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Em 2015, o FAROL entrevistou diversos talentos e revelações. E o grupo de maior destaque da nova música popular brasileira no cenário pernambucano é a ‘bandavoou’, capitaneada pelos jovens Calos Silva e PC Silva. “Carlinhos” visitou a redação do FAROL esta semana junto com um dos produtores do grupo, Marco Túlio. O músico avaliou 2015, falou sobre o lançamento oficial do primeiro álbum ‘Nó’ e traçou planos para 2016. Confira a entrevista completa! As fotos são de Alejandro García.

ENTREVISTA COM CARLOS FILHO – BANDAVOOU

FAROL: Carlos Filho, é um prazer te receber na redação do FAROL, gostaríamos de começar essa entrevista com você fazendo um balanço de 2015, que a bandavoou finalizou em grande estilo com o lançamento oficial do primeiro álbum no teatro Santa Isabel, em Recife.

CARLOS FILHO: Primeiramente é um prazer para a gente, de verdade, sempre reforçar isso da abertura que o FAROL tem e uma preocupação que vocês têm com o conteúdo para toda a região. Sobre o ano é legal falar sobre isso porque foi muito corrido, muito intenso e de muita expectativa no começo. Ano passado viemos aqui falar que iríamos lançar o disco e é muito bom chegar no final do ano e ver que os planos se concretizaram, é fruto de muito trabalho também. Mas o mais legal foi poder ter saído do estado e fazer shows importantes como em Brasília com Chico César, em São Paulo no Ibirapuera com Milton Nascimento e em Natal com o único brasileiro a ganhar um Grammy e veio produzir um single da gente, enfim.

Isso foi dando um caldo maior para nós, no sentido de crescer e se expandir cada vez mais. E sempre carregando o nome de Serra para onde a gente vai. Fechar um show, fechar um ano em um show de lançamento em Recife, no maior teatro do Brasil, o Santa Isabel ganhou agora um prêmio de melhor teatro do Brasil de 2015, foi uma chancela, um carimbo de que deu certo o trabalho do ano e viemos para Serra para dar uma descansada e renovar as forças para começar de novo.

FAROL: Qual foi a sensação de lançar o primeiro álbum da bandavoou em um teatro como o Santa Isabel? Enquanto músico, o que você e seus companheiros sentiram naqueles instantes em contato com o público e aquele espaço?

CARLOS FILHO: Uma coisa curiosa, eu até postei no dia quando cheguei lá pela manhã e postei uma foto de celular do momento que entrei no palco e me conectei com todos os shows que fui lá, das coisas que eu aprendi. Eu devo muito ao teatro Santa Izabel nesse sentido de grandes nomes que eu vi lá da música brasileira. E eu postei assim: “Para um músico matuto como eu, tocar em uma casa como essa é um sinal de que ou algo deu certo ou vai dar muito certo”. Porque é isso, lá que eu ia para ver Guinga, que eu fui ver Iamandu , Leila Pinheiro, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, essa turma toda. Então, estar tocando ali é muito bom nesse sentido.

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E é curioso também, porque talvez as pessoas que leiam não percebam isso, mas esta falando agora desse momento, porque em um momento do show eu me conectei com o Cist, que é aqui do lado. O primeiro lugar que eu toquei nessa ideia de tocar para alguém. E aí eu fiquei falando com Pc e ele me perguntou: ‘E aí, bom?’ e eu lhe disse: ‘Melhor que isso só no Cist’ e ele começou a rir. Mas essa coisa de você de repente com tanta correria, com tanto trabalho, perceber que a gente está passando por locais importantes sem perder a ideia de que começamos no Cist e aqui em Serra. A sensação é essa, de ir percebendo e sentindo que a música da gente cada vez mais tem se conectado com as pessoas de uma maneira muito positiva. A sensação foi muito boa, foi emocionante, choramos no palco, foi muito legal.

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Outra coisa boa também é que a casa é bem grande, e em Recife sempre temos a média de fazer shows para até 300 pessoas e lá tinham 500. Então, além das pessoas que a gente sempre conhece, pessoas que viajaram, pegaram um ônibus de Caruaru, de Maceió, Natal e se deslocaram, porque quem vem acompanhando a banda a um tempo sabe que é um momento especial, fãs mesmo. Além desses fãs que acompanham sempre, familiares e amigos, deu uma renovação de público. A imprensa compareceu em um peso além do que normalmente comparece, isso a confirmação de um estabelecimento em um local que não é o nosso de origem. Foi uma vitória em relação a isso, diante de tudo que estávamos traçando e tinham barreiras, e lá a sensação foi como que essas barreiras foram rompidas e a gente se estabeleceu.

ESCUTE O PRIMEIRO CD DA BANDAVOOU – NÓ (SOUND CLOUD)

FAROL: Informalmente você falou sobre o disco e os caminhos entre Serra e Recife que você e PC percorreram nesses quatro anos de bandavoou. No entanto, em 2015 a estrada se alongou e vocês fazem um percurso bem maior que a BR-232, por quais cidades vocês passaram esse ano?

CARLOS FILHO: Foi um ano bem corrido, mas o que eu posso pincelar além dos shows em Recife que é o que a gente sempre faz e é sempre uma coisa muito legal, porque é um lugar que a gente se experimenta muito e o público exige da gente isso. Fizemos também um pré-lançamento que rodou um eixo do Litoral ao Sertão, fazendo Recife, Caruaru, Arcoverde e culminamos aqui na Festa de Setembro. Isso foi uma coisa muito simbólica, porque era a ideia que a gente tinha de evento cultural quando criança era a Festa de Setembro, se esperava a festa para ver as coisas, as pessoas e ouvir música. Para nós poder tocar na Festa de Setembro é muito significativo nesse sentido, de ir derrubando as barreiras.

O que acontece também de fazer o caminho inverso, posso citar vários artistas daqui, por exemplo Tico de Som que encontramos outro dia e conversamos sobre essa coisa de fazer o caminho inverso. Sair ser visto pelas coisas que você faz e de repente voltar aceito. Então, foi isso que aconteceu conosco, não era o primeiro show aqui e já tínhamos certa aceitação aqui nesse último show de setembro. Fizemos também um show em Natal na Pinacoteca, em um evento do Brasileiríssimos. Foi uma coisa linda, com bandas do Brasil todo como os destaques de cada estado e nós fomos representando Pernambuco, o que foi bastante simbólico porque temos uma quantidade de músicos muito rica e diversificada. Não fomos com a vaidade, mas com a ideia da responsabilidade de estar ali representando uma dezena de bandas que poderiam e deveriam estar ali. Esse evento foi incrível.

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Fora do Nordeste fizemos coisas muito legais, eu e PC fomos participar do Festival Popular do Gama, que é um festival popular nacionalíssimo, tem um histórico grande. Bandas como Legião Urbana, Capital Inicial e Cássia Eller tocaram lá, toda aquela turma de Brasília, era uma casa deles. E lá tinham uns jurados bem críticos, um pessoal envolvido com o rock desde a década de 80 e o principal tinha sido também tocar na mesma noite com Chico César. A gente já cruzava com ele por aí, mas sempre naquela relação de fã e ídolo e lá foi uma coisa em pé de igualdade, isso foi fantástico e vencemos esse festival ficando em primeiro lugar. Outra coisa foi também a nossa participação no disco do Elomá, que em música popular brasileira, para nós ele está entre os três maiores nomes de composição.

Porque ele consegue compor sobre a vida do homem sertanejo de uma forma muito erudita, ele é muito erudito. E gravar uma música com Elomá, no templo da MPB em Vitória da Conquista foi incrível. Outro momento importante foi a gente ganhar o Festival E-Samsung, que contou com mais de 500 bandas e poder cantar com Milton Nascimento, no parque Ibirapuera. Elô Borges também estava ali e entrar em contato com deuses, de repente estar ali nome mesmo palco tocando, isso foi uma coisa incrível. Além da aceitação do público, que a gente já foi com um pouco de receio, porque saiu em todos os veículos, todos os jornais. E São Paulo apesar de gostar de Pernambuco, eles são bem críticos por uma série de coisas que excede o artístico e vai para o âmbito político e social. Aquele show não foi só de música, foi algo político também. Mas aceitação o público foi incrível, a gente estava nessa preocupação.

FAROL: A bandavoou já tinha feito um pré-lançamento online do disco Nó, mas para vocês como é agora ter o trabalho de vocês em mãos, materializado em CD?

CARLOS FILHO: Isso é curioso, primeiro porque a gente vive em uma era que se escuta pouco disco. Até agora as pessoas compram o disco no show e dizem: ‘rapaz, eu não tenho onde ouvir’, mas quer o disco. O CD ainda tem essa característica lúdica e as pessoas gostam muito. Nós também devemos lançar em vinil ainda nesse ano, em uma tiragem pequena, mas lança.

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FAROL: Para finalizar essa conversa Carlos, diante de tanto sucesso conquistado, do nome da bandavoou fixado no cenário musical de Pernambuco, quais são os planos para 2016?

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CARLOS FILHO: Rapaz, os planos para 2016 é rodar ainda mais. Espero chegar aqui em dezembro de 2016 mais cansado do que eu estou, mas a ideia é essa. É rodar, a gente nunca deixou de rodar por conta do disco e não quer que isso diminua. A ideia para o primeiro semestre é cumprir uma agenda de alguns shows já marcados, já temos shows marcados em Recife, fora do estado também. Queremos muito passar em Serra com o lançamento, estamos estudando uma forma de viabilizar isso financeiramente. E ainda no primeiro semestre estamos fechando outro show no teatro Santa Isabel, que reforçou o convite de fazer um show lá com um nome de peso e relevância na cena nacional, mas por enquanto não posso dizer quem.

Esse momento inicial com o disco na mão pede um trabalho interno administrativo que é bem mais chato, que é sentar, entrar em contato com jornalistas, ligar, não é aquela coisa do glamour do palco, mas não menos importante. É legal de se falar hoje em dia, porque estávamos conversando com alguns artistas locais aqui, que dizem que não tem espaço e a gente vive em uma era que não pode reclamar de espaço, já foi muito pior. Então, a gente procura antes de reclamar e vir aqui no FAROL é importante porque mostra que tem espaço e que vocês têm uma preocupação com o conteúdo que não é mais o mesmo. E os planos para 2016 são esses, expandir cada vez mais o disco, vamos ter condições agora de trabalhar melhor o áudio visual, vamos lançar um clipe agora no começo de janeiro que é da música ‘Bebi’ e que foi gravado com a atriz Clarisse Pinheiro, que é muito famosa no Rio e ganhou agora um prêmio de melhor atriz com o filme ‘Casa Grande’ e esse clipe foi gravado em um bar de Recife bem legal.

Tem também clips de outras músicas que é uma das ferramentas da mecânica interior é a criação colaborativa, adoramos um conflito porque acreditamos que é a melhor forma mais rica de se criar alguma coisa. Os vídeos clipes serão produzidos por pessoas diferentes, cada música com uma produtora diferente, um diretor diferente de vários lugares do Brasil. Com cada um desses lugares que passamos e conhecemos alguém, gostamos do trabalho e pegamos o contato para trabalhar nesse sentido. O primeiro é da música ‘Bebi’ e sai agora em janeiro e os outros vão ficar saindo ao decorrer de cada mês do ano. Então é isso, além do áudio teremos esses vídeos que devem está saindo e durante o primeiro semestre devemos lançar três ou quatro. E é isso, vamos continuar com os shows e aparecer por aqui sempre que der.

ESCUTE O PRIMEIRO CD DA BANDAVOOU – NÓ (YOUTUBE)