Ele está com 77 anos e reside atualmente em Serra Talhada. Cirilo Diniz de Carvalho era funcionário dos Correios em Recife, no dia 31 de março de 1964, quando os militares derrubaram o presidente João Goulart e prenderam o então  governador de Pernambuco, Miguel Arraes. Passados 48 anos, Cirilo ainda guarda na memória cada momento dos anos de chumbo.

“Não houve revolução. Houve um golpe dos militares contra um governo eleito pelo povo. Revolução foi a de 1930”, relembra. No dia 9 de abril de 64, Cirilo Carvalho foi preso no quartel do Exército, em Recife, onde ficou por 50 dias. “No dia da minha prisão foi assinado o Ato Institucional número I (AI-I) que limitava as liberdades individuais. Fiquei preso na 2º Companhia de Guarda sob o comando do coronel Ibiapina”.

Segundo ele, a razão da prisão teve haver com atos de solidariedade, uma vez que  ele costumava levar trabalhadores lesados nos seus direitos para serem atendidos e aconselhados por Paulo Cavalcanti (advogado comunista falecido) e  Francisco Julião, líder da Ligas Camponesas. Ele conta que no período em que passou no cárcere não foi torturado mas viu e ouviu companheiros e companheiras em sessões de tortura. “Ouvia gritos e pancadarias”, relembra.

Perdão?

No momento em que se criou no Brasil a Comissão da Verdade, para  punir os crimes de tortura praticados entre 1964 a 1985, Cirilo Carvalho acha que tudo tem que ser visto apenas sob o aspecto histórico. “Deve-se seguir a máxima de Jesus Cristo. A verdade deve vir à tona apenas para a história e nada mais”, acredita o ex-preso político. Ele demonstra decepção com o cenário do Brasil de hoje. “Não existe mais ideologias e nem ideais, acabou. A história tem que ser contada como foi”, finalizou o sertanejo, nascido no munícípio de Mirandiba.