Regina Célia, 27 anos. Vilma Maria da Conceição, 40. Isabel dos Santos, 54. Pessoas diferentes, com perfil em comum: são donas de casa, mães e moradoras do bairro Mutirão. Na última quarta-feira (25), elas acordaram cedo, ainda com o céu tomado pela escuridão, e partiram em busca de um sonho: ganhar um eletrodoméstico através do projeto Nova Geladeira, criado pela Celpe. Mas, além de compartilharem o mesmo desejo, curiosamente, as três mulheres dividiam também a mesma angústia: como preencher de comida o equipamento novinho?

“Para mim um é sonho poder colocar nela (na geladeira) um monte de fruta. Queria ela toda colorida. Tivesse carne, verdura, comida de todo tipo”, disse a faxineira Isabel dos Santos, solteira, mãe de três filhos. Ela possui uma renda de R$ 120 por mês. Com a nova máquina de refrigeração, a diarista espera que sua conta de luz diminua de forma significativa. Antes, pagava R$ 50 pelo fornecimento de energia.  

Semelhante a Isabel, a também faxineira Vilma Maria da Conceição agradece a possibilidade de ter um eletrodoméstico novo em casa – a geladeira dela iria completar 25 anos de uso. “Na minha antiga (geladeira) só tinha água. Acho que vai continuar assim”, disse, deixando escapar uma gargalhada. Já para a empregada doméstica, Regina Célia, mãe de dois filhos, presentear a própria cozinha com uma novidade é maravilhoso. “Oxe, quem não quer ganhar uma geladeira nova? Agora saber o que vou colocar dentro dela é outra história”, afirmou, sorridente.

Assim, talvez displicentes quanto a essa dúvida, inúmeras pessoas declaradas como de baixa renda em Serra Talhada, passaram horas numa fila que se estendeu, na manhã da última quarta-feira (25), por mais de 200 metros (do ginásio de esportes até as proximidades da delegacia da polícia civil). Todas elas enfrentaram sol e chuva com a intenção de desfrutar do benefício de levar para casa o eletrodoméstico dos seus sonhos.

“O projeto existia em Serra Talhada ainda de maneira tímida. No período em que assumi o governo, por 15 dias, fui até a Celpe, em Recife, e demonstrei a necessidade de ampliação do programa para Serra Talhada”, destacou o vice-prefeito Luciano Duque. “Isso, em função do crescimento da cidade e das carências sociais. Então tivemos êxito. Hoje, estão sendo distribuídas 810 geladeiras e posteriormente serão mais 800”, completou Duque.

REFRIGERANDO A DIFICULDADE

O programa Nova Geladeira implementado na Capital do Xaxado pretende atender domicílios com média de consumo de até 80 kw/mês. De acordo com a Celpe, a geladeira pode representar até 70% dos custos de uma residência de baixa renda. Isso, dependendo do estado de conservação do refrigerador que será substituído.

Justamente pensando em refrigerar a dificuldade financeira, o autônomo João da Silva, mas conhecido como João da Carroça, conseguiu aumentar a renda da família. Durante os três dias de entrega das geladeiras, ele transportou, por R$ 10, mais de 30 equipamentos e realizou uma média de 40 viagens, de ida e volta. “Em dias normais eu apuro uma média de R$ 150 por mês. Mas nesse alvoroço aqui, acho que tiro perto de R$ 400”, especulou João da Carroça.

Não só ele, mas uma profusão de carroceiros em Serra Talhada fez do transporte de refrigeradores a sua principal fórmula de esquentar as finanças da casa.  O que acabou gerando uma enorme rede de colaboração. “É eles ganhando de um lado e nós aqui do outro”, comemorou João da Silva. Em Serra Talhada, o projeto deve ter duração de três dias. Tem prazo para terminar nesta sexta-feira (27). A entrega dos eletrodomésticos do projeto Nova Geladeira, da Celpe, está sendo realizado no Ginásio Poliesportivo Egidio Torres de Carvalho, região central da cidade.