Alôôôô Serra Talhadaaaa!

Finalmente retorno à vida. Após abandonar as páginas do Jornal Desafio, de Serra Talhada, aonde contava, mensalmente (não confundir com ‘mensalãomente’), as peripécias do Chico Preá, o filósofo de Água Branca, eis que retorno de algo parecido com um umbral.

Estava morgado, macambuzio e amofinado. Afinal, foram mais de dez anos escrevendo no jornalzinho. Mas, o que é o ser humano senão um eterno caçador de utopias? E o que vem a ser utopia, senão a constante tentativa de alcançar o horizonte? Arriégua, arretei-me. Estou tergiversando e comendo pelas beiradas. Confesso, que estou um tanto quanto nervoso. Uma ansiedade parecida com o primeiro toque retal ou o primeiro sapato novo. Quanta diferença!

Noves fora nada, agradeço o carinho e o apreço de dezenas de leitores que aperriaram o meu juízo pelo retorno do Preá, agora, na internet. Mas, acreditem, não depende de mim. Pretendo, desde já, tentar (falei tentar) ser mais disciplinado com os nossos encontros. Esta história de internet, juro por São  Benedito, é algo novo. Gosto mesmo é de cheiro do papel, do vento desarrumando às páginas do jornal e por aí vai… Mas, quem sabe, se um dia  (isto não é utópico) possamos retornar com o nosso próprio folhetim? Arrráaa! Que Deus nos escute e nos ajude.

Agora, e com a licença de vocês, vou direto ao ponto. Os Faroleiros vêm sendo testemunhas de como esta campanha está esquentando. Principalmente, após a marcha-ré reduzida do grande cacique Inocêncio Oliveira. Mas aí é uma outra história. Como bem diz Beroaldo: “a política em serra está com a goitana. É coisa pra bagaceira”. Vira esta boca pra lá e bate três vezes na madeira. As pré-candidaturas estão nas ruas. Um Eduque, um outro perfeito, um curador de ferida braba e um quase santo. Sem esquecer do vendedor de  Biotônico Fontoura que não está pra brincadeira. Noves fora nada. O jogo está apenas começando.

Na última sexta-feira (13), me encontrava solitariamente no recesso do lar, quando o telefone toca. Relaxando no chão da sala, coçava carinhosamente meus dois cachinhos bem cuidados e fazia uma viagem quase psicodélica. Resisti a atender a chamada mas acabei tomando providências. Ao atender, a velha e chata modinha do toque à cobrar. Já desconfiei:

– Tú sabe que dia é hoje ?

– Claro. Sexta-feira 13.

– Não , seu macumbeiro. Hoje é o dia mais importante pra o povo de Água Branca, que  vão me lançar candidato a prefeito de Serra Talhada. Tem reunião no pé do Umbuzeiro amanhã (sábado) e tu num pode faltar que tu vai fazer a ata de posse.

Era o velho e bom Chico Preá, bem ao seu estilo. Foi dizendo isso e batendo o telefone na minha cara. Confesso que dormi mal pra caramba. Minha vontade era que o sol logo descortinasse, para acabar de vez com essa marmota. Quanta invenção! Aonde já se viu? Chico Preá, prefeito de Serra Talhada? Pois bem. O caso eu conto como o caso foi.

Logo nas primeiras horas da manhã saí em disparada rumo a Água Branca. Minha vontade era de pegar atalho nas 72 curvas da estrada de Santa Rita. Mas, nem sempre quem corre alcança. Finalmente cheguei ao meu reino e o cenário não poderia ser outro. O clima era de total transgressão à Justiça Eleitoral. Logo na entrada uma enorme faixa  parecia berrar: “NEM EDUQUE E NEM SEBÁ. AGORA É CHICO PREÁ”.

O filósofo se encontrava impecável com a sua camisa volta ao mundo verde -limão. A brilhantina Zezé descia pela testa, pingando, tintim por tintin, na calça preta “boca de sino”, que cobria a sandália dupé 99. Estavam reunidos: Barrufa, Tonho Pé-de-Bomba, Chico de  Mané de  Lero, Beroaldo, Manezin Patola,  Cissin Agripino e, claro, a futura primeira-dama comadre Zefa. Quando desci, todos já cantarolavam um jingle criado pelo próprio candidato:

“O povo vai arranjar, uma prefeitura de barro pra Duque e Sebá”. Isto já era uma provocação, inspirada numa modinha da década de 60. Fui muito bem recepcionado mas não consegui disfarçar o meu desconforto com aquele ato precipitado.

– Minino, acabou de chegar o caba que vai tomar conta da difusora da praça. ‘Pruquê’, quando nós ‘ganhar’, vamo botar dois alto-falante moderno em cima da prefeitura”, atiçou Manezin Patola, aproveitando para me carregar nos braços.

Tomei logo uma lapada de cachaça reforçada para terminar com a história maluca. Onde já  se viu. Chico Preá. prefeito de Serra Talhada, ordenando despesas mês em torno de R$ 5 milhões? Arriégua. Devaneio? De cara, perguntei o que lhe levou a tomar tal atitude. Então, com muita categoria, o filósofo começou o discurso, tendo ao redor cerca de 50 fiéis militantes.

– Meus ‘amiguin’. As ‘zelite’ de serra fumam charuto cubano e caviar da frança, enquanto nós, há muito tempo, só ‘tamo’ no fumo de rolo e no rum bacardi. Agora, chegou a hora de ‘nóis’ virar o jogo. Vamo enfiar o fumo neles e botar o caviar no lixo e encher a mesa do pobre com o melhor tipo de carne lá do Servilar. Nem Eduque e nem Sebá… Agora é Chico Preá”, gritou o pré-candidato, para delírio da turma.

De repente, uma gritaria se ergueu nas ruas e depois se arrastou por debaixo das portas dos moradores. “Preá, Preá”, anunciavam, sequestrando a  audição do mais longíncuo cidadão de Água Branca. Todos pulavam feito loucos. Pareciam em transe à base do chá Santo Daime. Recatada, reparei quando a comadre Zefa encostou por trás do filósofo, e sussurrou em seu ouvido: 

“Chiquinho, espero que esse ‘negoço’ de fumo de rolo só fique nas promessa. Tu num pode esquecer as obrigação dentro de casa”. O caso eu conto como o caso foi. Um abração e até a próxima. Obrigados a todos que acreditaram no retorno do filósofo de Água Branca.