Fotos cedidas ao Farol de Notícias

Publicado às 04h23 desta sexta-feira (6)

O fazer jornalístico é um constante exercício de estar sempre de olhos e ouvidos atentos ao que acontece ao nosso redor. E um bom repórter sempre tem que ter a sorte de encontrar boas histórias em qualquer canto da cidade. Pois bem, nessa quinta-feira (5), em um salão de beleza, arrumando os cabelos para ir para o show de piseiro, estava um grande exemplo de mulher sertaneja, uma serra-talhadense que largou a formação em Ciências Contábeis para se dedicar ao sonho de ser eletricista.

A eletricista plantonista Regina de Marillac, de 39 anos, casada e mãe da jovem Júlia Cecília atua há dois anos e meio, atuando na região do Sertão da Itaparica, atendendo a territórios indígenas e ilhas. Em um bate papo descontraído, Regina foi revelando as emoções e as dificuldades que enfrentou para apostar na nova profissão, que hoje é motivo de orgulhos para toda a sua família.

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Filha de uma professora e um tratorista, Delma Inácio e José Simão. Dentre as grandes inspirações também está sua avó, Lala Pajeú, uma pescadora do Açude do Ipa, figura de rostinho simpático que com muita garra criou oito filhos com o seu pescado e é o maior símbolo de luta e sabedoria para as mulheres da família de Regina. Legado que pretende deixar para sua filha.

“Sou daquelas equipes que trabalham dia e noite, o pessoal liga e a gente vai lá resolver aquelas bronquinhas que aparecem. A profissão de eletricista foi uma oportunidade. Hoje eu atendo muito ocorrências do que o pessoal popularmente chama de ‘canela arriada'”, explicou Regina, com muitos detalhes técnicos das suas ‘espertices’ profissionais, que esta escriba desconhece.

ILUMINANDO OS TERRITÓRIOS INDÍGENAS

Com os olhos marejados de boas lembranças, Regina relembrou a primeira vez que foi a campo para fazer um atendimento. Estava indo para um atendimento e precisou atravessar o Rio São Francisco de balsa para chegar ao local. Uma das principais características de seu trabalho, muitas comunidades indígenas tem a assistência da energia elétrica passando pelas mãos da serra-talhadense.

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“Meu maior desafio, atravessar o rio com uma balsa para ir ajustar uma energia. Para mim foi emocionante, foi difícil, até porque é uma área que a gente conhece como área perícula, mas foi tranquilo. Um dos primeiros trabalhos que eu fiz e isso marcou minha vida, e ali eu descobrir que era isso que eu queria para minha vida. Imagina você ir com seu parceiro de trabalho resolver uma situação e iluminar a vida daquelas pessoas, e quando eles veem e dizem, foi a mulher que consertou, aquilo ali não tem preço”, comemorou.

 

IGUALDADE DE GÊNERO

Apesar das dificuldades da profissão e dos tabus de ser um espaço masculino, perigoso, a eletricista Regina Marilac trabalhou muito duro para conquistar esse espaço. Por pouco não conseguiu assumir o cargo, mas com dedicação e coragem, hoje ela é a única mulher que atua em sua região e faz parte do grupo de 100 mulheres eletricistas de Pernambuco.

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“Eu moro aqui e em Floresta, passo seis dias lá e três aqui em Serra. Nós fazemos parte de um projeto pioneiro, quando eu comecei só tinham 8 meninas, eu fui a nona. Em dois anos e pouco já somos 100. Então foi um avanço bem significativo, nunca sofri preconceito por ser mulher, me sinto realizada e meus colegas me respeitam e não tem essa de facilitar só porque é mulher. É de igual por igual. Aqui em Serra Talhada tem cinco mulheres trabalhando, lá em Floresta eu sou a única. O que precisamos é que mais mulheres ingressem nesse espaço para que ele se torne cada dia mais igualitário”, encorajou.