Fotos: Farol de Notícias/Max Rodrigues

Publicado às 05h43 deste domingo (26)

A reportagem do Farol de Notícias foi até o ateliê Orion Tábuas de Corte para conhecer um pouco da história do seu criador, o artesão Lindomar Alves de Lima, 53 anos, nascido em Triunfo, Sertão do Pajeú, ele se firmou na Capital do Xaxado quando ainda era criança. Lindomar, que é técnico em contabilidade, e trabalha no setor administrativo desde 1987 descobriu a técnica com madeira reutilizada em 2016 e hoje tem o sonho de um dia viver só da sua arte.

Em 2016 Lindomar ficou desempregado e para ocupar a mente e quem saber até conseguir uma renda,  começou a pesquisar o que poderia fazer. Foi quando encontrou vídeos explicando como se fazia as tábuas de corte, todas com muitos detalhes, foi então que se encantou e começou a produzir, o nome já tinha antes de começar a trabalhar de forma artesanal e aos poucos foi se aperfeiçoando e criando sua própria assinatura nas peças.

“O trabalho como artesão surgiu em 2016 quando eu fiquei desempregado, como eu não tinha o que fazer procurei alguma coisa para ocupar minha mente e tentar ganhar algum dinheiro com isso, foi quando surgiu essa ideia da Orion Tábuas de Corte […] Eu estava na internet procurando algumas coisas e vi num site russo um cara fazendo essas tábuas, eles explicava bem direitinho, lógico que em russo eu não entendia o que ele falava, mas no vídeo dava para entender, comecei a fazer, comprei as ferramentas e fui fazendo, errando, quebrava, ficava torto, até conseguir adquirir a técnica e hoje é meu carro-chefe, é o que eu mais vendo”, explicou o artesão, acrescentando:

“Eu já tinha esse nome Orion na minha cabeça, sempre gostei dessa palavra porque faz referência as estrelas, a constelação de Orion, que é uma constelação visível da terra, sempre pensei que quando eu fosse colocar um negócio seria esse o nome. Quando eu comecei a fazer tábuas de corte sobravam muitos pedaços, eu jogava fora, levava para uma fábrica de doces onde o cara queimava todo o resto de madeira, um dia eu estava me preparando para levar para essa fábrica e resolvi colar num pedaço de madeira que eu tinha em casa, foi quando surgiu a ideia dos painéis, depois dos painéis a criatividade foi surgindo e fui fazendo outras coisas, fazendo móveis, peças de decoração e foi assim que eu comecei na parte de recolher material do lixo e reaproveitando”.

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DO INUSITADO AO UPCYCLING 

Lindomar começou a montar seus painéis por curiosidade e acabou usando de uma técnica norte-americana chamada Upcycling, onde se utiliza de peças que iriam para o lixo, para montar outra peça de modificar a estrutura original e dando mais valor do que a peça tinha antes de ir para o lixo.

“Essa técnica se chama Upcycling, é um termo americano que quer dizer reutilização, é você pegar uma coisa que já teve o seu uso total que não serve mais e você reutilizar ele sem modificar, usar o mesmo material e dar um valor maior do que o que ele tinha inicialmente […] Se eu vir alguma madeira do lixo que me interesse eu cato e também pego muito nas fábricas de carroceria, aqui em Serra Talhada tem 3 fábricas principais e aí eu recolho o material que é jogado fora, na maioria das vezes a madeira seria queimada, trago, lavo, higienizo, tiro os parafusos e pregos e vou utilizando”, explicou o artesão.

A VALORIZAÇÃO DO ARTESÃO

Lindomar ainda fala que se sente muito realizado ao ver seu trabalho sendo pago, pois para ele cada peça é única e sabe que tanto pode agradar as pessoas como não, então ele fica honrado com a valorização de sua arte. “Acho que qualquer artesão que faça um trabalho muito particular e as pessoas pagam por isso é muito gratificante, é extraordinário você vê que uma pessoa gostou e pagou por aquilo”, relatou.

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NA CAPITAL DO FREVO

O artesão também leva suas peças para vender em Recife, onde consegue bons clientes no marco zero da cidade. Ele já participou de algumas edições da Fenearte e também feiras gastronômicas. Além do mais suas peças já foram vendidas por todo o país e já podem ser encontradas até no exterior. Lindomar ainda relata que tem muita coisa que ainda quer fazer com a madeira, são muitos projetos futuros para serem colocados em prática ainda.

“Em Recife eu vendo no centro de artesanato no marco zero, tanto vendo as tábuas quanto vendo os móveis, tem peças minhas em Portugal, EUA, Austrália, tem em alguns países da América Latina como Uruguai, Paraguai, Argentina. Antes da pandemia eu participei da Fenearte, todas as edições que me inscrevi da Fenearte eu fui selecionado e participei de vários eventos de gastronomia, é onde eu tenho bastante cliente, já fui em Pipa no Rio Grande do Norte, Recife, João Pessoa, Natal esses lugares têm boa visibilidade e bons clientes”, detalhou o artesão acrescentando:

“Tem muita coisa ainda que eu quero fazer, tenho uma deficiência de espaço, não tenho tantos equipamentos, meus equipamentos são limitados, quem trabalha com madeira tem que ter muito equipamento, os equipamentos são muito caros, eu me adapto com o que eu tenho, o que dá para fazer com o material que eu tenho eu procuro fazer. Eu tenho algumas poucas peças em casa para vender, semana passada eu levei algumas para Recife, mas geralmente eu fico com poucas peças em casa, porque são peças únicas, eu não faço por encomenda porque eu não posso prometer que vou fazer uma coisa se eu nem sei se vou conseguir encontrar a matéria prima, então eu vou fazendo, as pessoas chegam e compram”.

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O RECONHECIMENTO EM SERRA TALHADA

Lindomar tem muitos clientes em Serra Talhada, mas ainda considera pouco o número de pessoas que conhecem todo o seu trabalho, ele espera um dia ser reconhecido na cidade e região pela sua arte, mas sabe que tudo será aos poucos. Lindomar ainda relata que as peças faz para ele, porque gosta de olhar e admirar, é uma realização.

“Estou começando a apresentar, leva tempo para mostrar essas coisas para que as pessoas enxerguem, porque é um tipo de arte, um tipo de trabalho que não é do gosto de todo mundo, umas pessoas gostam, outras não, mas aqui em Serra Talhada eu tenho bons clientes, já vendi bastante peças minhas aqui, mas ainda quero que seja bem mais vistas as minhas peças”, salientou o artesão, acrescentando:

“Eu faço uma peça por vez, eu não consigo começar uma peça e não terminar, comecei essa mesa, eu só faço outra coisa quando terminar a mesa. O meu trabalho para mim é uma coisa que eu gosto de fazer, a minha criatividade e eu faço para mim, tudo que eu faço é para mim, se vender bem, se não vender, eu acho muito bonito na minha casa, gosto de ficar olhando, quando eu vendo às vezes fico sem querer vender, porque eu gosto do que faço, gosto de ver o resultado final, é o meu passatempo, é uma realização na minha vida”.