Por Paulo  César Gomes, professor, especialista em História Geral e bacharelando em Direito 

A Cidade Provinciana (1º Ato)

A história de Serra Talhada está relacionada diretamente à política. Os fatos atuais comprovam isso, o que nos coloca em uma posição de destaque no cenário regional e nacional.

Mesmo com todo esse prestígio, Serra Talhada ainda vivencia uma prática política ao estilo provinciano, onde quem decide os rumos é o coronel. Nesse processo, extremamente conservador, a cidade se veste com as cores do seu candidato, com entusiasmo de um adolescente prestes a dar o seu primeiro beijo.

É bonito ver a cidade cheia de adesivos e bandeiras com as cores que são determinadas pelos coroneis. O povo é uma euforia só… Porém, a realidade provinciana logo vem à tona.

Ao olharmos o cenário grotesco e retrógrado em que nos encontramos, as indagações e inquietações começam a surgir: é essa a cidade que queremos ? Será que só servimos para levantar bandeiras? Colocar adesivos em nossas casas e em nossos carros? Quando as porteiras serão derrubadas e as vozes dos senhores não mais causarão tormento aos nossos ouvidos e a nossa consciência?

Ao que parece essa é uma realidade que irá perdurar por muito tempo, pois, a cada dia surge um novo coronel. Um coronel moderno, que já não usa botas e anda a cavalo, mas, que continua usando a força e violência.

Força para nos impor escolhas e opiniões que nos levam para atraso a exclusão. Violência que já não é mais corporal, mais que deixa marcas profundas na personalidade e no intelecto.

O resultado dessa fórmula bizarra está aos nossos olhos! Basta observarmos que a cidade ainda possui um aspecto físico dos anos 80 do século passado, o nosso trânsito é caótico, as nossas ruas e avenidas são esburacadas e sem planejamento urbanístico, as nossas praças não são arborizadas… (alguns irão dizer que sim).

Mas como isso é possível se já tivemos presidente da República, ministro de Estado, governador, deputados federais e estaduais oriundos de nossa província?

A resposta é simples: na província, enquanto o povo levanta bandeiras e alimenta a esperança em dias melhores, os coroneis, gozam dos prazeres do poder para se enriquecerem e apenas aparecem em períodos eleitorais com discursos emotivos, lágrimas, declarações de amor e as velhas promessas.

A nós, meros provincianos, só restar esperar que o progresso e a tecnologia cheguem para nos proporcionar uma nova cidade ou, quem sabe, se quebrarmos os cabrestos e aprendermos o valor e a importância do nosso simples e digno voto, conseguiremos banir de vez os coronéis que tornam nossa cidade uma província. 

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