*Gootemberg Mangueira é professor

O julgamento dos mensaleiros que culminou com a condenação dos seus principais membros, representa um fio de esperança para os brasileiros no que se refere à atuação da justiça quando se trata de investigar, condenar e prender políticos e empresários influentes.
Quando ninguém mais acreditava que José Dirceu, José Genoíno, Marcos Valério e Delúbio Soares iriam pagar pelos seus crimes contra o erário, eis que surge o ministro do Supremo Tribunal Federal-STF Joaquim Barbosa- relator do mensalão- e num ato de coragem, senso de justiça e responsabilidade social condena o quarteto da corrupção no governo de Lula (2002 a 2010).

Sem dúvidas, essa decisão era algo que eles não cogitavam, pois estavam certos de que todos os ministros se comportariam como Dias Toffoli ( ex- assessor de José Dirceu) e Ricardo Lewandowski (tido pelo povo brasileiro como a grande decepção do julgamento) garantindo a onda de impunidade que tanto macula a imagem do Brasil no mundo, nos fazendo, muitas vezes, ter vergonha de ser brasileiros. Em se falando do papel social da justiça, espero sinceramente que as coisas mudem e a sua atuação faça com que os Genoínos e Dirceus da vida reflitam muito antes de meterem a mão no dinheiro público. Não importa se o PT e Lula foram quem mais fizeram pelo Brasil.

Foram eleitos para isso. É preciso entender que fazer algo pela população carente e quase sempre de maneira paliativa, por meio das chamadas “bolsas de efeito assistencialistas” (uma malha implacável de arrastar votos) não dá o direito a nenhum partido de ser corrupto, de formar quadrilha para surrupiar as instituições públicas, sem ter que prestar contas à justiça. Não cabe também a desculpa de que os outros roubaram, mas a bomba estourou nas mãos do PT. Se tivessem sido honestos, diferentes de alguns antecessores, certamente, não estariam aí respondendo por crime de corrupção e outros mais, porém, acharam que dessa vez iríamos engolir uma enorme pizza e“rasgaram a boca”.

Roberto Jefferson (ex-deputado federal e presidente do PTB) delatou o esquema e o barco afundou!! A cultura ultrapassada que arrasa o país conhecida como “rouba, mas faz” slogan de campanha política do ex- governador de São Paulo Adhemar de Barros tem que se acabar. O político deve ser eleito para legislar ou governar e não para “assaltar” o povo. Não existe lei que abone político corrupto ou corruptor ainda que ele seja o queridinho do povão. A corrupção é um mal que precisa ser combatido. Ela custa todos os anos aos brasileiros entre 1,4% e 2,3% do PIB, segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que apresentou em dezembro de 2011, um dos poucos estudos que tentam quantificar o problema.

Se não estivermos de olho na ética daqueles que comandam o país e suas instituições, iremos amargar essa orgia política por longas datas e ficaremos, cada vez mais, distante de sermos uma nação capaz de garantir ao seu povo uma vida digna, livre, autônoma, sem precisar “comer nas mãos de políticos squálidos, sem alma, sem ética e sem moral”. Se o resultado final de todo esse processo que envolve o julgamento do mensalão não corresponder ao que a sociedade espera, certamente estaremos deixando para as novas gerações os espectros de uma democracia e uma justiça que não conseguirão mais sobreviver aos descaminhos políticos deste país, onde a corrupção virou doutrina e a honestidade uma vergonha.