumas brincadeiras do Sr. Modesto com os clientes e diz que na época existia uma parceria muito bonita entre os comerciantes algo que segundo ela, era a coisa que achava mais interessante, que se perdeu nos dias de hoje.

”Meu avô era um homem muito inteligente, muito culto e meu pai era muito brincalhão.  Na época que o tecido de bola estava na moda, as pessoas chegavam e perguntavam: ‘Senhor Modesto  tem tecido de bola’? E papai dizia: ‘tem não porque as bolas estouraram tudinho’. Era muito interessante as vendas. O pessoal vinha comprar mortalha, a calça para os homens e as vezes tinha só a costura do bolso e diziam que as calças não tinham bolsos, ele brincava, ‘ vai levar documento, vai levar dinheiro?’ Mas, a coisa mais interessante era a parceria entre os comerciantes João do Bode, Dona Bé, Gilberto Godoy. Eles eram muito amigos um do outro, eles se ajudavam, eu achava muito bonito porque hoje em dia a gente não ver isso,” relembrou Marta Cristina.

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Ao ser questionada sobre a motivação do fechamento da Casa Penha, a empresária afirmou que a decisão foi tomada pela família, por faltar outro membro que pudesse continuar com o legado, porque Cristina pretende se dedicar apenas a docência. Ela é professora há 20 anos, e para poder descansar, após tantos anos de dedicação ao comércio. Ela afirmou que a decisão não tem nenhuma relação com a pandemia.

”Estou fechando agora porque sou professora e é uma dupla jornada muito pesada e também achamos que está na hora de parar, para dar até um descanso para mim porque a gente vai cansando e a maioria dos meus irmãos moram fora. Tem um que trabalha mais viajando, outro é doente não dá para outro continuar o legado da Casa Penha. Foi uma decisão da família desde antes da pandemia, a pandemia não nos prejudicou em nada, já era um plano da gente. Eu amo isso aqui, mas não estou mais dando conta de dois trabalhos”, admitiu.

EMOÇÃO E SAUDADES

Foi com os olhos marejando que Marta Cristina falou da tristeza de ter que fechar, momento este que pra ela é doloroso, mas ao mesmo tempo seu olhar foi condizente com suas palavras ao afirmar que se sente feliz e lisonjeada por ter ficado a frente da loja e ter mantido por tantos anos. Expressou gratidão a Casa Penha, aos clientes, amigos comerciantes, ao avô e ao pai pelos ensinamentos.

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”A Casa Penha sobreviveu a muitas crises, já estava com a terceira geração, é triste ter que fechar. Tem hora que a ficha não cai, mas a gente tem que desapegar, embora seja muito doloroso. Não é fácil, a gente tem que ter coragem pra fazer isso, mas a vida continua. A gente tem que pensar na gente, na saúde, chega me dói porque eu amo isso aqui. A pesar de ter que fechar eu me sinto muito feliz e lisonjeada de ter dado continuidade porque perpetuamos esse legado durante muitos anos e se não tivesse outro trabalho iria continuar. Fico muito feliz por meu pai e meu avô ter deixado esse ensinamento do comércio. Eu tenho muito que agradecer a Casa Penha, aos clientes e aos amigos comerciantes. Foi a melhor coisa pra mim,” finalizou emocionada.