A novela envolvendo a Adutora do Pajeú, obra que pode evitar que Serra Talhada e região entrem num grave colapso de água ainda este ano, ganhou capítulos dramáticos na noite dessa terça-feira (30). Durante reunião com a coordenação estadual do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca), no hotel São Cristovão, na Capital do Xaxado, prefeitos do Pajeú e órgãos do setor, como a Compesa, ouviram uma má notícia: a conclusão da obra deve acontecer, na pior das hipóteses, em janeiro de 2013. Ou seja, muito distante do que políticos vinham apregoando em comícios e o próprio Ministro Fernando Bezerra (Integração Nacional) prometeu. Nos discursos, outubro era o prazo máximo.

Segundo a coordenadora do Dnocs no estado, Rosana Bezerra, a obra se encontra 95% concluída em sua ligação até Serra Talhada, mas falta, neste momento, energia elétrica para bombear a água pelas tubulações. “Infelizmente temos esse obstáculo grande por conta da Celpe que nos deu um prazo máximo de 120 dias para instalar a rede elétrica da obra. Estamos no pé da Celpe neste momento para que eles concluam isso urgente”, garantiu. Rosana Bezerra destacou ainda que o Dnocs está ciente de que Serra Talhada entrará em colapso de água já em janeiro. No entanto, na reunião, foram levantadas hipóteses no sentido de minimizar o problema antes que isso venha acontecer.

“Diante desse grave quadro, acho que podemos entregar a obra com cerca de 70% concluída, faltando somente finalização da estação elevatória 3, que não vai afetar o abastecimento nessa região”, ponderou a coordenadora do Dnocs em Pernambuco, citando também a necessidade de se perfurarem poços artesianos para amenizar a problemática. Além da Celpe, outro fato, conforme relatou o Dnocs, tem impedido que as obras da Adutora do Pajeú caminhem com celeridade: a demora na entrega de peças. “Tivemos vários entraves no fornecimento de peças. São peças específicas que precisam chegar até a obra e ainda estamos aguardando”, informou a coordenação do órgão, resumindo: “Não conseguimos cumprir o prazo de outubro e não podemos dar prazo quando vários atores e outras pessoas estão atuando na obra. Neste caso, a Celpe foi quem atrasou”.

Um dos pontos também não menos interessantes no evento foi o fato de alguns debatedores, como o próprio projetista da Adutora do Pajeú, ter defendido a utilização da barragem de Serrinha para evitar o colapso hídrico na região. “Eu fiz esse projeto da Adutora em 2002, mas vejo que vocês devem reivindicar urgente a utilização de Serrinha”, disse. Mal sabe ele o quanto Serrinha serviu para eleger candidatos com essa promessa, e o quanto, de fato, se fez até agora com as águas da barragem.

A BATATA QUENTE

Quem esteve presente na explanação da coordenadora do Dnocs, Rosana Bezerra, na noite dessa terça-feira (30), notou que o objetivo principal do encontro foi esse: pedir ainda mais paciência à população. E passar a “batata quente”, toda ela, para a Celpe, que vem sendo a pioneira, segundo o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca, pelos conflitos burocráticos que andam travando a Adutora neste momento. “Estávamos vendo um conflito que todo mundo vinha colocando a culpa um no outro, e ninguém falava da Celpe, que é um órgão privado agora”, alfinetou Rosana Bezerra. “Agora temos que resolver conflitos burocráticos internos. Mas podem ter certeza que o Dnocs vai fiscalizar para que a obra caminhe o mais rápido possível”, prometeu Rosana Bezerra, sinalizando que não existe plano ‘B’ caso o prazo de janeiro não seja comprido. “Temos que trabalhar somente com o plano A”, arriscou em dizer.

Apesar de apresentar-se como uma obra problemática desde o começo, pois o projeto da Adutora do Pajeú existe há décadas, desde o governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), vários políticos, incluindo o secretário estadual de Agricultura, Ranilson Ramos, fizeram questão de usá-la no palanque durante a campanha eleitoral em Serra Talhada. Isso aconteceu também quando o próprio Ministro Fernando Bezerra Coelho esteve na Câmara de Vereadores cravando a entrega da obra para outubro deste ano. Agora, parece até um contrassenso pedir mais paciência ao povo quando a população pede pressa para não morrer de sede. O sentimento que ficou, após a reunião, é de que a Adutora do Pajeú não saíra em 2012. E que o problema será solucionado, em parte, só a partir do próximo ano. Que Deus nos ajude!