Por CÍCERO LOPES DA SILVA, professor

Diversas culturas e religiões possuem narrativas simbólicas de fim do mundo. No séc. X, milenaristas cristãos esperavam o fim para o ano 1.000, e depois, para o ano 2000. Entretanto, Jesus deixou claro que ninguém sabe deste dia, nem mesmo o Filho do Homem (Mt 24, 36; Mc 13,32). Mas engana-se quem pensa que teorias cataclísmicas estão restritas ao campo mítico-religioso, também escolas científicas pressagiam o fim dos tempos.

Para os cosmólogos, por exemplo, não apenas a Terra, mas todo o universo se extinguirá. Duas teorias explicam isto: a) Teoria do Big Bang (grande explosão), pois quando terminar a expansão cósmica iniciada a 13,7 milhões de anos, tudo voltará à “poeira estrelar”; b) Teoria do Big Reset (futuro fechado), segundo a qual ao atingirmos 13 trilhões de anos, o universo entrará em contração, voltando ao “nada cósmico”.

Mas não são verdades objetivas, são teorias, equações universais, hoje relativizadas diante da incerteza quântica, dos espaços curvos e dos quarks (HAWKING, & MLODINOW, 2011). Não há objetividade total, não há certezas absolutas na ciência moderna (COTRIM, 2006). Sabe-se que o próprio cosmos precisa ser visto de outra forma, com um olhar mais profundo.

A chamada “teoria-M” do livro O Grande Projeto de Stephen Hawking e Leonard Mlodinow, demonstra este esforço; como ainda, A Obra do Artista, de Frei Betto, onde se impetra uma visão holística do universo. Mas de volta à questão do fim do mundo, o problema é certamente hermenêutico, de interpretação.

1.      No campo da Teologia, por exemplo, embora existam divergências, se concorda que a cultura judaico-cristã postula um “fim”, porém, não como uma aniquilação. A Bíblia fala em “novos céus e nova terra” (Is 65, 17; 2Pd 3,13; Ap 21, 1), de modo que a criação não será destruída, mas translúcida, transfigurada, como aconteceu no monte Tabor (Mt 17, 1-8);

2.      Na hermenêutica do calendário Maia, o fim de uma era acontece a partir das 14h17 do dia 21/12/12, pois a cada 5.125 anos acaba uma etapa e começa outra. Porém, diversos estudiosos concordam que este Calendário – existiam muitos – se refere ao fim de um ciclo histórico e não propriamente ao fim do mundo. A data tem mais a ver com uma renovação espiritual do que com eventos cataclísmicos;

3.      Quanto à previsão dos cosmólogos, e também dos astrofísicos (que vislumbram o fim da terra por uma colisão com um asteroide , eu acrescentaria outros riscos de destruição pela ação humana: projetos de armas químicas e biológicas, degradação do meio ambiente, fome (quase um bilhão de pessoas no séc. 21) e hecatombes nucleares. Talvez a possibilidade de aniquilação do planeta esteja mais neste campo: da loucura humana (BOFF, 2002), do que nos cálculos astronômicos dos cosmólogos.

Enfim, o mundo não acabará em 21 deste mês, vamos ter que esperar um pouco mais. Entretanto, deveríamos aproveitar esta data, e o clima de fim de ano e o Natal, para fazer uma reflexão sobre a nossa vida. Quem sabe não precisamos mesmo de uma renovação espiritual diante da loucura deste mundo? A única coisa certa é que tudo está nas mãos de Deus. E “pra não dizer que não falei das flores” (Geraldo Vandré), concluo perguntando aos poetas:

– O MUNDO ACABARÁ, POETA?

– Decerto

Sem dúvida

Talvez amanhã

Quem sabe?

Não,

A gente não tem

Tanta sorte assim

A gente vai ter

Que adiar o fim

Mais uma vez

Pra depois de

Amanhã

Enfim.

(Poesia de Vaner Micalopulos)

 ___________ REFERÊNCIAS

HAWKING, Stephen & MLODINOW, Leonard. O grande projeto: novas respostas para questões definitivas da vida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: história e grandes temas. São Paulo: Saraiva, 2006.

BOFF, Leonardo. Do icerberg à arca de Noé: o nascimento de uma ética planetária. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.

BETTO, Frei. A obra do Artista: uma visão holística do universo. Rio de Janeiro: José Olympio, 2012.