Por Edilson Silva

Rei Midas é um personagem da mitologia grega, um rei que, mesmo muito rico, desejava sempre mais ouro. Seu desejo teria sido atendido e num certo dia Midas acordou tendo tudo o que tocava transformando-se em ouro. Ao ver seus lençóis transformados em ouro gostou muito, mas ao tocar seu primeiro pedaço de pão e vê-lo transformar-se em ouro e ao beijar sua filha e vê-la também transformada numa estátua de ouro, viu que era portador de uma maldição: a “maldição de Midas”.

Contudo, o que se perpetuou foi o “Toque de Midas”. Tudo o que ele tocava virava ouro. Pois não é que Sergio Xavier, o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do governo estadual, quer “reciclar” a mitologia? Quer ser o “Rei Mudas”. Tudo o que ele toca fica verde. É o “toque de Mudas”, o Rei da Clorofila. O governo Eduardo Campos, com o simples toque de Sergio Xavier, ficou verdinho. Do MangueBrita à sustentabilidade ambiental, num único toque.

Leiam o que Sergio teve a coragem de escrever e publicar: “(…) para reverter décadas de degradação, o governador Eduardo Campos está comprometido sim com a complexa implantação de políticas públicas integradas, visando colocar Pernambuco no rumo da economia sustentável do século 21”. Eco-liberalismo é um equívoco histórico e uma inviabilidade sistêmica, mas pode até ser uma proposta sincera. Mas eco-charlatanismo seria inaceitável. Por favor!

Os “avanços” listados por Sergio após a criação da sua secretaria são um desrespeito à inteligência alheia. Ele pegou suas promessas do período eleitoral e colocou o timbre do governo do estado. É lançamento do plano disso, do programa daquilo, só discurso. O secretário incorporou o feio hábito ensinado pelos marqueteiros dos governos, de lançar a intenção de fazer como se fosse programa da gestão e ficar fazendo propaganda. Aí é uma festa para o anúncio da intenção, outra para a assinatura do protocolo, outra para a visita dos gestores ao terreno onde se tem a suposta intenção de iniciar a obra, outra para o lançamento da pedra fundamental, etc. E nisso lá se vão uns quatro anos sem nada de palpável, tempo de novas eleições.

Para mim isto é repugnante! O secretário fala em revitalização da pesca artesanal? Onde? Cadê a Resex (Reserva Extrativista), na área de Sirinhaem a Ipojuca, tão reivindicada pelos pescadores que o secretário sequer recebe? Protótipo de Recicleta? Está sendo testado onde, no pátio da Secretaria? Os carroceiros ainda não experimentaram esta intenção, caro secretário. Projeto de recuperação da faixa de areia das praias? Jaboatão já tinha um plano antes de existir a sua secretaria e pelo que me consta seu governo só faz atrapalhar a concretização por mesquinharia política. Debate público sobre sacolinhas plásticas?

Desculpe, Rei Mudas, mas este debate não foi obra do seu toque. Fortalecimento do Conselho Estadual de Meio Ambiente? Como uma secretaria que não manda nem na CPRH pode arvorar-se a fortalecer um Conselho Estadual? Aliás, a sociedade viu recentemente que a CPRH está sucateada e seus funcionários vivem um enfrentamento cotidiano com a direção do órgão, que é a mesma da época do manifesto MangueBrita. Ou será que um simples aperto de mãos do Rei Mudas também esverdeou o Gurgel?

Plantio de mudas como programa de governo? Isso não é nada original e quem lê este texto sabe que esta prática é tão louvável quanto antiga: plante uma árvore! A novidade boa estaria em não destruir nosso meio ambiente, mas nisto Sergio Xavier está fechadinho com o chefe Eduardo Campos, aterrando manguezais. Não poderia deixar de falar aqui sobre o caminhãozinho elétrico da secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade. Pouquíssima gente percebeu, mas este protótipo, que segundo o auxiliar do governador não emite CO2, está sendo utilizado em Fernando de Noronha, onde a energia elétrica é obtida através de geradores a óleo combustível.

Não acredito que seja má-fé de Sergio, mas desinformação, pois este veículo que roda lá em Noronha é movido a óleo combustível, indiretamente. Ou seja, está lá emitindo CO2, ao aumentar a carga elétrica instalada na ilha. Portanto, seria menos desonesto o secretário dar uma boa desculpa e dizer que ainda está estruturando a sua secretaria, do que ficar inventando factóides, que podem até colar no imaginário de desinformados, mas não enrolam uma oposição atenta e coerente.

Sobre o “sambinha de uma nota só”, trata-se de um clássico, ou seja, nunca envelhece, sempre atual. Meu samba não é modismo de período eleitoral. Prova disso é que estou aqui, onde sempre estive, e Sergio está lá, onde tanto criticou no período eleitoral. Portanto, onde o secretário vê vício no meu sambinha, está a maior virtude: ética e coerência política compõem uma nota só, e não abro mão desta nota, seja por quantos cargos forem. E ofertas não faltaram. Mas o secretário acha que a sua metamorfose permanente é que é uma virtude.

E o pior é que tenta justificar o estilo “lá e cá” com argumentos lamentáveis, como dizer que os que não se submetem aos governos “(…) só ficam no discurso e nunca fizeram nada na vida real da gestão pública (…)”. É mais contradição com o discurso de nova política que o secretário quer incorporar. Quer dizer que os milhares de ativistas e militantes que batalham nos movimentos sociais, ONGs, nas conferências públicas, nos conselhos, debatendo os problemas e apresentando soluções para os mais variados temas da sociedade – e que gestores como você agora não cumprem -, nunca fizeram nada na vida real da gestão pública?

Afirmo e reafirmo, em período eleitoral e fora de período eleitoral: temos que acabar com o monopólio e o abuso dos políticos na gestão pública! Temos que fortalecer as conferências públicas, dar mais força e autonomia aos conselhos, ampliar as consultas diretas por plebiscitos e referendos, diminuir os obstáculos para a apresentação de projetos de iniciativa popular, desidratando o poder dos políticos que ocupam a gestão pública com seus incontáveis apadrinhados em cargos de confiança, como o Sergio Xavier agora, que tem lá à sua disposição 50 cargos. Quantos são concursados, mesmo? Fazer política na oposição é difícil.

É preciso ter uma equipe de resistentes que estejam preparados para viver com “pouca água e pouca ração”, exatamente para não se deixarem seduzir pelas migalhas oferecidas no banquete dos poderosos. Infelizmente, a nota do secretário mostra um político tradicional, conservador e ideologicamente envelhecido, que não consegue ver-se desapegado das arcaicas estruturas do poder.

E ele não pode nos acusar de não ter-lhe dado um voto de confiança e a oportunidade de mostrar mesmo para a oposição que poderia ser um oásis verde no meio do governo. Sinto muito caro Sergio, não vai aqui nada de pessoal, você sabe, mas não posso lhe desejar sorte lhe vendo servir desta forma a um governo tão charlatão. Para evitar novos apagões no manifesto MangueBrita no blog do Sergio Xavier, vou mantê-lo no meu, assim não corremos o risco de esquecer como o Rei Mudas – um apelido carinhoso -, era outro no curtíssimo período em que foi oposição.

Edilson Silva é presidente do PSOL-PE e membro do Movimento Ecossocialista de Pernambuco