Por Paulo César, professor especialista em História Geral

A cultura de Serra Talhada é algo curioso, pois a mesma conseguiu se destacar em vários aspectos, principalmente nos quesitos desvalorização e falta de incentivo aos nossos artistas, sendo que o pior deles é abandono do patrimônio cultural. Essa regra se aplica ao público e ao privado. Uma prova disso é a escassez de novos talentos. Por isso é que diariamente surge a seguinte pergunta: será que eles não existem mais ou foram embora da cidade?

Os maiores símbolos deste antagonismo cultural, por coincidência, foram os grandes destaques do ano de 2012, o nosso querido forrozeiro Assisão e o nosso nostálgico CIST (Clube Intermunicipal de Serra Talhada). Enquanto Assisão vem sendo bastante lembrado pelos 50 anos de carreira, o que ainda é pouco por tudo o que ele representa para música nordestina e brasileira, o CIST agoniza em dores de morte.

Assisão construiu a sua trajetória de sucesso com muito esforço e determinação, elementos que supriram a falta de apoio e de incentivo. Em recente matéria publicada no Caderno C, do Jornal do Commércio, o cantor declarou ao jornalista José Teles que é indie (de independente mesmo), pois desde do início da carreira nunca seguiu moda, nem se alinhou a grupos, ou associação de classe. Nessa publicação ele fez um importante desabafo, “Eu queria saber destas associações de forrozeiros, não o que fizeram, mas do futuro dos forrozeiros. Quantos forrozeiros existem pro aí passando fome? A lagartixa passeando por baixo das panelas da casa deles, porque não tem fogo acesso? Jackson do Pandeiro morreu lascado, e Luiz Gonzaga no fim da vida também não tinha dinheiro”.

Ainda na matéria, Assisão revela que em meados dos anos 70, agentes da censura foram a sua procura em show na cidade de São Paulo. Queriam saber qual era o objetivo do artista ao gravar a música Ponto de Vista, uma música quem não têm o costumeiro duplo sentido, umas das marcas do forrozeiro. Em determinados trechos da música lê-se o seguinte: “mostrar a todas as abelhas/Que o povo é que faz o mel”, e também “somos iguais/filhos da mesma mãe/filhos do mesmo pai”.  Os agentes da censura perguntaram se ali na estaria surgindo um novo Geraldo Vandré. Após 5 h de detenção, o cantor foi liberado porque os policias ficaram sabendo que ele era conterrâneo de Lampião. O curiosamente é o fato de que os agentes da Ditadura Militar terem gostado do famoso cangaceiro. Assisão encerrou a entrevista com um lúcido protesto a forma com o forró vem sendo tratado e tocado, “do jeito que anda, o forró vai acabar. Quem vai fazer forró no São João é Lady Gaga”.

Contrastando com todas as homenagens feitas a Assisão temos então o CIST. O Clube foi fundado a quase seis décadas de história, um local por onde passaram grandes nomes da música serra-talhadense e também nacional, entre eles Assisão. O CIST de hoje em nada lembra os de tempos passados, um local que era conhecido pela sua popularidade e pela democracia social que imperava entre os seus frequentadores. Em setembro desse ano o Farol de Notícias publicou uma matéria mostrando o abandonado e a deterioração em que se encontra o clube.  As fotos publicadas são impactantes, pois mostram um local sem manutenção e com teto desabado. Na verdade a coisa ainda pode ficar pior, já que as paredes podem vir a cair, e como área no entorno do prédio ainda não foi interditada pela Defesa Civil, CREA ou pelo Corpo de Bombeiro, as pessoas que passam por ali diariamente acabam ficando expostas ao perigo.

É triste ver um espaço no centro da cidade não servir para exatamente nada, um local onde a cultura poderia ganhar vida, vive acomodando cupins e outros insetos. Sabe-se que em 2010 um grupo de sócios e representantes de sócio-fundadores se reuniram e decidiram fazer um reforma nas instalações do clube, porém, passados mais de dois anos nada foi feito. É compreensivo que exista por parte de alguns sócios e herdeiros de sócios já falecidos, um apego sentimental ao clube, no entanto é importante ressaltar que o CIST é de todo o povo de Serra Talhada, faz parte das nossas vidas e da nossa história! O ideal é que o espaço do CIST fosse repassado para a prefeitura municipal, e que nele fosse criado um Centro de Cultural, aonde varias atividades culturais pudessem ser desenvolvidas em nossa cidade, a exemplo do teatro, da pintura, da dança, da poesia e da música erudita e popular. Essa iniciativa iria preencher uma grande lacuna que existe na cultura local.

Lamentavelmente no ano em que comemoramos os 50 anos de carreira de um dos mais importantes artistas da nossa cidade, parte da nossa memória cultural esta indo abaixo. Cada pedaço de reboco que cai das paredes do CIST simboliza um pouco do muito que ainda resta em nossa cidade, o conservadorismo, a falta de incentivo e a incompreensão da importância de se preservar a cultura popular!

Um forte abraço a todos e até a próxima!