Publicado às 18h19 desta quarta-feira (12)

Após a morte trágica do empresário Neidivan Alves, neste início de semana em Serra Talhada, o Farol entrevistou a neuropsicóloga Dra. Ana Estevam para comentar, do ponto de vista clínico e científico, o polêmico tema do suicídio. Esta matéria propõe uma análise aprofundada, posto que, em menor ou maior grau, casos assim tornam-se cada vez mais recorrentes na cidade. Como a pandemia pode afetar a saúde mental dos serra-talhadenses? Como as famílias podem ficar alertas a determinados sinais? O que fazer quando isso for perceptível? Vale à pena conferir. A Dra. Ana Estevam atende no Espaço NeuroPSi, no Centro da cidade.

ENTREVISTA COM A NEUROPSICÓLOGA

ANA ESTEVAM SOBRE SUICÍDIO

Farol: Quais os principais sinais de uma pessoa que possa vir a tirar a própria vida?

Ana Estevam: É bastante comum ligarmos os casos de suicídio exclusivamente a pacientes deprimidos, mas existem outras condições de vida ou psiquiátricas que também podem colaborar para que o ser humano chegue uma situação como esta. Alguns desses fatores que podemos citar são os transtorno de personalidade, esquizofrenia, o alcoolismo, entre tantas outras. Outros pontos que podemos observar como sinais de suicídio são as mudanças no comportamento, mudança das rotinas de vida, falta de cuidado pessoal. São pessoas  que se isolam com muita frequência, com tendências de pensamentos negativistas e com frases bem específicas como: seria melhor se eu não existisse, a vida ficaria bem melhor sem mim, ou simplesmente algo do tipo “se eu morresse tudo isso seria solucionado”, esses são pontos que precisamos observar na vida e no discurso do paciente com bastante cautela na intenção de entender quem é o paciente suicida, o que ele traz previamente, alguma situação psiquiátrica ou algum estilo de vida, algum envolvimento com alcoolismo ou com outras drogas que acabam colaborando para o risco maior do suicídio.

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Farol: Como a família pode ajudar?

Ana Estevam: O primeiro passo para ajudar o paciente ou familiar que traz uma tendência suicida é saber identificar e saber dar ouvidos sem questionar tais sentimentos. O que o paciente suicida mais questiona é a falta de entendimento, principalmente por parte de parentes e amigos, por não acreditarem na fragilidade do momento que eles vivenciam. O sofrimento do paciente suicida é o que o leva a querer dá um ponto final na sua própria vida, então nós precisamos identificar como em todo e qualquer sofrimento dessas pessoas, são sofrimentos em potencial que acabam prejudicando muito a vida de cada um levando eles a tal decisão. Ter paciência, saber ouvir sem julgar e posteriormente a isso procurar uma ajuda mais específica, identificando se o paciente precisa de um auxílio psiquiátrico ou psicológico, ou ambos os cuidados. Porque estando entregue a mãos de profissionais competentes o risco que ele corre diminui cada vez mais.

Farol: Você percebe um aumento de casos de suicídios em Serra Talhada?

Ana Estevam: Não somente em Serra Talhada, mas no mundo. Nós estamos percebendo um aumento significativo de casos de suicídio, por mais que a saúde mental venha sendo trabalhada, venha sendo divulgada, algumas pessoas ainda não conseguem aceitar a proximidade de tais fatos dentro da própria família, dentro do ambiente de trabalho e acabam ignorando essas situações não prestando a ajuda devida. Sei e entendo que algumas pessoas que cometeram suicídio eram pessoas que estavam sendo acompanhadas por psiquiatras, por psicólogos, existem fatos específicos, mas, é muito interessante pontuarmos a questão da falta de entendimento sobre o que é a saúde mental e que ajuda nós podemos prestar, pois um grande número de pessoas têm apontado a necessidade de ser ajudado não tem recebido o auxílio devido.

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Farol: Você acredita que a pandemia colaborou com os casos?

Ana Estevam: Como nós sabemos que o suicídio tem uma ligação direta com a saúde mental, devemos entender também que a pandemia produziu o adoecimento da saúde mental. O que nós temos são mais pessoas ansiosas, temos pacientes que já traziam ansiedade com a ansiedade mais intensificada, temos pacientes deprimidos que precisavam de uma manutenção de vida social para se manter mais saudáveis, cada vez mais deprimidos. Isso nos leva a uma conexão de pensamentos, não uma afirmativa concreta, se a saúde mental está se agravando por conta da pandemia, essa saúde mental mais adoecida pode provocar sim o aumento dos casos de suicídio, mas ainda não se tem um estudo que aponte tais referências. Estudiosos já devem estar fazendo esse levantamento para que se tenha uma resposta muito mais concreta dessa situação.

Farol: Que mensagem você deixa para as pessoas que estão passando por isso ou estão vendo pessoas com sinais suicidas?

Ana Estevam: A saúde mental precisa ser levada a sério os seres humanos estão fragilizados, principalmente nesse período que vivemos, que é um período de muitas incertezas, é um período de insegurança, de desconhecimento de tantos fatos e de tantas doenças e por isso a saúde mental se fragiliza. Nós temos que levar em consideração que ter uma boa saúde mental nos traz um resultado promissor de vida e a falta dela nos traz consequências. Nós devemos sim acreditar nos relatos de pessoas conhecidas quando elas se direcionam com questões como: pensamentos negativistas, frases com ideações suicidas do tipo “eu não mereço viver”, “a vida ficaria melhor sem mim”. Devemos levar em consideração também, que mesmo após uma crise de um paciente deprimido, de um paciente ansioso, ele ainda se encontra em risco de vulnerabilidade em relação ao suicídio. Para os pais dos adolescentes e das crianças ou pré-adolescentes eu gostaria que todos ficassem em alerta, porque este público também apresentam um risco em potencial, então pacientes infantis ou pacientes na fase da adolescência que apresentam isolamento social, que trazem também quadro mutilações, como arranhões que às vezes provocam cortes (eles não vão se suicidar por esses arranhões ou cortes, mas esse já pode ser um pedido de socorro e um aviso da questão do sofrimento pessoal sobre seu emocional), todos nós temos que estar atentos. É bom lembrar dos pacientes da maior idade (acima de 60 anos), porque esse grupo também passa por um sofrimento intenso com a  perca da perspectiva de vida provocada pelo declínio da saúde física, mudança no comportamento social que geralmente ocorre após a aposentadoria, Essas questões também podem promover sentimentos ou estado depressivo no idoso. E se você percebe que você mesmo está com sofrimento emocional um pouco mais intensificado não esperem que lhe deem ajuda, busque você mesmo ajuda e traga emocional para sua vida, para que você consiga ter uma boa saúde mental nesse momento e futuramente.

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