Exposição AlejandroPor Alejandro J. Garcia, repórter fotográfico do Farol

Não estou por dentro das atribuições de um prefeito, mas acho que Luciano conhece e age dentro delas. No entanto, ainda que amparado na lei, ceder a Praça Sérgio Magalhães para um evento privado não foi a melhor atitude tomada nesse ano 2015.

A Praça de uma cidade, qualquer cidade, é por definição a área pública mais pública que a cidade possui. É o espaço para suas manifestações, seus encontros, seu lazer, suas festas e seus momentos de recreação. Não tem dono. A cidade é a dona e os moradores, pelo fato de ser, são os donos e tem o sagrado direito legal de desfrutar desse espaço. Sem mais restrições que o respeito que ela, por ser comum a todos, merece.

É comum no Brasil que o gênesis de uma cidade se dê em torno de uma praça, e esta a frente a uma igreja, o que transfere a esse espaço uma atmosfera que, sem ser consagrada, está embebida de espiritualidade. A praça não é sagrada, como a igreja, mas sagrado é o espaço que representa de lugar liberado para os moradores realizar suas manifestações culturais, para seu descanso e seu lazer. A praça é da cidade, de nenhum cidadão em particular. De todos. Nem do governante que é, no fim das contas, apenas mais um deles.

Veja também:   Gin faz ataques contra Vandinho e Duque

E o Prefeito Luciano cedeu o espaço como se fosse dele. Pode ser que seja legal, mas nem todo o que é legal é moral.

A Festa

Houve a festa. Estranha festa onde as pessoas entravam e saiam sem prestar contas de um lugar cercado por sinistros tapumes pretos. Ficou uma separação entre os que estavam dentro e os de fora. Muito estranha a festa. Começou com falta de informação ou informação mal transmitida. O que ia a acontecer não aconteceu.  Os organizadores falaram que não se deveria falar da festa sem saber como seria, mas eles mesmos nem sabiam comunicar direito o que iria acontecer. Estranha organização.

Com o argumento de serem beneficentes, os estranhos organizadores convenceram o governo a ceder o espaço. Esse espaço que não pode ser negociado. Que não pode ser fechado, por questões morais. Porque é de todos. Porque não tem dono. Como é que o governante cede uma coisa que não é dele? Se for para o povo ter uma festa, organize o governo uma festa para o povo como os organizadores fizeram. Eles não investiram dinheiro de suas contas.

Veja também:   Idoso é arremessado em capotamento na PE-365

Antes de terminar direi o que eu acho de pior, que não foi dito ainda, pois como uma sobremesa ao avesso, o pior deixei para o final. O gosto amargo com que sai da festa, estranha festa cercada de sinistros tapumes pretos, foi pela realidade que conferi que paira nessa cidade onde moro há quase 20 anos e crio meu filho. Os fogos coloridos (lindos) não afugentaram o espírito de derrota que permeia a cidadania fraca de Serra Talhada. Cidadania é autoestima pessoal transferida ao lugar onde moramos, orgulho cidadão não é slogan de campanha, é atitude, e ninguém mexe com isso. Mas em Serra Talhada os cidadãos deixaram que fechassem sua praça para fazer uma festa privada, estranha festa que iria ser privada e acabou não sendo, mas foi cercada por sinistros tapumes pretos. Estranha cidade, como esses estranhos cidadãos de coração valente, que enfrentam os maiores perigos e superam as maiores dificuldades, mas deixam que se apropriem de seu espaço mais sagrado. Sagrado para todos.

Veja também:   Idoso que morreu após cair de prédio em ST estava despido

Minha passagem de ano foi triste, mas tudo muda o tempo todo. A todos parentes, meus amigos, meus vizinhos e as pessoas que ainda não conheço um feliz futuro.

praça

praça 2

praça 3

praça 4