Publicado às 5h52 deste domingo (18)

Um recifense dedicado ao Direito, apaixonado por filosofia e música. Traçamos neste domingo (18) no quadro FAROL DOCUMENTA o perfil do Juiz Federal Felipe Pimentel que atua há 6 anos na Capital do Xaxado, no Tribunal Regional Federal, na 38° subseção de Serra Talhada localizada no bairro AABB.

A nossa procura para um encontro com o magistrado não foi aleatória. Dr. Pimentel vem atraindo muitos seguidores e admiradores mostrando um talento que o condiciona para muito além das páginas processuais. A música o abraçou e fez dele um importante porta voz.

Com certa frequência, Dr. Felipe Pimentel expõe o seu dom artístico cantando e tocando diante um outro tipo de “tribunal do júri”, as redes sociais, por meio do Instagram “Papo de Juiz, papo de filósofo”. E, assim, mescla Direito, filosofia e arte encantando muita gente.

O JUIZ COM VEIA ARTÍSTICA  

Dr. Felipe Pimentel sente que a música faz parte da sua identidade familiar e em nenhum momento se fez ausente em sua vida. Muitas vezes no seu cotidiano se lembra de uma canção e logo vem a vontade de tocar em seu violão e cantar. “É um amor que eu acredito que vai passar para frente também, de mim para os meus descendentes”, afirmou.

“Meu avô paterno era músico e ele passou esse ofício para vários filhos dele e os filhos passaram para os filhos, a música é presente na minha vida desde sempre, eu lembro de quando eu era criança vê meu avô estudando, o meu tio, então a música não era uma opção, eu estava em uma família que tinha determinada profissão e que eu tinha que aprender, então desde muito cedo eu fui encaminhado para isso”, detalhou Dr. Felipe, acrescentando:

“Fiz conservatório de música, primeiro na infância, depois na adolescência e existia na minha família um certo rancor com relação a música, é um paradoxo, você tem o rancor e tem o amor também, o amor porque a música é linda, nos alegra e o rancor porque as pessoas da minha família observavam que aquele que estudava, aquele que fazia boa música não tinha o reconhecimento social e nem financeiro adequado, então eu cresci muito com essa ideia, música não dá certo, você não ganha dinheiro, então a música ficou num plano da minha vida secundarizado, mas sempre presente”.

BANDA E A ARTE DE COMPOR

Quando adolescente o juiz teve banda com os amigos e tem algumas músicas autorais, “Tem uma ou outra música que eu fiz e registrei, mas assim, são coisas que eu acredito que tem uma característica, sou perfeccionista, então eu faço aquilo e às vezes eu gosto daquele momento, daqui a 3 dias eu não gosto, 12 anos depois eu acho ridículo, depois eu reescuto e acho legal, mas é uma coisa que eu faço mais para exorcizar determinados sentimentos, determinadas emoções, tentar promover um retrato daquela época da minha vida”.

Dr. Felipe Pimentel se considera uma pessoa introvertida e que se expressa através da música, mas afirma que ele não é único na magistratura. “A magistratura federal daqui tem vários músicos, escritores, poetas de grande gabarito, grandes fotógrafos, a magistratura é permeada de pessoas que têm essa ligação com a arte, porque a arte é inerente a nossa condição humana, eu não sou exceção nesse aspecto, talvez seja exceção no aspecto de gostar de me expressar nas redes sociais”, explicou o juiz federal.

VISÃO PLATÔNICA E ACEITAÇÃO

“Eu tinha uma visão tão platônica do juiz que em um determinado momento da minha preparação eu achei que não teria o predicado para ser aquela figura platônica, simbólica, o suprassumo da sabedoria que estava ali, eu até pensei que não teria essa qualidade, pensei em fazer outro concurso, mas não consegui desistir desse sonho e virei juiz, o que eu constatei é que os juízes são seres humanos que têm defeitos, qualidades, têm gostos, têm ideologias, têm paixões e que o fato de eu me identificar também com a arte e com a música não destoava tanto assim, desde que eu soubesse que meu ambiente de trabalho, onde eu exerço o meu ofício eu devo seguir as normas éticas, a forma de conduta no exercício do meu trabalho exige e que aquela simbologia que há na figura do juiz ela exerce um papel importante de qualidade e respeitabilidade em relação a sociedade como um todo”.

TRAJETÓRIA DE LUTA

“Eu venho de uma família de Recife, mais especificamente da periferia recifense, passei minha infância nos bairros do Pina, Brasília Teimosa, Jardim São Paulo e essa minha família é muito grande, tipicamente pobre, eram muitos filhos e os tios são extensões dos pais, minha mãe teve 12 irmãos e um desses irmãos é muito presente na minha vida e ele apesar das dificuldades conseguiu superar, se tornou um médico e durante minha infância e adolescência ele contribuiu muito com minha educação, tanto do ponto de vista comportamental, quanto do ponto de vista financeiro, ele acreditou e proveu uma educação de qualidade para mim e nesse momento eu já comecei a pensar no futuro”, detalhou Dr. Felipe Pimentel acrescentando:

“Então eu pensei no curso de Direito e fui incentivado pelos familiares, porque o curso sempre forneceu um leque de opções muito grandes em termo de profissões, e profissões que oferecem uma certa estabilidade financeira, raramente você vai ficar rico exercendo uma função pública, mas você vai ter uma certa segurança financeira. Eu tive uma relação de amor com direito inicialmente, até por conta da figura platônica do juiz, eu achava, como ainda acho uma função muito bela, uma função sagrada e que exige predicados que nos tornam uma pessoa melhor, autocrítica, reflexão, estudo, compaixão, empatia e tracei esse caminho na minha vida”.

ABRAÇANDO O DIREITO E SERRA TALHADA

Ainda quando cursava direito, Dr. Felipe já se preocupava com o que o futuro e por isso já no quinto período começou a se preparar para concurso, sua dedicação não foi em vão. Assim que se formou já assumiu o concurso de Procurador do Estado de Pernambuco onde atuou por pouco mais de 3 anos. Em 15 de janeiro de 2014 tomou posse no cargo de Juiz Federal e em outubro do de 2015 veio para Serra Talhada

“O povo de Serra Talhada é um povo tipicamente amigável, um povo muito confortador, um povo que sabe receber bem as pessoas, um povo muito prestativo, então desde que cheguei, tanto por parte dos servidores da vara que são naturais de Serra Talhada, quanto por parte de outras pessoas eu fui muito bem acolhido, respeitado, ajudado em qualquer necessidade que eu tive nesse período, eu tenho um carinho muito grande pela cidade e pelas pessoas dessa cidade”, afirmou o juiz.

VISÃO HUMANÍSTICA

Dr. Felipe deixa um conselho para a nova geração que pretende ingressar no curso de Direito: “Eu diria que a magistratura como um todo, não só a federal precisa de pessoas idealistas, comprometidas, estudiosas, autocríticas, e que conheçam para além do Direito outras realidades sociais, se você tem esses predicados ou quer desenvolver, estude e venha para a magistratura porque a gente está precisando muito de vocês”.

Da sua origem humilde da periferia do Recife, ele tira lições que o ajudam até hoje a trilhar o árduo caminho de juiz federal.

“Então essa vivência, conhecer as classes mais baixas da sociedade, me ajuda muito isso e o fato de se manter sempre estudando, não só o direito, mas se manter estudando questões sociológicas, questões políticas, questões históricas do nosso país, para que a gente possa compreender que a lei não é colocada em um lugar vazio, ela é colocada dentro de um país que tem pouco mais de 500 anos e tem uma história incrivelmente suja de escravidão, de desigualdade, de pobreza, então, essa pré-compreensão fundada no estudo e na vivência no interior, lhe garante segurança para quando julgar tentar ver para além daquilo que seria uma interpretação literal da lei, interpretação que eu acredito ser disfuncional da lei”, ensina Dr. Felipe Pimentel.

A FILOSOFIA EM SUA VIDA

Na vontade de saber o que é o conceito de justiça, desde muito novo Dr. Felipe estuda filosofia. A disciplina o inspira até os dias de hoje. Mestrando pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto em Portugal na área de Ética e Filosofia, Dr. Pimentel dia a dia busca se aprofundar nas mais complexas questões da humanidade.

“Tenho contato com a filosofia desde a adolescência, fiz Direito e quando eu era procurador do estado eu comecei a me deparar com o seguinte questionamento, que é o questionamento que todo mundo que procura fazer Direito: “o que é a justiça?”, como eu faço a justiça? Reparei também que estudantes de Direito em geral colocaram esses questionamentos filosóficos num plano muito secundário e se preocupam mais com a aplicação da lei com a resolução do conflito do que com a resolução justa do conflito”, explicou o magistrado, acrescentando:

“Comecei a estudar justiça naquele momento, justiça sob o ponto de vista filosófico e comecei a me apaixonar mais ainda por essa área, “o que é a justiça?”, “o que é essa coisa que nos move desde criança até a morte e todos almejamos um dia ter e fazer?”, isso me levou para a filosofia, mais especificamente para a filosofia moral e filosofia política e essa identificação cresceu com os anos ao ponto de eu decidir realizar o meu mestrado nessa área, estudando especificadamente teorias de justiça”.

A RELAÇÃO COM AS REDES SOCIAIS

Além de cantar e falar de filosofia, Dr. Felipe Pimentel também promove lives em suas redes sociais para levar conhecimento da área de Direito e acredita que essa nova era da comunicação pode ajudar as pessoas de diversas formas.

“Eu acredito que a forma de comunicação em redes sociais em alguns anos vai se tornar para além da realidade, uma necessidade prática da nossa vida, então eu tenho que aprender a me comunicar de forma eficaz nesse ambiente virtual e a prática que nos leva a aprender algo de modo eficaz, então eu resolvi entrar nas redes sociais para tentar de alguma forma conseguir entender aquele mecanismo e me comunicar com relação aquilo e aprender, se for o caso, ensinar também fazer com que aquele instrumento tenha uma finalidade que possa de alguma forma me engrandecer como pessoa, como profissional e repassar para a sociedade aquilo que eu posso de alguma forma repassar de forma contributiva. As lives eu faço a maioria delas levando em consideração o que eu entendo ser um interesse público, por exemplo, estamos em pandemia eu fiz uma live sobre home office”, detalhou.

O seu Instagram é: @prof_felipepimentel

NO VÍDEO ABAIXO, Dr. FELIPE TOCA VIOLÃO, CANTA E FALA DE SUA TRAJETÓRIA. ASSISTA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA