Marcionilia Custodio de Lima, 38 anos, faz a comida da familia em meio aos entulhos de lixo

Reportagem: Paulo César Gomes – Fotos: Farol de Notícias / Alejandro García

Na segunda matéria da reportagem “Profissões Perdidas: A dura rotina de quem sobrevive entre toneladas de entulhos, urubus e mau cheiro no lixão de Serra Talhada” (relembre), relatamos os depoimentos dos catadores que moram no lixão e que sofrem pela a falta de assistência médica e social, além da descriminação que sofrem do comércio da cidade.

UMA VILA CONSTRUÍDA EM MEIO AO LIXO; SEM ÁGUA ENCANADA, BANHEIROS E ESGOTOS

Entre as toneladas de entulhos que são despejados no lixão semanalmente – onde podem ser encontrados uma infinidade de objetos, como restos de bicicletas, velocípedes, bonecas, carrinhos, pneus e capas de revistas de moda – os catadores ergueram uma vila, que possui mais de 20 barracos, onde cerca de 40 pessoas moram, alguns passam a semana, outros chegam a residir por vários meses.

A maioria dos barracos possui apenas energia elétrica, que vem de uma placa de captação de energia solar, o que aparentemente pode significar algum conforto. No entanto, a situação é muito degradante, pois as moradias – construídas com material extraídos do próprio lixão – não dispõem de banheiros, água encanada e rede de esgotos. A falta de condições mínimas de higiene, em um local com alto nível de insalubridade, acaba pondo em risco a saúde física e mental de todos que laboram na área.

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Dona Rita, 57 anos, senti dores de cabeca

Dona Rita, de 57 anos, é um das mais velhas catadoras de lixo, segundo ela a fedentina e o “chorume” – substância líquida resultante do processo de putrefação (apodrecimento) de matérias orgânicas – incomodam bastante. “De vez em quando eu sinto fortes dores de cabeça”, declara Rita. Outra catadora, Maria Dardiclécia, de 40 anos, também alega sentir problemas de saúde: “além das dores de cabeça eu sinto muita gripe, algumas delas vêm muito forte”.

Encontrar água é um grande desafio para quem vive na área. “A água que a gente usa é pegada nos barreiros que ficam aqui pertinho e que quando chove”. Segundo um catador não há assistência médica e social no lixão. “Nesse tempo que eu estou aqui eu nunca vi um agente de saúde ou qualquer outra pessoa visitar a gente para orientar sobre a questão d’água e dos alimentos, nem sobre a dengue e nem sobre essa outra doença com um nome difícil”.

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A COMIDA FEITA EM MEIO AO LIXO E AS MOSCAS

Mesmo diante de toda essa falta de higiene do local, e ainda contado com a companhia de centenas de moscas, Marcionília Custódio de Lima, 38 anos, cozinha a comida para a sua família. “Ou gente faz a comida ou fica sem comer!”, justifica Marcionília o seu dilema frente à situação difícil em que vive. Segundo ela, é preciso paciência para fazer as refeições, “para comer a gente tem que ficar de baixo de um mosquiteiro por causa das moscas”. Os mosqueteiros também são úteis durante a noite, já que existe muita muriçoca, principalmente no período de chuva.

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“POR SER CATADORA NO LIXÃO FOI IMPEDIDA DE COMPRAR A PRAZO EM UMA LOJA DA CIDADE”

Outro grande desafio enfrentado pelos catadores de lixão é a descriminação, que ocorre tanto na esfera pública como privada. “Até hoje ninguém daqui foi sorteado para o projeto Minha Casa, Minha Vida. É uma situação que a gente não entende direito”, lamenta Maria Dardiclécia. A catadora ainda fala com tristeza da descriminação que algumas lojas têm com quem vive da coleta de lixo.

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“Foi comprar em uma loja e a moça me perguntou qual era a minha profissão. Eu disse que era coletora de reciclagem. Ela me perguntou se eu era da associação de reciclagem e eu disse que não era, coletava somente no lixão. Depois que disse isso a moça olhou pra mim e falou que eu não podia comprar a prazo lá”. “Coletar lixo é uma coisa honesta, só que as pessoas vêem isso como se fosse uma coisa feia”, desabafa a coletora de lixo.

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