Gootermbeg Mangueira é professor

A democracia praticada no Brasil não permite que a  igualdade de direitos atinja a todos os recantos do país. Prevalece um esquema nebuloso e totalitário em boa parte dos poderes públicos, federal estadual e municipal, que paulatinamente ameaça a nossa liberdade, deixando de forma ilusória, através do assistencialismo e muito marketing (que propaga muito mais do que o que se faz), a ideia de um país livre, construído para todos. Mas que na verdade está entregue ao capitalismo neoliberal econômico – que mede a riqueza de um país pelo seu PIB e não pelo bem-estar social do seu povo – e a uma leva de gente sem caráter, minoria que controla as instituições, os partidos políticos e o estado, favorecendo somente àqueles que os rodeiam, os que operam na bajulação ou no empenho direto para fazer movimentar, a todo vapor, a máquina que sustenta os sistemas de corrupção administrativa e os desmandos políticos.

Algumas pessoas que compõem os escalões mais baixos da sacanagem política – as primeiras a serem punidas quando o barco afunda – as chamadas mequetrefes, como disse um dos advogados dos mensaleiros – e que poderiam até trilhar caminhos melhores, se parassem para refletir sobre o lamaçal que é o mundo da corrupção ( cheio de covardia falsidade e desrespeito), optam por continuarem  agarradas aos estropos das ratazanas  do dinheiro público que estão no poder  e claro, morrendo de medo da “corda” quebrar.  E se isso acontecer, sem dúvidas, irão experimentar as migalhas da vida.

“Prevalece um esquema nebuloso e totalitário em boa parte dos poderes públicos, federal estadual e municipal, que paulatinamente ameaça a nossa liberdade, deixando de forma ilusória, através do assistencialismo e muito marketing a ideia de um país livre”

Escolhemos nossos candidatos para nos representar, porém, essa representatividade não existe. O representado – o povo – observa de longe, os políticos tomarem decisões corporativistas, baseadas em interesses alheios aos da população. E assim o país continua com uma das piores distribuições de renda do mundo, uma educação reprovada e o pobre cada vez mais pobre. De que vale o Brasil ter um PIB de 4,4 trilhões de reais, ser a sexta economia do mundo, se muita gente, por aqui, ainda passa fome? É nesse ritmo que estamos caminhando, é assim que estão gerindo nosso país: de olho nas suas riquezas e esquecendo quem mais precisa delas.

A nossa liberdade e cidadania não são as do iluminista Rousseau, mas do pensador ultraliberal Friedrich Hayek. O nosso estado é democrático de direito, mas os poderosos estão acima da lei (espero que o julgamento do mensalão mude o rumo da história). O povo sabe que existe a Constituição, que, aliás, é chamada de Constituição cidadã por garantir de forma ampla algumas das principais reivindicações dos movimentos sociais. Enfim, são de direitos sociais, civis e políticos que, pelo menos teoricamente, lhes assegura uma vida digna, mas muitos, por várias razões, vivem longe dela e próximo da ignorância, amargando uma “vida-morte,” um ser sem ter e sem “ser”.

“A nossa liberdade e cidadania não são as do iluminista Rousseau, mas do pensador ultraliberal Friedrich Hayek. O nosso estado é democrático de direito, mas os poderosos estão acima da lei (espero que o julgamento do mensalão mude o rumo da história). O povo sabe que existe a Constituição  (…)”

A entropia política, ética e administrativa que se instalou no Brasil, defendida por um bando de nefelibatas e analfabetos políticos nos deixa desanimados no que se refere  ao futuro da nação, mas acredito que um dia o povo há de entender que “sempre será assim” se ele( povo) quiser. Se conseguirmos, ainda que de forma lenta, expurgar da atmosfera política os incompetentes, os “vampiros” do erário e seus súditos, com certeza, estaremos dando um passo importante rumo à organização e moralização do país.