Simpática, pequena, franzina e comunicativa. Eis o perfil da professora aposentada Benona Nunes de Oliveira, 89 anos, tia legítima do deputado Inocêncio Oliveira (PR). 

‘Dona Benona’, como é mais conhecida em Serra Talhada, gosta de preservar suas origens e por isso, ainda hoje, não abre mão de viver na mesma casa onde nasceu, em 1923, no tempo em que o cangaceiro Lampião mandava e desmandava no Sertão. A residência dela mantém as características originais da sua construção.

Dona Benona vivenciou o tempo da palmatória e confessa que nunca precisou da repreensão. Ao contrário de alguns colegas da época, que perdiam o fôlego de tanto apanhar. Abrindo um baú de memórias, a  tia do deputado Inocêncio Oliveira fez questão de esclarecer, com conviccção, que pela palmada que fosse, a mais forte delas, o que fazia doer mesmo naquela época era a política.

“Eu vivi uma época em que a política era de tirar o fôlego. No período de Enoque Inácio, que estava de um lado, e que apoiava João Cleofas, e do outro lado, na oposição, o PSD de Agamenom Magalhães. A turma de Enoque era chamada de ‘boca preta’ (risos). Havia muita briga no período de campanha, ao pontos das pessoas se intrigarem. O clima era horrível na cidade por conta disso. Mas depois tudo ficava numa boa”, relembra.

Dona Benona revela que, na juventude, a relação professor e aluno era completamente diferente dos tempos atuais. A oração e o amor à pátria eram regras que não podiam ser quebradas nas escolas. “Se rezava antes de entar em sala de aula e também cantava-se hino nacional”.

Didática ao falar, Benona Oliveira tem orgulho em dizer que foi uma das primeiras professoras da escola Imaculada Conceição, uma das mais tradicionais da cidade, e a primeira diretora do Colégio Cornélio Soares – antigo Industrial.

“No Imaculada Conceição as alunas vinham e vestiam o fardamento no banheiro da escola. E quando eu dirigi o Cornélio Soares, fazíamos o mês de maio (oração mariana). Mas tudo isto acabou”, lamenta, informando que passou 31 anos como educadora. Ela aposentou-se em 1952. A professora é uma leitora contumaz e tem preferência pela literatura religiosa. “Na realidade eu queria ser freira. Hoje,  rezo muito e leio tudo que se refere a igreja”. 

Benona Nunes de Oliveira tem dificuldades de andar, por conta da idade. A audição também não é mais a mesma. No entanto, os gestos e a forma como conversa revelam que a juventude ainda está ali, viva, preservada na casa, no coração e nas palavras. Dona Benona irradia simpatia e tem a certeza do dever cumprido na história de Serra Talhada. “Acho que fiz a minha parte”, resume, sorrindo.

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 CASA DE DONA BENONA

 

 Foto: JSFotografia