Publicado às 15h30 desta quarta (16)

O Farol de Notícias conseguiu conversar com a família da jovem estudante da escola Solidônio Leite, vítima de um crime bárbaro em Serra Talhada, no bairro da Caxixola. Girlene Filismino de Souza, 35 anos, mãe de Gyslane Ágda Filismino Neto, de apenas 17, conta com muita dor como era sua filha, como descobriu o corpo e como o assassino foi pego.

Ela revela detalhes da investigação do caso que chocou o município nos últimos dias. O acusado, Alexsandro da Silva Aureliano, 24 anos, teve a prisão preventiva decretada nesta terça, 15 [veja o vídeo aqui]. A entrevista foi realizada pela repórter Jéssica Andrade com fotos de Max Rodrigues.

ENTREVISTA GIRLENE SOUZA, 35 ANOS

Por Jéssica Andrade, especial para o Farol

Farol – Qual foi a última vez que a senhora viu sua filha?

Girlene – Ela estava na casa do namorado, tiveram uma briga e ela veio para casa na sexta-feira, dormiu tranquila aqui, quando foi no sábado de manhã ela desceu para casa de minha mãe e disse: Mãe vou para casa de vó, com meu tio Cicinho e tia Gorda, pra gente ir para pescaria e eu disse: tá bom minha filha. Aí deu 14h eu liguei para minha irmã e disse Gorda cadê Gyslane? E minha irmã respondeu que ela não foi para o rio, aí eu disse logo: Oxente, Gorda, eu achei que essa menina estava no rio e ninguém dá satisfação de nada, do que aconteceu e nem me falam para onde essa menina foi, foi quando a tia disse que ela saiu descalça, com a colega e ela disse que podiam ir andando para o rio que ela ia atrás.

Farol – Que a senhora saiba, quais os últimos contatos que Gyslane teve?

Girlene – Ela chamou essa Vitória, que ia saindo para comprar um cigarro, falando que esse rapaz [o acusado] tinha convidado elas para tomar uma cerveja. Ela disse: eu vou, vou chamar Vitória [uma amiga] para ir comigo, só que eu vou para o rio. Quando chegaram na casa desse rapaz, Vitória disse que não ia entrar, que não gostava desse rapaz, Gyslane entrou e Vitória ficou aguardando do lado de fora e nada dela sair, ficou a porta escorada, então ele [o acusado] voltou e disse a Vitória que ela podia ir para casa, que Gyslane iria ficar. E depois ela descia e ia para o rio. Então, Vitória foi embora, comentou com uma vizinha e ele disse que ela tinha saído em uma moto vermelha e foi assim o dia todo Vitória repetindo isso.

Farol – E depois?

Girlene –  E eu com o sentido que ela estava no rio e isso aconteceu de manhã. De noite ela não chegou e fiquei preocupada, ela sempre dizia aonde ia, ligava avisando e nesse dia ela não avisou. Eu sempre pedia para ela ter cuidado, com medo de acontecer o pior. De noite fui na casa desse rapaz, que não era nada dela, nem amizade tinha, eles se conheciam de “oi e tchau”. Minha filha era uma menina jovem, bonita, bem feita, quando se arrumava, chamava atenção. Eu creio que pela conversa dele, pelo comportamento dele eu acredito que ele seja um psicopata.

Farol – Ela era sua única filha?

Girlene – Não, eu tinha ela de 17 anos e uma menina de 2 anos.

Farol – Em que momento a senhora decidiu procurar a polícia?

Girlene – Sábado, 16h minha irmã disse que ela não estava com ela e confirmou que ela estava na casa desse rapaz, eu fui saber quem era, ela me disse que era um tal de Alex. De noite, eu fui lá e isso minha irmã já tinha ido na parte da tarde também. Cheguei lá e disse: “Cadê minha menina? Daqui ela não saiu, os vizinhos falaram que não viram ela sair”, eu tentava falar com ele, mas ele não colocava o corpo todo pra fora da casa, se ele fosse uma pessoa que não tivesse culpa, naquele momento ali ele teria dito: “Já que a senhora está desconfiando de mim, entrem e olhem a casa”.

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Farol: E o que ele respondeu?

Girlene – Só me respondeu que tinha saído nessa moto vermelha e pronto. Jamais minha filha ia sair como ela estava, ela colocou uma roupinha velha para ir pescar no rio, até descalça ela estava, o celular deixou comigo para poder ficar carregando, desconfiei logo que a história estava mal contada. Fiquei sem dormir, com o sentimento que tinha acontecido alguma coisa.

Farol: Aí quando a senhora voltou à casa dele?

Girlene – No domingo eu voltei na casa dele, cheguei lá bati na porta muitas vezes e ninguém atendeu, voltei para minha casa com minha bebê no colo, mas não fiquei em paz e voltei lá. Foi quando a vizinha dele disse que ele só esperou eu dobrar a esquina e saiu. A vizinha me disse: “Faça o seguinte, pegue o nome da rua o número da casa e vá na Delegacia, esperei até para ver se minha filha ia dar alguma notícia. Arrumei as coisas de minha filha, procurei no Facebook se tinha alguma pista, queria ir na delegacia, mas não tinha nenhuma prova. Minha irmã ficou preocupada com medo dele fazer algo comigo, mas ele precisava dar de conta dela, viva ou morta, porque ela entrou lá e não saiu e disse a minha irmã: “Eu não vou esperar minha filhar aparecer podre, despedaçada em algum canto não”.

Farol: Quando a senhora buscou a Delegacia?

Girlene – Na segunda fui para delegacia, falei com os policiais. A polícia foi na casa dele e não achou ele. Meu irmão veio e perguntou se a polícia tinha vindo e eu disse que estavam na casa dele, meu irmão foi lá e não viu a polícia. Aí falei com meu irmão que ia na Delegacia de novo para saber o que tinham resolvido. Meu irmão disse que era melhor a gente achar ele e levar no táxi. Meu irmão achou ele no bar da esquina e colocamos ele no táxi e fomos para Delegacia. Nem o endereço da rua ele sabia dar, eu que tinha anotado no papel e passei para polícia, perguntaram se ele era natural daqui, ele disse que era de Belmonte e que veio morar aqui em abril desse ano. Demos o depoimento e fomos liberados.

Farol: Quando ele confessou?

Girlene – Foi quando um policial me chamou e perguntou o que tinha acontecido, quando expliquei, ele chamou o rapaz lá para dentro e no instante ele confessou e quando o policial perguntou porque ele tinha matado minha filha ele respondeu “matei porque quis”. Acabou com a vida da minha filha. Eu ficava só pensando como podia ser uma situação dessa, uma mãe sem saber da filha e o infeliz dizia: “Se continuarem me acusando vou processar vocês e vou colocar na cadeia que estiver dizendo que fiz coisas que não fiz”, ele dizia a mim que não sabia de nada, quando confessou ao policial fiquei sem chão.

Farol: A senhora participou das buscas a sua filha?

Girlene – Quem achou ela na terra foi o policial e o meu esposo, a roupinha dela estava rasgada, ela toda machucada, eu nem quis olhar. O policial disse ao meu esposo, tire esse galho e essa terra aí e vá cavando, que tem algo estranho, quando pensou que não, ele viu o cabelinho cacheado dela e o policial disse: “Pronto, agora vou dá a voz de prisão a ele”. Quantas vezes eu bati na porta desse infeliz?! E minha filha estava ali e eu sem saber. Tem 35 anos que moro nesse bairro, vim ainda bebê, eu conheço todos os cantos, eu estava disposta a cavar da casa dele até a serra verde, eu precisava achar minha menina, ainda cavei em um terreno enquanto a polícia estava em outro, alguma coisa me dizia que ela estava ali por perto, eu sentia isso. Eu, no coração de mãe, sabia que que tinha algo errado. Quando ela chegou na sexta com a bolsa cheia de coisas, vinha da casa do namorado, só colocou tudo no cantinho e foi dormir. No domingo eu estava ajeitando as coisas dela, eu falei para meu esposo “eu estou arrumando as coisas de Laninha aqui, mas eu sei que minha filha não está mais nesse mundo, eu sinto, o que eu faço?!

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Farol: Foi quando a senhora começou as buscas…

Girlene – Meu esposo [o padrasto de Gyslane] disse: “Dê uma pisa nela quando ela chegar, por que isso não é coisa de fazer com uma mãe”. E eu respondi: “Eu só quero que ela chegue viva, mas eu sinto que ela não está”. Fui mexer no facebook pela televisão, que era como ela olhava, pra ver se tinha alguma coisa, aí vi os números de um uns irmãos meus por parte de pai, fui ligando para eles e falando e eles perguntaram se podiam colocar como desaparecida, e eu disse que sim. Comecei a perguntar as pessoas e todo mundo dizia que não tinha visto ela, aí eu pensei “ela não está viva mais”. Eu pensei que ia ter um infarto ontem(14) na delegacia, resolvendo aquelas coisas, nem comer eu estou conseguindo. Foi um choque para mim que eu não desejo para mãe nenhuma.

Farol – E ninguém da vizinhança dele desconfiou ?

Girlene – O vizinho disse que no sábado à tarde parecia ter uma farra lá, ele botou o som em toda altura, Vitória [amiga de Gyslane] que foi lá atrás dela disse que era o som alto e a TV ligada, mas não escutava a voz dela. Ele estava sozinho na casa [no momento do crime], mas eu fiquei sabendo que ele mora com uma irmã que no dia do ocorrido estava em Belmonte, só chegou na segunda.

Farol – A sua família conhecia o acusado? Como a senhora o define?

Girlene  Eu, para ser sincera, nunca tinha visto essa criatura na minha vida. Não sabia que o nome dele era Alex, já vim saber por outros. Não sabia onde ele morava, fui atrás quando ela sumiu, para poder ir atrás. Eu não sei nem o que falar dessa criatura, se é um psicopata ou esquizofrênico, sei que ele é impaciente, ficou de um canto para outro, sem postura nem para falar com a polícia, foi que o policial deu uma chamada nele pra ele parar. O pescoço dele estava todo arranhado, falaram que teve luta corporal, ela era grandona, valente, eu sei que minha filha lutou até o fim. Eu penso assim, como ela disse que não ia demorar, que ia para o rio, ele já deve ter trancado minha filha e ela não teve defesa nenhuma. Ele não tinha relacionamento com ela, não namorava com ela, no meu pensamento, como eu conheço minha filha, acho que ele estava sondando ela, queria uma chance com ela, mas ela não queria e a única coisa que ele podia fazer era chamar ela para casa dele para diversão, ele não podia fazer nada com ela apulso e depois soltar ela, sabendo que ela ia para polícia. Ele é um psicopata, eu já soube pelo outros a situação, eu não quero nem comentar como minha filha foi encontrada.

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Farol – Como era sua relação com Gyslane?

Girlene – Minha relação com ela era boa, ela conversava comigo. Ela me escutava muito, eu sempre a orientava. Quando eu ia trabalhar eu passava na escola pra ver se ela estava lá, quando ela chegava da escola eu olhava os cadernos dela, eu acompanhava tudo na vida dela. Eu perguntei porque ela veio da casa do namorado, ela estava tão bem e ela disse: “Mainha, não foi nada, só uma discussão besta, me enraivei e vim embora”. Minha filha veio só morrer.

Farol – Ela estava grávida, a senhora confirma essa história?

Girlene – Assim, eu estava na Delegacia e a sogra dela foi para lá me dar apoio e falou: “Vão deixar assim? Tem que resolver, porque não é só vida dela, eu tenho certeza que ela está grávida do meu filho”, e ela já tinha falado comigo que estava com a menstruação atrasada, mas falei para ela esperar mais um pouco para fazer o exame. Mas depois que a sogra dela falou, eu tive a certeza.

Farol – Gyslane estava em que série?

Girlene  No segundo ano do ensino médio, estudava no Solidônio Leite

Farol – A senhora tem alguma mensagem para as mães, que sirva de alerta?

Girlene Sim, eu quero dizer a todas as mães, que tenham seus adolescentes em casa, que conversem com eles, que acompanhe, vá na escola, sempre participe das reuniões, procure saber com quem anda. Se você que é mãe não conversar com seu filho, ele vai procurar conversar na rua e não é a mesma coisa. As pessoas dizem: “Ah, meu filho quando completar 18 anos eu não quero saber da vida de dele, ele faz o que quiser”, e eu sempre critiquei isso, sempre disse que minhas filhas serão sempre minhas meninas e eu sempre vou querer saber tudo. E eu soube onde ela estava, eu sabia que ela não saiam sem me avisar, tinha algo errado e eu sentia. A dor que eu estou sentindo, eu não desejo para mãe nenhuma. Eu falei com minha filha, pedi para ter cuidado e não confiar nas pessoas. Quando aconteceu um caso de duas meninas que foram para a praia, e foram encontradas mortas, eu mostrei a ela a reportagem, chorei falando: “Como as mães devem estar? E ela me disse, eu sei mãe, eu tenho cuidado.”

Farol: – A senhora sabe sobre como anda a investigação do IML?

Girlene – Fui na Delegacia, por conta do braço dela que não estava junto do corpo, eu precisava prestar outro B.O., fazer outra perícia, porque para levar para lá, tinha que ir com o braço. Ela vai para Petrolina, amanhã eu vou ter que ir lá para fazer o exame de DNA, venho para casa e ela vai ficar lá, só vai ser liberada quando sair o resultado do exame, também vão fazer outros exames para confirmar a gravidez e se houve estupro, me falaram que vai demorar um pouco e quando chegar aqui, vamos direto para o cemitério, porque devido a pandemia não pode ter velório e também por conta do estado do corpo dela, que pela decomposição ela foi assassinada no sábado logo cedo.