O “Viagem ao Passado” deste domingo destaca uma das páginas mais sangrentas da história do Sertão do Pajeú, a Hecatombe da Pedra de Reino, em 1838. Em uma das passagens desse episódio trágico, a Igreja do Rosário dos Pretos, na época ainda Matriz de Nossa Senhora da Penha, foi usada como túmulo  para os corpos dos irmãos do Comissário Major Manoel Pereira da Silva, mais tarde Coronel e Comandante-Superior dos municípios de Flores, Ingazeira e Villa-Bella (Serra Talhada), Alexandre Pereira e Cipriano  Pereira, mortos durante a sangrenta batalha de 18 de maio daquele ano. Nesse embate, que mais pareceu ‘um inferno na terra’, morreram 22 pessoas, entre eles, os dois irmãos Pereiras e o líder fanático, “o rei” Pedro Antônio.

A bem da verdade, a carnificina  comandada por Pedro Antônio e os demais sebastianistas, já havia começado no dia 14 de maio, e nos dias 15 e 16. Ao fim do terceiro dia de matança, o monstruoso João Ferreira conseguiu lavar as bases das duas torres, bem como inundar os terrenos adjacentes com o sangue de 30 crianças, 12 homens, 11 mulheres e 14 cães. Os corpos iam sendo colocados ao pé das pedras em grupos simétricos, conforme o sexo, idade e qualidade dos mesmos.

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A PEDRA BONITA OU A PEDRA DO REINO

Tudo começou em 1836 quando o mameluco João Antônio dos Santos passou a pregar que Dom Sebastião estava encantado na Pedra Bonita, de onde era necessário libertá-lo, para que ele implantasse um reino de justiça, prosperidade e liberdade no sertão. Supõe-se que Santos não acreditava muito no que dizia e se aproveitava da credulidade da população local.

No entanto, o “reino” de João Antônio incomodou os fazendeiros, que perdiam seus trabalhadores para a Pedra Bonita, e a Igreja, que via a manifestação como blasfêmia. João Antônio fugiu do local e “exilou-se” no Ceará. Mas manteve viva a chama do sebastianismo em Pedra Bonita, por meio de seu cunhado João Ferreira. Ao contrário do Sebastianismo caboclo. Em 1836, o mameluco João Antônio dos Santos passou a pregar que Dom Sebastião estava encantado na Pedra Bonita, de onde era necessário libertá-lo, para que ele implantasse um reino de justiça, prosperidade e liberdade no sertão. Supõe-se que Santos não acreditava muito no que dizia e se aproveitava da credulidade da população local.

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Ao contrário de seu antecessor, Ferreira era um fanático, além de maníaco sexual. Para se ter uma ideia, todas as noivas de sua comunidade tinham que dormir com ele na primeira noite antes de casar-se. Ferreira, ademais, já era um polígamo consumado, tendo se casado com sete mulheres. O delírio místico do auto-intitulado rei João Ferreira teve seu ápice quando ele proclamou que a Pedra só se desencantaria quando lavada por sangue. Os sacrificados ressuscitariam poderosos e imortais. A noção de fanatismo é suficientemente conhecida em nossa era de homens-bomba. Fanáticos não hesitam em dar a vida por suas crenças.

SANGUE E FOGO

O pai de João Ferreira foi o primeiro a se suicidar. Uma das mulheres do líder foi degolada por ele mesmo. A Pedra foi, de fato, lavada com sangue, mas não se desencantou. Foi o que bastou para Pedro Antônio, um cunhado de Ferreira, declarar que a Pedra reclamava o sacrifício do próprio rei. João Ferreira foi brutalmente assassinado pelos seus seguidores e Pedro Antônio proclamou-se o novo rei.

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Contudo, um vaqueiro que presenciara os primeiros sacrifícios denunciou a tragédia às autoridades e uma tropa de 30 homens, comandada pelo major Manuel Pereira da Silva, dirigiu-se ao local para dispersar os fanáticos. Houve resistência e 30 fanáticos morreram, inclusive Pedro Antônio. Era o fim do Reino da Pedra Bonita, em maio de 1838.