Exposição AlejandroPor Alejandro García, fotógrafo do Farol 

 Esta nota é um desabafo pessoal e não tem envolvimento com minha função no Farol de Notícias. Assim definida minha atitude, estou pedindo sua publicação, como a de qualquer leitor que tenha alguma coisa a dizer. Respeito e valorizo demais essa possibilidade que o site oferece à comunidade.

Na segunda-feira (20) fiz meu trabalho na cobertura dos incidentes que o atendimento (ou a falta dele) da Emergência Pediátrica do Hospam causou. Vivi há pouco mais de um ano a dor e a impotência que isso provoca. Por isso deixo claro que minha função estava contaminada pela emoção de sentir esse estado nas pessoas que procuravam o serviço. Apesar de que a dor e a impotência provocam raiva, as pessoas estavam sem reagir com violência. Por isso, acho mentirosa a declaração da funcionária da polícia ter sido chamada para conter um pai “ameaçador”. Também não entendo como a direção está ausente num momento desses e manda duas funcionárias para explicar.

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Retrocedendo há pouco mais de um ano, no meu caso, depois de esperar duas horas pedi à diretora do Hospam uma justificativa para um menino estar duas horas com dor de ouvido sem receber o serviço da emergência. Como explicação, ela me mandou fazer uma denúncia. Minha saída de sua sala foi me contendo para não chamá-la de incompetente; chamei de insensível. No caso, as duas expressões se juntam numa só. A falta de sensibilidade para atender a necessidade de uma criança angustiada e dolorida é incompetência mesmo.

Por isso que minha nota tem esse nome. De um lado, a população sem recursos para pagar atendimento de saúde privada, o que não deveria. A senhora da foto foi buscar o que não encontrou no Hospam. Do outro lado, o hospital, com sua pirâmide de hierarquias mamando o mesmo leite da insensibilidade, que permeia a atmosfera humana e arrulha os sentimentos, como o de um vigilante preocupado em não sair na foto em lugar de preocupar-se pelo que estava acontecendo na sua frente, ou das duas funcionárias, que repassam a informação da direção sem nenhum questionamento, sem ver que estão a abafar com uma explicação que não explica nada: Como é que um funcionário da importância do pediatra deixa a função vaga para atender outro evento? E o hospital não da cobertura a sua ausência.

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Mas estamos divididos. E os do lado de lá não são os ricos, os capitalistas, como os militantes de esquerda ainda sustentam. Somos nós mesmos, que não necessitamos o que outro não tem. Que não passamos pela angustia, o desespero, a dor, que dá ter um filho chorando de dor no colo. Que não sentimos a impotência de estar no lugar onde isso pode ser resolvido, mas não sermos atendidos e nem sequer ver um mínimo de interesse ou consideração para a dor da criança. Estamos divididos cada vez mais, pois temos medo de misturar-nos e que os do lado de lá, os outros, tirem alguma coisa de nós.

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Nosso conforto mesquinho, ou nossa paz, está cada vez mais ameaçada. Sentimos medo. Talvez isso mude e cheguemos a perceber que os outros e nós somos a mesma coisa, temos os mesmos medos, sofremos do mesmo jeito  e compartilhamos as mesmas ameaças. Percebemos o perigo e não vemos que o perigo não está nos outros, nos do lado de lá. Está em todos nós. Em nossa falta de sentimento solidário e mal jeito de sermos humanos. O jogo é sempre o mesmo, não interessa se somos as brancas ou as pretas. Somos as peças do jogo. Apenas. É hora de acordar.