(Apresentação no palco do Cine Art, em Serra Talhada)

Ao contrário do que acontece com a maioria dos grupos musicais, a banda D. Gritos começou sem quer ninguém soubesse tocar nenhum instrumento. Mas, mesmo diante da falta de conhecimento, Camilo Melo e Ricardo Rocha, desafiaram a lógica e se aventuraram pelo mundo da música.

Em meados da decada de 80 as rodas de violão em Serra Talhada aconteciam na Praça Sergio Magalhães (banco da divá), na Concha Acústica e em frente a Escola Irmã Elizabeth. Nesses locais era comum a presença de Dema, João Grudi e Zé Orlando, ainda moleques, Camilo Melo e Ricardo Rocha, já participavam desses movimentos. Infleenciados por esse cenário musical alternativo Camilo começou aprendeu a tocar violão e aproveitou para ensinar a Ricardo os
primeiros acordes.

Nesse período Camilo cômpos a música “Escravo de Ninguém (Porra)”, que começou a ser tocada por ele e Ricardo em festas de aniversários e em apresentações em escolas. Essas apresentações rederam a dupla o apoio e a presença de amigos e admiradores que já começavam a cantar as músicas do repertório. Outro integrante da banda que entrou sem saber tocar foi Jorge Stanley, que teve que improvisar uma bateria pra poder aprender. Ele estudou muito, eram mais de 6 hoaras diarias tocando e sempre ouvindo som produzido pelo baterista Neil Peart da banda Rush. Logo ele já estava tocando em pé e de costas e também cantando, além dessas vertentes artísticas, ele foi peça fundamental em vários arranjos da banda.

Outros músicos, mesmo que de forma passageira, também contribuíram de forma decisiva para a musicalidade e o sucesso da banda ao longo dos anos, entre eles podemos citar: Cleóbulo Ignácio (Binga) e Paulo Rastafári (vocal), Jairo Ferreira, Doda, Toinho Harmonia, César Rasec, Derivan Calado e Elton Mourato (baixo, guitarra solo e base), Girleno Sá (violão e guitarra) e Nilsinho (percussão).

A Banda D.Gritos foi muito influenciada por grupos nacionais como os Paralamas do Sucesso, Titãs, RPM, Biquíni Cavadão, e a nível internacional por bandas como Pink Floid e Smith, e regionalmente por Alceu Valença, Zé Ramalho, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, mais a grande referência foi a maior banda de Rock de todos os tempos, os The Beatles. Um fato interessante era que Ricardo Rocha era fã de carteirinha de Michel Jackson, chegando a ganhar
um concurso de imitação do rei do pop.

Mesmo com todas essas referências, o trabalho do D. Gritos é único, ele é singular, pois não existe nenhuma semelhança musical com qualquer outra banda ou cantor. A maioria das músicas são composições de Camilo e outras e parceria com Ricardo, mas há também músicas solos inéditas de Ricardo e também em algumas em parceria com Jorge Stanley.

Entre as músicas gravadas como: “Escravos de Ninguém (Porra)”, “Barriga de Rei”, “Grilos”, “Quando Será Minha Vez”, “Medo da Verdade” possuem um forte conteúdo político e social. Já “Loucos (Mayra)”, “Eu Sei”, “Romance Entre Abelhas” e “Coisas de Palhaços” são reflexos dos conflitos sentimentais e amorosos dos integrantes do grupo, uma
pequena amostra do da versatilidade e criatividade dos músicos.

Há duas músicas em especial que mostram o potencial de Camilo e Ricardo em reproduzir o sentimento momentâneo e a transcrição de um projeto de vida. São elas: “Fogão de Lenha” e “Navegantes”. “Fogão de Lenha” foi uma resposta a uma pergunta preconceituosa, e de certa forma racistas, feita por um repórter do Diário de Pernambuco aos roqueiros pajeuzeiros e a outra “Navegante”, um resumo dos desafios, das dúvidas, das certezas e incertezas, dos sonhos e das batalhas vividas ao longo de oito anos de existência da banda.

*Paulo César é professor especialista em História Geral