Publicado às 11H40 deste sábado (12)

O mês de junho é marcado por muita luta e amor. É o mês mundialmente conhecido como o mês do orgulho LGBTQIA+, graças a uma rebelião ocorrida em 1969 em Nova York, nos EUA. No Brasil junho também é o mês do dos namorados e de resistência, com isso o Farol de Notícias entrevistou o casal Francisco de Paula, 55 anos, e Augusto Lux, 44 anos, para saber um pouco mais dessa linda história de amor que foge aos padrões e que, por isso mesmo, é a prova do quanto o coração nos faz vencer barreiras.

Francisco de Paula e Augusto são artistas. Moravam em Recife e uma certa noite saíram para dançar, beber, se divertir com os amigos, não tinham em mente ter um relacionamento, mas, como em um filme, eles se encontraram e foi mais do que algo físico, foi um encontro de almas. “Esse foi nosso primeiro contato, passou o tempo a gente se reencontrou. Na época eu trabalhava na emergência de um hospital em Recife, por coincidência, que na verdade nada é coincidência, ele foi lá para ser atendido, passou mais um bom tempo e a gente se reencontrou novamente no mesmo bar do primeiro encontro”, afirmou Francisco.

Augusto acrescenta: “Eu lembro que ele chegou e pegou nos meus ombros e disse ‘achei você, estava te procurando!’, aí ele olhou para o amigo dele e perguntou: ‘Não é verdade, eu estava procurando por ele, não é?’, me deu um beijo no rosto e perguntou se eu estava namorando, eu disse que não e então ele me deu um selinho e disse ‘me liga’, no final da noite acabei ligando e nos encontramos e então começamos a namorar”, detalhou Augusto. Apesar de toda a pressão que a comunidade gay sofre, o estilista Francisco de Paula afirma que, por ser de Recife, não sentia tanto medo.

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ACEITAÇÃO

Também relata que se assumir em casa foi algo que aconteceu gradativamente e teve muita sorte de ter uma família acolhedora. “O universo gay em Recife é bem mais aberto, você encontra casais gays em qualquer horário do dia em Recife, a cidade tem uma visão cosmopolita. Eu fui passando isso gradativamente, no caso da família dele (de Augusto) é mais que é mais aberta foi mais natural, na minha nem tanto, apesar de meu pai sempre ter tido uma cabeça muito boa, sempre me levou para as boates que na época chamavam de GLS na época e sempre dizia quando for para casa me ligue que venho lhe buscar”, ele nunca criticou meu comportamento”, ressaltou o estilista.

O CASAMENTO E A SOCIEDADE

Augusto é ator e produtor de arte e viu em seu companheiro um grande talento que estava adormecido, então começou a levá-lo para trabalhar nas produções teatrais. “A gente não só casou de forma emocional, como de forma profissional e começamos a trabalhar juntos também”, afirmou o produtor de arte. Francisco começou a produzir figurinos e cenários e se encontrou nesse universo, hoje é estilista de renome e ama o que faz.

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“Sempre fiz uma coisa aqui, outra ali, organizava casamento de amigas, no carnaval sempre tinha um grupo de amigos que a gente se juntava eu dava algumas ideias, porque eu sempre entendi muito de costura e tecidos e eles não, eu sempre conduzia, dava um norte a ideia em comum, nada era profissional. A partir do momento que fizemos sociedade as coisas foram fluindo, eu trabalhando na parte de figurino e cenografia”, disse Francisco. O destino estava traçado e uniu o casal da melhor forma possível, com a arte. “Ele pôde colocar o lado artístico dele em uma atividade intensa e profissional a partir do nosso casamento, ele já era das artes”, completou Augusto.

A VINDA PARA O SERTÃO

Quando decidiram morar em Serra Talhada, Francisco e Augusto tinham uma ideia muito diferente de como seria a convivência aqui na terra de Lampião, mas se sentiram tão acolhidos que resolveram ficar e hoje trabalham na cidade com o que mais gostam. “A ideia que o recifense tem do sertão não é uma ideia exata, não condiz com a realidade, chegando aqui eu achei muito bom, a aceitação de ser um casal gay aqui em Serra foi tranquila, algumas pessoas percebem, outras não sabem, algumas perguntam, aqui as coisas são boas, leves, sempre fomos bem recebidos nos lugares e pelos vizinhos”, frisou Francisco.

SOBRE O AMOR

No amor é preciso que exista verdade, companheirismo e amizade, essa é a fórmula usada pelo casal que todos os dias se renovam. Augusto e Francisco deixaram mensagens para os jovens apaixonados. “Até hoje eu sempre passo a ideia de que você tem que ser o que você é, siga sua natureza, não siga o que o pai, a avó, tio querem que você siga, você tem que seguir sua própria natureza, eu tenho certeza que quando a gente segue nossa própria natureza tudo é maravilhoso”, aconselhou Francisco. Augusto completa:

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“Eu destaco que o amor é muito importante, damos muito destaque ao amor no casamento e no namoro, mas acima dele existe o amor de mãe, depois a amizade, depois é que vem o casamento, a amizade é o grande fator, no nosso caso o casamento é real porque existe a amizade, a parceria, é como se fosse dois irmãos, é chegar nesse estado de amizade que é um objetivo e a gente conseguiu isso.”

Companheirismo, respeito e muito amor selam esse relacionamento que vai além dos padrões que foram impostos pela sociedade. Neste dia 12 de junho se comemora o dia dos namorados e durante todo o mês a bandeira que tem a cor do arco-íris é levantada mundialmente para pedir mais respeito a toda comunidade LGBTQIA+, viva o respeito, celebre a vida e considere justa toda forma de amar.