Cícero Lopes é professor e teólogo

Hoje o assunto é o tempo, que já foi o tema de uma bela canção de Caetano Veloso no ano de 1979, intitulada “Oração ao Tempo”, a quem também aproveitamos para fazer uma menção a Dona Canô.

“Tempo, tempo, tempo, tempo,
Compositor de destinos,
Tempo, tempo, tempo, tempo,
Entro num acordo contigo”…

E como estamos no início de ano novo, a temática volta à tona. De fato, o “tempo” é capital, toda história começa e acaba pelo tempo” (BRAUDEL, 2005), compositor de destinos (CAETANO), modelador de vidas (WILSON, 2002) e de sociedades inteiras (ZARUR, 1994; LÉVI-STRAUSS, 2003).

E neste contexto, no primeiro dia de 2013, não gostaria de falar das sombras do nosso tempo (TEIXEIRA, 2005), mas dos seus sinais de esperança. Ressalto as conquistas e progressos realizados pela medicina, os avanços na Educação de Crianças e Adultos; o sentido mais vivo de responsabilidade pelo meio ambiente e a publicação da Carta da Terra, inclusive na versão infantil; a Democracia e a liberdade de expressão dos Estados modernos; os esforços para combater a corrupção no Brasil e no mundo; a consolidação do Regime Democrático e dos Direitos Humanos em diversos países, como por exemplo, nos Estados Membros da União Africana (UA).

As novas conquistas das classes trabalhadoras, a exemplo da regulamentação da profissão de Diaristas no Brasil; a pacificação do Rio de Janeiro; a emancipação da mulher e sua liderança política em várias nações; o estabelecimento de relações mais justas e igualitárias entre brancos, negros e índios e a valorização do diálogo ecumênico entre as religiões. E ainda há que se destacar os avultosos esforços empreendidos pela ONU, FAO, UNICEF, diversas Religiões, Igrejas, ONGs, Sindicatos, Associações etc. em prol de um mundo mais justo.

“O mundo só muda quando a gente muda. Desta feita, talvez o verdadeiro sentido do tempo hoje esteja na poesia de Martha Medeiros: ‘Não tem sido fácil, mas sinto orgulho por ter aprendido a atravessar, em plena luz do dia, o que em mim é sombrio e intricado. Não me economizo mais. Me gasto’!”

E se já chegamos até aqui, é porque podemos muito mais. Aliás, dizem os estudiosos que a espécie “homo sapiens-sapiens” representa apenas um momento num processo de bilhões e bilhões de anos. Se comparado a idade do universo (que é de quase quinze bilhões de anos contando com o tempo da antropogênese), o ser humano tem menos de um minuto de vida (BOFF, 2010, p. 79), de modo que pode evoluir mais, infinitamente, não apenas em ciência e técnica, mas também em humanidade e espiritualidade.

De certa forma, deveríamos nos orgulhar do que já fizemos de bom até agora, e prosseguir, pois ainda há muito que fazer. O mundo só muda quando a gente muda. Desta feita, talvez o verdadeiro sentido do tempo hoje esteja na poesia de Martha Medeiros: “Não tem sido fácil, mas sinto orgulho por ter aprendido a atravessar, em plena luz do dia, o que em mim é sombrio e intricado. Não me economizo mais. Me gasto”!

Vamos em frente!

Feliz 2013 para todos nós!

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BOFF, Leonardo. Do icerberg à arca de Noé: o nascimento de uma ética planetária. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.

BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a história. Trad. Jacó Guinsburg e Tereza da Mota. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 2005.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.

TEIXEIRA, Evilázio Borges. Aventura pós-moderna e sua sombra. São Paulo: Paulus, 2005.

WILSON, Edward. O futuro da vida: um estudo da biosfera para a proteção de todas as espécies, inclusive a humana. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

ZARUR, George de Cerqueira Leite. A arena científica. Campinas: Autores Associados, 1994.