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Por Alejandro García, repórter fotográfico do Farol.

Os maiores fizeram a cidade.

Fizeram-na com uma cruz e uma espada.

Fizeram-na com suor, com anos, com lágrimas…

Jorge Luis Borges Escritor argentino  (1899-1986)

Esses versos são os primeiros de um poema escrito por um homem que amava, mais amava profundamente sua cidade e os fez em sua homenagem. Cabem aqui porque assim também foi feita a nossa cidade: com dor, com luta, com sacrifícios e com sonhos. Assim foi com esta cidade em que você cresceu, Luciano Duque. A cidade que seu pai ajudou a construir, a fazer grande e próspera. Hoje você está no comando do governo dessa cidade, nossa cidade. Está com o poder que lhe foi dado pelos seus cidadãos, muitos seus vizinhos, para tomar conta dela e ouvi dizer que há pouco se lamentou de se sentir órfão. Absurdo.

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Você já é homem. A orfandade é coisa que afeta a vida de uma criança. E agora fica reclamando que os opositores estão implicando com a sua gestão, e que são culpados pelo que não acontece. Que o PAC liberou e a Compesa não planejou. Que deveriam fazer em lugar de cobrar. Não se sinta órfão, você é filho de Serra Talhada. Lute por ela. O poder está em você, meu amigo. O poder de fazer é seu, de cobrar, de ativar e denunciar. De cuidar e fazer cuidar. A cidade está órfã. Ela sim sente essa orfandade de cuidado, de carinho, de atenção. A cidade está abandonada.

Não apenas pelo poder inoperante que não é exercido. O pior de todos os abandonos é o de seus filhos. E o filho que está no comando se distrai comprando provocações e pedindo aos outros que façam. O que a oposição está fazendo é o que historicamente a oposição faz. A resposta seria mostrar e deixar falar. Seus conterrâneos iriam entender e apoiar. Não é sua a culpa de um abandono de anos, mas é sim sua responsabilidade acabar com ele. Tanto se briga por quem é responsável pelo matadouro, que se deixa de atender centenas de pessoas que vivem nessa rua esquecida pelo governo e pela oposição.

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Sem saneamento, sem coleta de lixo, detrás de cercas improvisadas que escondem seu cotidiano de carência e desamparo. Isso é orfandade. Essas pessoas estão verdadeiramente órfãs. E o pior, se sentem tão desprezadas que você, Luciano, quando foi fazer campanha e pedir votos no bairro, nem foi ver como elas vivem. Suas vidas acontecem num lugar oculto para onde nem o Cristo olha. Um lugar desta cidade feita pelos seus antepassados com tanto sacrifício. E foi feita para todos poderem desfrutar e viver dignamente. Todos. Também eu, que cheguei de fora e acabei querendo tanto.

IMAGENS DE UMA CIDADE QUE SENTE-SE ÓRFÃ
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