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Por Adelmo José dos Santos, poeta e escritor serra-talhadense

Esse é o time de futebol do Ginásio Industrial Cornélio Soares em 1973. Em pé da esquerda para a direita: Gago Duarte, Gildo, Rosildo, Zé Amiltom, D-8, Capiti e prof. Nestor. Professor Nestor é o técnico do time. Agachados: Zé João, Fernando da Favela, Gula, Dr. Eraldo e Adelmo da Favela. Essa foto foi tirada no Estádio Pereirão, num jogo contra o time do Colégio Municipal Cônego Torres. Um jogo que terminou com o placar 0 X 0. Isso é só para ter uma ideia de como era a rivalidade que havia entre esses dois colégios.

Gaguinho Duarte hoje vive no Recife, Gildo mora em Paulo Afonso-BA é dono de uma oficina mecânica, Rosildo também mora em Paulo Afonso, Zé Amiltom hoje é um policial aposentado aqui em Serra Talhada, D-8 eu não tenho notícias, Capiti mora em São Paulo, Nestor vive em Serra Talhada é um professor aposentado e há poucos dias recebeu o título de cidadão serra-talhadense. Zé João é falecido, Fernando da Favela mora em São Paulo, Gula é dono de lava jato, mora em Serra Talhada, Dr. Eraldo era engenheiro da “Cisagro” não era estudante do Ginásio industrial participou desse jogo como convidado. Não tenho notícia, não sei onde ele estará.

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Adelmo da Favela sou eu, sou o ponta esquerda do time, depois de morar 35 anos em São Paulo, voltei para Serra Talhada e estou contando essa história. Essa foto é uma foto histórica, foi um jogo especial, quando eu fui escalado eu senti muita emoção, eu iria defender a minha escola o Ginásio Industrial, e mostrar meu futebol ao lado de Fernando da Favela, o meu ídolo e irmão. Essa época foi sofrida quando eu comprava uma calça não comprava a camisa. Quando eu comprava o lápis a borracha se acabava. Eu passava o ano inteiro comprando o material, o ano acabava e eu nunca completava, começava o ano novo e tudo recomeçava.

Só aperreios e angústias eram as coisas que sobravam. O Ginásio Industrial era o colégio dos pobres, ele era o Robim Hood dava chance aos desiguais, era a “Porta da Esperança”, tinha aula de bordados, marcenaria e mecânica. Entre o Ginásio Industrial e a casa de Sebastião sapateiro tinha um terreno baldio, era lá que os alunos faziam as aulas de educação física com professor Nestor. O uniforme era um calção azul com uma listra branca em cada lado, uma camiseta branca, e tênis. Como eu não podia comprar o tênis eu fazia os exercícios com os pés descalços mesmo.

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Era num campinho de terra cheio de pedregulhos, quando as aulas terminavam tinha sempre uma pelada. Como eu jogava descalço os meus pés ficavam ardendo criando bolhas de calos. Um dia eu comprei um tênis congas quando o jogo começava eu corria olhando o tênis, eu pulava as poças d’água para não sujar de lama. Meu tênis congas era azul, na frente uma chapa branca que protegia os meus dedos e me dava esperança de ser um grande artilheiro. O meu tênis congas era simples, era um tênis de pobre, todo mundo desprezava, não ficava nas vitrines porque não era de marcas.

Mas merecia louvores me ajudava nas aulas, me protegia das dores, me dava a oportunidade de poder fazer jogadas como os grandes jogadores. Meu tênis congas não era o tênis que eu quis, mas era o tênis que eu tinha, era o único que eu podia e me deixava feliz. Com tantos tênis de marcas nenhum ficou na lembrança, nenhum marcou a minha vida como aquele tênis congas.