Publicado às 06h23 deste domingo (14)

Por Adelmo Santos, Poeta e escritor, membro a Academia Serra-talhadense de Letras (ASL)

Essa foto foi tirada em 1973, no Estádio Pereirão. Eu estou com Benedito Duarte. Nós jogávamos no Brasinha, um time da Rua da Boa Vista. Essa foto foi num jogo fazendo a preliminar do time do Comercial de Serra Talhada.

Foi uma época de dureza, onde faltava de tudo. Eu jogava com um tênis conga e Benedito com um kichute. Nós não tínhamos condições de comprar uma chuteira. O kichute era um tênis novo que acabava de chegar nas lojas de Serra Talhada e nos camelôs da feira. Era um tênis preto, tinha travas, parecia uma chuteira, dava até pra enganar um pouquinho da pobreza.

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Meu tênis conga era azul, com uma chapa branca na frente servindo de proteção. Não era um tênis de marca e por ser um tênis humilde, nas rodinhas de amigos tinha muita gozação. Mesmo com meu tênis conga, eu me sentia feliz em jogar no Pereirão. Eu driblava o adversário e driblava a humilhação. Eu era ponta direita e quando marcava um gol, esquecia a pobreza sentindo muita emoção.

Com o gramado molhado ficava escorregadio, eu dava uma de Pelé, driblava o adversário e depois me equilibrava para me manter em pé. Benedito já era acostumado a jogar bola com os pés descalços no Campo de Aviação, tinha uma bomba na canhota, cada bicão que ele dava estourava uma bola. Estourou bola Pelé, estourou bola tostão, até as bolas de couros de futebol campo e de salão, na quadra do Cônego Torres.

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Eu joguei muito descalço, eu não tinha condição, de comprar uma chuteira nem que fosse à prestação. Eu era um adolescente, estava ficando rapaz, também era bom de bola e precisava de uma chuteira pra sonhar um pouco mais.