Publicado às 18h10 desta terça-feira (19)

Apenas mais de 400 anos da chegada dos colonos ao Brasil, o país passou a celebrar o Dia dos Povos Indígenas via decreto de lei, promulgada em 1943, ou seja, foi mais de quatro séculos de luta e resistência que se estendem na atualidade. Diante dos avanços de conquista de direitos e aos retrocessos, os povos originários permanecem reafirmando sua luta por direitos e para manter o legado das ancestralidades.

Segundo o Fundo Brasil, os povos indígenas enfrentam, ainda nos dias de hoje, problemas para além das questões territoriais como racismo, preconceito, violação aos direitos das mulheres indígenas, falta de acesso à saúde e serviços públicos, além da alimentação escassa e pobre em nutrientes. Devido as inúmeras dificuldades muitos decidem saírem das aldeias em busca de melhores condições de vida na zona urbana.

Neste dia de valorização da resistência dos povos originários, o Farol reverencia a luta de todos os indígenas brasileiros através da trajetória de duas guerreiras da etnia Atikum, da Aldeia Olho D’água do Padre, na Serra do Umã, em Carnaubeira da Penha, município que também é berço do povo Pankará, aldeados na Serra do Arapuá. As jovens concederam entrevista ao Farol e falaram sobre a representatividade desta data e sobre suas trajetórias. Assim como elas, muitos lutam para conquistar seus direitos e melhores condições de vida, para isso, muitos têm que deixar suas aldeias, contudo não é o caso de Izaela e Janaína, uma vez que permanecem na aldeia.

IZAELA ATIKUM

Izaela Maria da Silva, 25 anos é mãe da pequena Annawí e Anapuã, moradora da aldeia Olho D’água do Padre, na Serra do Umã, em Carnaubeira da Penha e professora de Libras da comunidade. Ela também é estudante do curso de Letras da Faculdade de Formação de Professores de Serra Talhada-FAFOPST, cursa 0 7º período, além de está no 4º período do Curso de Letras-Libras, pela Universidade Federal do Vale do São Francisco- Univasf, onde ingressou pelo sistema de cotas.

Veja também:   Estudante de ST não resiste e morre após AVC

Para manter a graduação, as dificuldades que enfrenta são além do que imaginamos. Com a chegada da pandemia se intensificaram devido ao local onde ela mora ser de difícil acesso e não ter internet, somente a pouco tempo, no final do ano passado, conseguiram instalar e acompanhar as aulas online. Outras adversidades são relacionadas a transportes, que em tempos chuvosos pioram.

”Por conta das dificuldades com transportes, muitas vezes, a gente perde prova, perde os conteúdos. Quando conseguimos ir, saímos de 16h e chega na aldeia de volta entre 1h30 2h da manhã, porque a gente pega outro carro de Carnaubeira para a aldeia. Sobre meu outro curso, o de Letras-Libras, fiz um curso no IF e me apaixonei, entrei na Univasf como contista pelo Enem. É EAD, tive dificuldade de me adaptar a plataforma, por conta da condição financeira não ter internet que suporte a plataforma, mas Graças a Deus vem dando certo. Estou no meu último ano de Letras (Português- Inglês) na FAFOPST,  a gente se forma esse ano se Deus quiser.” Fazer dois cursos é resistência! Esse é meu intuito, buscar conhecimento para trazer para meu povo”, disse Iza, acrescentando:

Veja também:   Corpo de barbeiro é encontrado no Pajeú

”Nossa história é de bastante luta para trazer políticas públicas para nosso povo. A gente vai para Brasília, para Recife, para o Palácio das Princesas fazer protestos, reivindicar nossos direitos e esse incentivo de luta vem sendo assim desde dos nossos ancestrais. Na prática, a gente vem comendo mesmo a nossa cultura, fortalecendo os nossos rituais, nossas lutas. Temos dificuldades por conta do conhecimento, essa era a maior dificuldade dos nossos ancestrais, por isso, eu e muitos da comunidade seguimos o exemplo de pessoas que foram bastante significativas nas nossas vidas. Eu, principalmente na questão de me reconhecer como indígena, levantar abandeira de ativista do movimento indígena e fazer com que os jovens e as crianças sejam participantes, conheçam porque nós jovens somos os progressistas do nosso movimento para dar continuidade a luta. Para isso precisamos de conhecimento para ir em busca de políticas públicas para nossa comunidade.”

JANAINA  ATIKUM

Janaína Cleonice da Silva, 31 anos é mãe de 2 filhos, professora há 2 anos, na Aldeia Olho D’água do Padre, na Serra do Umã, no município de Carnaubeira da Penha, no Sertão Pernambuco e luta para se manter aldeada, assim como luta pelos estudos e oportunidade de emprego na aldeia. Ela cursa o 5º período de Licenciatura em Letras, na Faculdade de Professores de Serra Talhada- FAFOPST. A rotina da jovem indígena é cansativa, chega da faculdade entre 1h30 a 2h da manhã, planeja suas aulas de manhã, a tarde leciona da escola da aldeia e da escola mesmo segue para faculdade, retornando o mesmo horário.

Veja também:   Médico serra-talhadense é preso suspeito de agredir esposa na PB

”A pesar das dificuldades sempre pensei em me manter na aldeia, nunca tive vontade de sair prefiro me manter aqui e esse é um dos motivos do porquê não me identifiquei com outra profissão, aqui só tem duas grandes oportunidades, na área da educação e na da saúde. Na saúde não me identifico, então fiquei na educação porque para a gente sair, certo que tem as cotas indígenas, mas nunca quis sair do meu lugar, dou muito valor. O que eu conquistar aqui, por menor que seja, eu quero ficar aqui.”, revelou continuando:

”A data de hoje é muito importante para nós indígenas, que na década de 40 já vinha essa luta e que só no dia 19 de abril de 1943, apesar dos indígenas antes tinha medo de não ser ouvidos. A partir daí resolveram aparecer no congresso para fazer parte das discussões, dizer nossas necessidades. É uma luta pelos nossos direitos, a gente sabe que também tem deveres, mas temos direitos negados, até hoje, mas granças as nossas lutas que conseguimos conquistar oportunidade para todos os grupos dos povos indígenas.”

APRESENTAÇÃO DE DANÇA NA ESCOLA OLHO D’ÁGUA DO PADRE