Publicado às 18h56 desta terça (16)

Com informações da repórter Jéssica Guabiraba, do Farol

Atuando sozinho para dar conta de pacientes advindos de Serra Talhada e toda a região em situação de emergência adulta e pediátrica e ainda ter que dar conta da demanda de todo o setor clínico, um médico do Hospam telefonou, revoltado, para a reportagem do Farol de Notícias.

Ele alertou sobre o absurdo de estar acumulando vários serviços quando na verdade outros profissionais não estavam dando seus plantões no mesmo horário e, ainda mais, a direção do Hospam sequer atendeu os seus apelos. O profissional, que pediu para não ter o nome divulgado, solicitou e recebeu a nossa reportagem dentro próprio Hospam, onde gravou um desabafo indignado.

A situação extrema de ausência de médicos plantonistas, acúmulo de funções, omissão da Direção hospitalar, e falta de estrutura de trabalho culminou em ameaças contra o médico por parte familiares de pacientes. “É preciso abrir o olho do pessoal, não é má vontade minha de fazer o atendimento até porque nos horários em que estou aqui no Hospam eu não saio. O problema é que eu não tenho suporte”, disse o profissional em tom de desabafo, detalhando:

“Eu preciso de exames e alguns exames eu não tenho, eu preciso encaminhar uma paciente para uma avaliação eu não tenho, preciso de avaliação de uma especialista e às vezes eu não tenho aqui… Falando de um caso de um paciente enfartado, eu consegui fazer o eletro de um paciente, mas preciso de três enzimas cardíacas, Troponina, CPK e CKMB. Eu tenho duas. Uma eu não tenho. Então CPK eu não tenho. Então já dá uma alteração aí e eu não posso fazer a investigação da maneira que eu quero. E a culpa cai para cima da gente, a gente é ameaçado, é xingado, recebe críticas…”.

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OMISSÃO DA DIREÇÃO DO HOSPAM

De acordo com o médico denunciante, várias tentativas são feitas para coordenação do Hospam, mas nunca são respondidas. “A gente tenta falar com o pessoal da coordenação, quando fala com a direção a direção simplesmente não atende. Então, a gente não tem como solucionar, eu queria muito [solucionar], mas não dá, eu só vou até onde eu alcanço. A questão é mais de organização da Direção mesmo, eu fico sozinho aqui no hospital. O cirurgião chega a hora que quer, isso quando vem… A gente fica recebendo toda a demanda dos municípios próximos e a demanda do hospital”, alertou.

MÉDICO FOI AMEAÇADO

“Eu recebi dois pacientes graves encaminhados para cirurgia, uma paciente com hérnia encarcerada e um paciente com quadro de apendicite, e esses dois pacientes não foram atendidos por que não tinha cirurgião. Então eu fui ameaçado pela filha de um paciente, ela me gravou e me filmou, mas eu não posso fazer nada e a Direção [do Hospam] omissa, que não diz nada sobre isso, e não informa à Central de Regulação que não tem cirurgião, daí eu tenho que ligar para a Central de Regulação, demoro 40 minutos numa ligação para tentar reencaminhar o paciente, porque para todos os efeitos, a Direção do Hospital avisa que existem dois cirurgiões de plantão, veja a perda de tempo que tem porque a Direção não informou à Central”.

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“NÃO CONSIGO FAZER UMA CIRURGIA DE HÉRNIA E NEM ENCAMINHAR O PACIENTE”

“Fica [pra mim] a demanda da cirurgia, a demanda da pediatria e a demanda ainda dos pacientes que estão internados na emergência geral. A gente tem uma sala vermelha com pacientes graves só tem suporte para dois pacientes, tem uma sala amarela que na teoria funciona com três leitos masculinos e três leitos femininos, mas não funciona isso. E tem a sala verde, e agora, neste momento eu estou com um paciente enfartado na sala verde, que deveria estar na sala vermelha. Entende? É questão organizacional, temos um paciente com enfarto na sala verde, era para estar na sala vermelha, é um paciente que precisar estar monitorizado, precisa de uma atenção especial, e a culpa só recai para cima de mim. E eu sou cirurgião e não tenho como fazer uma cirurgia de hérnia e ainda não consigo nem encaminhar [o paciente para outra unidade].”

“É 7 HORAS O PLANTÃO, CHEGAM ÀS 14H”

“Como clínico só tem eu de plantão, os dois cirurgiões não vieram, eu não sei por qual motivo, os cirurgiões aqui da terça chegam às 14h. Começa às 7h da manhã o plantão, e ele chega às 14h. Por exemplo, um paciente com um corte, ou uma lesão, passa o tempo de homeostasia, de 4h a 8h, se o paciente levou corte às 7h, após 4 horas do tempo [do corte], não dá para suturar, se não tem uma pessoa para fechar aqui então vai ficar aberto. Não tem como dá suporte um só clínico para a demanda, até agora eu já atendi 130 pacientes só da clínica, sem contar a cirurgia, a pediatria, paciente grave que vem de fora e paciente internado”.

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“EU LIGUEI 9 VEZES PARA A DIREÇÃO”

“Eu tentei ligar para minha direção, ela saiu de 13h, e a outra diretora… Esse é o telefone da nossa diretora, eu liguei 9 vezes para ela, qualquer problema que eu tenho com a direção eu não consigo contato, em nenhuma das ligações eu fui atendido então isso é uma direção omissa.”

O OUTRO LADO

O Farol tentou contato por telefone com o diretor do Hospam, João Antônio, para esclarecimentos diante esta grave denúncia, mas não obtivemos retorno.