Guttemberg Mangueira, professor

A Finlândia não é aqui. É uma piada aquela “propagandinha” veiculada na mídia televisiva fazendo uma pseudovalorização do professor. A maioria dos políticos daqui não se cansa de tentar nos enganar, de nos ver como obtusos. Mas está na cara que isso é uma demagogia sem precedentes. Basta analisar bem: o salário é uma “m” e por ser assim, o educador que tem pós-graduação precisa fazer um desses concursos que exigem apenas o ENSINO MÉDIO (fora da educação) caso deseje ganhar três vezes mais e trabalhar menos. E mais, existem órgãos estatais que o seu vale refeição representa quase a metade do nosso salário.

Por que ele (o educador) não é valorizado ali mesmo no seu trabalho, como acontece na Finlândia, onde o professor não é horista, trabalha em apenas uma escola e ganha em torno de 5.000,00 reais por mês? O salário deles é comparado aos dos outros setores da economia do seu país, ou seja, são reconhecidos pelo que fazem. Que educação é essa nossa, que país é esse? Que tipo de políticos são vocês? Isso revela que não somos nada aos seus olhos. Professor, quer dignidade? Trilhe outros caminhos. Os políticos hipócritas falam em investimento no setor (e vai ser sempre assim), porém no seu íntimo, preferem que essa fuzarca continue e o Brasil siga em frente com os seus 9,7% analfabetos plenos, 20,3% de analfabetos funcionais, seus baixos índices de proficiência em leitura e a vergonha de ter uma educação medíocre.

A verdade é que nesses 40 anos o esquecimento internacional dos governos em relação às necessidades da escola cresceu sobremaneira e hoje, os problemas dessa área se tornaram complexos beirando as raias do insolúvel. Esse é um fenômeno que mexe com os interesses das classes dominantes, que através da mídia capitalista, fazem culto à alienação social, massificando a ignorância e anulando o raciocínio. É por essa e por outras razões que a educação se encontra abandonada. Ela não se constitui produto de interesse do neoliberalismo apregoado no Consenso de Washington de 1989 que exigiu dos países da América Latina a gradativa redução de investimentos na área social e a privatização das nossas empresas estatais.

Gostaria de saber quais são os outros segredos desse descalabro. Vocês têm medo de quê? Será que defendem a ideia de que professor bom é professor burro, nefelibata e esclerosado pra não ensinar nada a ninguém, pra não dizer ao povo que vocês são particularistas, governam e legislam em causa própria? Deve ser!! Não pretendem de forma alguma nos pagar um salário digno! Ficam na base da sacanagem, mentindo e enrolando a sociedade, dizendo que investem na educação.

O professor, pela natureza do seu trabalho, junto às novas gerações, é aquele profissional com maiores chances de irradiar e sedimentar os valores para construção de uma nova civilização – e talvez uma nova “civilidade” em nosso país, ainda que os espinhos da opressão e do descaso estejam presentes no seu cotidiano tentando ofuscar as suas ações. É por esse papel importante na sociedade que ele precisa ser verdadeiramente respeitado.