Por Paulo César Gomes, professor e escritor serratalhadense

Em uma semana onde se falou de “mensalão”, do racha de Eduardo com o PT, na possível interdição do mercado público de Serra Talhada, na posse do novo secretário de saúde, na renúncia do líder governo na Câmara de Vereadores… Entre tantos temas polêmicos resolvi escrever estas “maus traçadas” linhas sobre o que considero de maior relevância para a história da cidade, a aposentadoria do deputado Inocêncio Oliveira.

O deputado, que na adolescência foi jogador de futebol e que se formou em medicina, foi alçado na política em uma dobradinha com o então deputado estadual Argemiro Pereira e com o apoio do seu irmão Tião Oliveira. Inocêncio assumiu o seu primeiro mandato em 1974, e desde então foi reeleito para nove legislaturas consecutivas.

Ao longo desses quase 40 anos, o deputado serra-talhadense nunca foi indicado para ser Secretário ou Ministro de Estado e nem disputou eleições para cargos do poder executivo. Porém, entre 1993 e 1995 foi presidente da Câmara de Deputados e por isso pode ocupar a Presidência da Republica por nove vezes. Nessas quatro décadas o republicano se deu ao luxo de estar ao lado de todos os Presidentes da República, a começar pelos Generais da Ditadura e terminado com os antigos desafetos petistas.

O deputado se orgulha de nunca ter sido envolvido em nenhum escândalo de corrupção de repercussão nacional. No entanto, o seu nome foi citado em matéria da revista Veja, de abril de 1993, quando o DNCOS perfurou três poços artesianos nas suas terras, coincidentemente neste mesmo ano a população de Serra Talhada viveu uma das maiores secas da sua história. Além disso, ele foi acusado e depois absolvido pelo STF (Supremo Federal) de manter trabalhadores em regime de escravidão em sua fazenda no estado Maranhão.

Recentemente a revista Isto É relacionou o deputado na lista de políticos que se beneficiaram do programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida. Dono de um estilo próprio, que mescla entre outras virtudes, o “maquiavelismo” nato dos grandes políticos e a “frieza” dos grandes estrategistas, esse fatores fizeram com que pudesse se mover com habilidade no  tabuleiro perigoso da política. Sem contar que a sorte sempre esteve ao seu lado.

O melhor exemplo ocorreu quando ele rompeu com Jarbas Vasconcelos para apoiar Eduardo Campos (PSB) para governador quando o socialista tinha apenas 4% nas pesquisas, o resultado é que Dudu se elegeu, em 2006, e se reelegeu, em 2010. Outra grande faceta de Inocêncio é a facilidade com a qual conseguiu cooptar grandes adversários, como os casos de Augusto César (PTB), Geni Pereira (PSB) e Argemiro Pereira, que após imporem as maiores derrotas da sua careira, acabaram tornando-se seus aliados.

Mesmo com a sua aposentadoria, o nome do deputado ainda será lembrado por muito tempo, não só pelo que fez – as tão faladas mais de mil obras – mas também pelo que deixou de fazer pelo povo sofrido do Sertão do Pajeú. Na verdade, o seu legado só será compreendido na sua extensão e sua demissão com o tempo, sem a paixão dos admiradores e o revanchismo dos adversários. Ao nobre deputado só nos resta desejar muita saúde e que ele seja muito feliz ao lado dos seus parentes, amigos e correligionários!

 

Um forte abraço a todo e a todas e até a próxima!